Álvaro Guerra

Entrevista conduzida por Batista-Bastos -  "Público" (1994)

ENTREVISTA COM CARLOS BRITO

Carlos Brito, da resistência à liberdade
A Revolução Afunda-se e Avilta-se com o Estalinismo

A história da resistência, através de cada circunstância, seja moral, política ou ideológica, não tem outro fim senão o de querer-se a si própria livre. O resistente começa por se vencer a si mesmo, antes de se alistar no exército das sombras, nesse mundo lateral de silêncio e de temeridade construído para vencer o tirano. Não é um capricho: é uma decisão individual. É um momento de escolha que se associa, depois, a um compromisso. Mas é preciso acentuar a relatividade de tudo. É preciso acentuar o carácter de insubmissão e de revolta que essa decisão implica e justifica. O resistente não procura a fortuna nem a glória; o resistente não espera a honraria, a medalha, o aplauso. Envolve-se numa luta desigual pelo singelo desejo de ajudar a modificar as coisas, os sistemas e as mentalidades. Na longa batalha pela liberdade em Portugal, o PCP tem um lugar de grande relevo. O partido dos torturados. O partido que encarnou a liberdade no cárcere. O partido que criou a urgência do compromisso, que alimentou uma cultura, que criou uma moral, e que, com a força dos actos e das palavras, passou da epopeia para o mito, e do mito para o panteão sagrado da nossa memória colectiva. Homens e mulheres que renunciaram a tudo, menos à renúncia da honra.

"A honra é o que preenche o vazio do medo. Todos os homens têm medo. A honra dos homens é vencer o medo. A honra é o que nos resta quando tudo parece perdido. A honra e as convicções."
Carlos Brito, 66 anos, 45 de militante, fala com uma sorridente serenidade. Tudo nele é ameno, tranquilo, suave. Mas pressente-se-lhe a força de uma vontade inexpugnável. E a presença secreta de uma experiência inigualável, que o pudor impede de reflectir. Conversamos na manhã clara de Lisboa.

BAPTISTA-BASTOS - Onde estava no 25 de Abril?
CARLOS BRITO - Em Lisboa. Era o responsável pela organização regional de Lisboa e Oeste, do PCP. Nesse dia, estava numa reunião com a direcção da UEC (União dos Estudantes Comunistas). Tive a informação de que o movimento ia sair, no dia 23 de Abril. Não resisti a dar um lamiré ao camarada que me transportou para a reunião...

P. - Quem era esse camarada?
R. - Era um estudante de Medicina. Disse-lhe: "Amanhã vens-me buscar às tantas horas, quer o fascismo caia, quer não." E ele foi lá buscar-me, à hora combinada. Entretanto, envolvi-me noutro processo.

P. - Quem estava presente nessa reunião da UEC?
R. - Era a direcção da UEC de então: a Zita Seabra, o José Roupiço e uma camarada chamada Maria da Graça. Sabia da revolução por fonte segura. Já tinha havido uns adiamentos e estávamos naquele cepticismo, proveniente dos 45 anos de resistência ao fascismo, do que já tínhamos vivido, daquilo que ouvimos dos mais velhos. Nessa noite, os camaradas que estavam comigo ficaram admirados, porque, em lugar de começar a reunião, propus que, antes, fizéssemos uma partida de cartas. E foi de madrugada que ouvimos o primeiro comunicado. Aquilo foi uma coisa impressionante. Estávamos os quatro a uma mesa e começámos a levantar-nos, enquanto relatavam o comunicado e, quando este foi lido, já estávamos todos de pé. Não tive a mínima dúvida de que se tratava de um golpe progressista, e não dos ultras do regime fascista.

P. - Porque é que não tinha dúvidas?
R. - Nós tínhamos organizações que mantinham contactos com militares. Os comunistas que estavam nas Forças Armadas mantinham-se organizados. Eu era uma das pessoas que acompanhava essas organizações. Fomos recebendo as informações a par e passo, desde que o MFA começou a discutir o golpe, até à elaboração do programa. O PCP tinha informações de tudo o que se passava no MFA. A natureza progressista do golpe até foi confirmada pelas canções que anunciavam o movimento, e pelos seus intérpretes. Saí dessa reunião da UEC, em São Domingos de Rana, e comecei a contactar com os elementos da organização regional de Lisboa. Encontrei-me, em Carcavelos, com um camarada que me transportava e fiz os contactos com os nossos elementos essenciais. Passei pelo Cacém, falei com um camarada que organizava os operários metalúrgicos, que foram fundamentais, disse-lhe que era preciso ir para o Largo do Carmo, e para Caxias exigir a libertação dos presos políticos. Passei pela Amadora, por Lisboa, Alverca, Loures, a fim de juntar todos os camaradas. Nessa mesma noite, fizemos uma reunião, em que preparámos o primeiro comunicado, saudando o MFA e afirmando que era necessário democratizar até ao fim.

P. - Qual era o contacto que tinham com o dr. Álvaro Cunhal?
R. - O Cunhal estava no estrangeiro. Era a comissão executiva do PCP que fazia os contactos. Havia um camarada da comissão executiva, o Joaquim Lobo dos Santos, que fazia a ligação entre mim e o Cunhal. As direcções regionais tinham uma grande autonomia, dadas as condições da ditadura, e deviam reagir rapidamente, tendo em conta os acontecimentos, seguindo as orientações gerais.

(Nasceu em Lourenço Marques, há 66 anos. Mas considera-se algarvio de Alcoutim, para aonde foi, miúdo, e onde hoje reside. Duas filhas. Três prisões. Soma: oito anos de cadeia. A primeira, em 1953, ainda não militava no PCP, partido de que é membro desde 1954. Foi líder parlamentar, director do "Avante!", integrou a Comissão Política e é membro do Comité Central. Sabe que se manifesta uma tendência acentuada para a revisão da História. Sabe que a História é uma disciplina frágil, sujeita a falsidades, a manipulações e a remendos. Mas também sabe que a História não se cala. Um dos livros de Carlos Brito, "Tempo de Subversão", é a narrativa exemplar, e, amiúde, emocionante, de uma vida marcada por um destino inusual, mas a que o autor não atribui uma singularidade mais distinta do que a milhares e milhares de portugueses que se alistaram nas legiões clandestinas da liberdade.)

P. - O que o leva a militar no PCP?
R. - Nasci em África por acidente; o meu pai estava deportado, fez parte do directório da Esquerda Democrática, do José Rodrigues dos Santos, e tinha participado na revolução de 1927. Foi preso e deportado para Lourenço Marques. Vivi sempre num ambiente democrático. Embora o meu pai e a minha mãe estivessem separados, os amigos do meu pai sempre me acompanharam. Sempre fui uma pessoa da oposição ao regime. O PCP aparece-me como uma forma de militância e resistência ao regime. O MUD Juvenil e o PCP surgem naturalmente. Evoluí das minhas posições abstractas de democrata e antifascista, para as doutrinas marxistas. A leitura do Jorge Amado, dos neo-realistas americanos, foi, para mim e para todas as pessoas dessa época, muito importante na minha evolução. A literatura é que me aproximou dos ideais comunistas, aos quais aderi, de alma e coração. Quando fui preso pela primeira vez, em 1953, ainda não era do PCP.

P. - É preso porquê?
R. - Porque fiz parte de um grande grupo, que foi esperar a Maria Lamas ao aeroporto de Lisboa. Ela é presa, e as cinquenta e tal pessoas que estão à espera dela, também são presas. Prenderam essas 50 pessoas, porque esperaram que as outras fossem dispersando, até chegar a esse número. Como já tinha relações com o MUD Juvenil, fiquei preso durante mais tempo.

P. - Que nomes teve durante a clandestinidade?
R. - Vários: Abílio, Luís, Ricardo. Fui Ricardo durante muito tempo. Quando estive preso em Peniche, havia lá um guarda, chamado Ricardo, que era a coisa mais boçal que possa imaginar, de modo que cortei com esse nome.

P. - A circunstância de usar outro nome, na clandestinidade, obriga a uma total alteração no comportamento. Se alguém o chamasse pelo seu nome verdadeiro, você não podia voltar-se.
R. - Aconteceram várias histórias assim. Era muito difícil arranjarmos uma casa clandestina, tínhamos extremos cuidados na sua defesa; não éramos vistos por ninguém conhecido, perto da casa. Nessa altura, tinha uma casa na Pontinha, e sou visto e chamado pelo meu nome, não me virei e continuei, como se nada fosse. O meu controleiro achou que correria riscos, se continuasse nessa casa, e tive de arranjar outra. Criamos tiques, quando somos clandestinos. A Isabel do Carmo falou disso comigo, há tempos. Ainda hoje mantenho tiques da clandestinidade. Uma vez, tive uma grande discussão com o Pires Jorge; ele afirmava: "Pode-se ver, sem se ser visto." Essa era a ideia que se tinha: o clandestino tinha que ver, sem ser visto. Nessa altura, achei que isso era retórica, mas, com a continuação da clandestinidade, adquiri essa capacidade, a de ver, sem ser visto. Quando caminhava pela rua, varria-a com o olhar, por forma a ver todas as pessoas que me rodeavam. Ainda hoje tenho esse tique. Ainda fico preocupado, quando ouço passos atrás de mim. No meu primeiro livro de poesia, escrito na prisão, tenho estes versos, que eram uma aspiração:

"... e havemos de seguir de braço dado
sem que um espião nos siga acobertado
e a todos olharemos bem de frente
sem perguntar se é nosso ou contra a gente."

P. - Quantos anos esteve na clandestinidade?
R. - A última vez que entrei na clandestinidade foi após a saída da prisão em 1966. Estive clandestino em 53, fugi da cadeia em 55... estive uns dez anos na clandestinidade.

P. - Quando conheceu pessoalmente o dr. Álvaro Cunhal?
R. - Quando saí da cadeia, em 66. Encontrámo-nos no estrangeiro, em Paris. Vi-o, pela primeira vez, num café, em Paris.

P. - Depois de Abril viu algum dos seus antigos torturadores?
R. - Vi. Vi um dos meus torturadores numa rua, à distância. Não reagi, porque estava muita gente na rua, e eu era o responsável da organização regional de Lisboa, era deputado e vice-presidente do grupo parlamentar, na Assembleia Constituinte. Mas não sou capaz de odiar. Escrevi isso num dos meus poemas: "Não sou capaz de odiar."

P. - Que livros lia, quando na cadeia?
R. - Lia o que era possível. A mais longa prisão que tive foi de sete anos. Nessa altura vivíamos uma grande repressão a tudo o que fosse cultura. O director da cadeia só permitia que entrassem livros de estudo, do ciclo secundário. Esse homem tinha uma formação jesuítica, mas no mau sentido. Ele pensava que essa repressão cultural nos atingiria seriamente, no mais fundo de nós. Então, li livros espantosos, que mais ninguém lia, como a "História da Administração Pública em Portugal", do Gama Barros. Havia lá uma biblioteca que tinha este tipo de livros. Li "Épocas do Portugal Económico", do Lúcio de Azevedo. Sempre me orientei mais para a História, gosto muito de História. Lia o que a minha família me mandava, e que podia entrar na cadeia. Li a "História do Século XIX em Portugal", a "História da República até 1926". Ainda tenho a aspiração de, um dia, poder escrever umas "Contribuições para a História do Pensamento Democrático em Portugal".

P. - A questão sexual, como a resolviam?
R. - Não se resolvia.

P. - Isso causa problemas?
R. - É evidente que sim.

P. - Teve alguma ajuda médica, após sair da prisão?
R. - Não. Vejamos, apesar de tudo, ainda saí da cadeia muito novo. Saí em 66, tinha 33 anos. Retomei a actividade sexual com relativa naturalidade. Não se pode comparar o preso político com o preso comum. Nós animamo-nos e aguentamo-nos com as nossas preocupações ideológicas e culturais. Esses mundos permitem-nos muitas renúncias, incluindo essa, a sexual.

P. - Pode definir a delação?
R. - Tenho uma grande mágoa por alguns daqueles que delataram. Em geral, os outros que delataram não estavam feitos com a nossa luta. Esses são abjectos. Esses desprezo-os. Nos outros casos, tenho muita amargura que homens animados das mesmas convicções que eu tenham sido capazes de, no momento crucial, não aguentarem a tortura, o sofrimento, para salvarem ideais maiores, como os nossos ideais e a nossa dignidade. Tenho pena de que não conseguissem fazer a operação mental de pensarem nessas coisas, naquele momento. Quando estava a sofrer a tortura do sono pensava que, se fosse derrotado, a minha vida estaria derrotada. Aguentando a tortura, ganhava a minha vida.

P. - Vejo que faz uma distinção entre traição e fraqueza perante o torcionário.
R. - Sim, para mim são coisas completamente diferentes. Há casos de traição, mas são limitados. Houve casos que começaram com uma fraqueza, que degenerou em traição.

P. - O folheto "Se fores preso, camarada...", de ensinamentos sobre comportamentos de militantes, foi útil durante a luta clandestina?
R. - Foi uma ajuda fundamental. Criou esta moral, própria do movimento antifascista, que é: não se diz nada à polícia. Tive a oportunidade de contactar com muitos movimentos revolucionários, em todo o mundo, como os movimentos guerrilheiros, e a moral deles é outra. É arranjarem uma história, tentarem-se safar. Para nós, comunistas portugueses, havia a moral do silêncio. Esse folheto teve um papel espantoso na interiorização dos objectivos, da parte dos comunistas portugueses.

P. - É a superioridade moral dos comunistas?
R. - Exacto, mas não era só dos comunistas. Era de todos os antifascistas portugueses. A nossa dignidade assim o exigia.

P. - Alguma vez pensou em desistir?
R. - Não. Momentos de maior confiança e de dúvidas sobre os nossos acontecimentos e da nossa luta tive-os. Mas nunca pensei em desistir.

P. - Qual o sentido de ser comunista hoje?
R. - Não diverge de ser comunista ontem e de ser comunista amanhã.

(À incerta profecia do nosso futuro, Carlos Brito tem oposto a crença no determinismo histórico. Mesmo assim, não deixa de interpelar a História, para saber o que ocorre nas acções dos homens. Em 1845, em "Viagens na Minha Terra", Garrett clama contra as injustiças do mundo, execrando os ricos como causadores da fome, da miséria, da ignorância. Três anos mais tarde, Marx e Engels incitam os proletários a unir-se, num texto que vai sacudir o Planeta. O Manifesto Comunista é a carta magna da classe operária, a flâmula dos desgraçados da terra. Garrett escreveu com a amargura de um Isaías. Marx e Engels com a exaltação ardente de um Messias. É, talvez, nessa associação de espíritos opostos que Carlos Brito encontrou o viático para a jornada. Uma jornada que dura há 45 anos, tantos quantos ele tem de militante comunista, num percurso cunhado pela honra, marcado pelo sacrifício, assinalado pela integridade, e cumprido na realização de uma vida. Adversários políticos que com ele privaram no Parlamento dizem: "Conhecê-lo é melhorarmo-nos como seres humanos.")

P. - Marx continua a ter razão?
R. - Absolutamente. É a minha referência fundamental. Foi nele que formei o meu pensamento. Depois vêm outros autores, mas nenhum como Marx.

P. - Carlos Brito, defina o estalinismo.
R. - Acho que o estalinismo é a grande corrupção do marxismo. O estalinismo é o aviltamento de todos os nossos ideais, em nome de uma coisa que, na altura, parecia adequada, que era a defesa da revolução. Só que a revolução não se defende com práticas como o estalinismo. A revolução afunda-se e avilta-se com o estalinismo.

P. - Portanto, entende que o comunismo não é um colossal embuste.
R. - É evidente que não. Embusteiro é quem o diz. O comunismo foi adulterado, nas suas aplicações concretas em vários países. Isso aconteceu, em geral, com todos os grandes ideais históricos. Foram adulterados naquilo que era a sua verdadeira essência. Só que a História faz correcções; os ideais da Revolução Francesa acabaram por ser aplicados mais tarde. A Revolução Francesa deu origem ao Terror, aos aspectos de maior violência. Só após o Terror se procedeu à efectiva aplicação dos ideais revolucionários. Penso que o mesmo vai suceder com o comunismo. Os seus ideais acabarão por vencer, de uma maneira adequada, e tirando partido de todas as experiências negativas que ocorreram com o comunismo.

P. - A revolução ainda é possível?
R. - Acredito que não há outra solução para o mundo.

P. - A esquerda é liberdade, igualdade, fraternidade; e a direita é opressão, desigualdade, egoísmo?
R. - Creio que a esquerda é liberdade, igualdade e justiça. Também é justiça social, socialismo e tolerância. A direita, mesmo muito mascarada, é, acima de tudo, intolerante. Esta é a grande diferença entre esquerda e direita.

P. - Qual deve ser o compromisso político de um intelectual?
R. - O intelectual escolhe, sem ter para isso uma receita. E pode ser um intelectual respeitável, mesmo com as diferentes escolhas que faça. Isso é claro. Desejaria que os intelectuais se identificassem com estes ideais de esquerda: a liberdade, a igualdade, a justiça, a tolerância, e a identificação com o nosso povo, com os seus problemas e a necessidade de os alterar.

P. - O conceito de classe operária não sofreu profundas alterações desde o desenvolvimento da cibernética, das tecnologias de ponta?
R. - O mundo mudou muito. Temos de ver a classe operária de uma maneira diferente da que se via no século passado, princípios deste. Isso é fundamental.

P. - Podem surgir ameaças de um fascismo de novo tipo?
R. - Podem. Não é possível determinar o seu tipo exacto, mas, hoje, há razões no mundo, de base social, de classe, a que assistimos, que podem levar a regimes autoritários extremamente violentos.

P. - Que utopia prefere hoje, a da liberdade ou a da justiça? Porque a História diz-nos que tem sido difícil conciliar liberdade e justiça.
R. - A liberdade deve conduzir à justiça social. A justiça que tem em conta o mundo do trabalho, que pretende acabar com as desigualdades nas diferentes camadas da sociedade.

P. - Esta democracia é aquela por que se bateu durante tantos anos?
R. - Estou muito contente que haja democracia em Portugal, acho que é um grande valor.

P. - "O imperialismo é a última etapa do capitalismo", como previu Lenine?
R. - Sim, penso que é uma das previsões certas do Lenine. Não tão rápida como ele julgava, mas admito que podemos estar a viver essa etapa. A concentração das multinacionais vai levar a acontecimentos e a convulsões sociais que podem acabar em maior justiça e felicidade, para toda a humanidade.

P. - E isso faz-se como? Através de ruptura grave?
R. - Não faço ideia se será feita por rupturas, ou numa evolução mais ou menos pacífica, mas será, com certeza, por exigência, e através, das massas populares.

P. - Já teve alguns encontros com antigos membros de governos anteriores ao 25 de Abril?
R. - Tive, na Assembleia da República, com o prof. Adriano Moreira.

P. - Qual é a sua opinião sobre ele?
R. - Respeito-o como intelectual, como académico de valor, e é um homem que fez um severo exame às suas posições do passado, as quais sustenta, hoje, com muita dificuldade.

P. - Qual o país que não conhece e que gostaria de visitar?
R. - Os Estados Unidos e o Japão.

P. - Os Estados Unidos não são a fonte de todos os males?
R. - Os Estados Unidos têm um papel tenebroso na História dos nossos dias. Mas como lá há de tudo, também há pensamento democrático do mais sério, também há uma cultura democrática que merece o nosso respeito.

P. - Qual é o seu conceito de felicidade?
R. - O amor entra aí, tem a parte de leão. O amor e a convicção são dois valores que, quando estão preenchidos, me fazem sentir feliz.

P. - É um homem feliz?
R. - Sou relativamente feliz. Sofro com os padecimentos do meu povo. Tenho os meus problemas pessoais, familiares, mas aquilo que me faz sofrer são os padecimentos do meu povo.

(Não deixa de ler, não deixa de estudar, não deixa de reflectir, não deixa de escrever, não deixa de interferir. Tudo isto com a serena gravidade de quem não prega sermões, mas com a sabedoria de quem aprendeu que o destino dos homens está na razão e no coração dos homens. Carlos Brito não impõe ideias: propõe-nas. Não inculca dogmas: sugere a discussão. A única certeza que admite é a certeza da dúvida. Quando se lhe apresentou a ocasião, chegou a forçar o destino e a moldá-lo às circunstâncias. Di-lo, com modéstia e humildade, no seu belo "Tempo de Subversão." Mas di-lo com grandeza. Com a grandeza da simplicidade, e a simplicidade da grandeza.)