Januário Torgal Ferreira

Entrevista conduzida por Batista-Bastos -  "Público" (1994)

ENTREVISTA COM JANUÁRIO TORGAL FERREIRA

D. Januário Torgal Ferreira, o bispo da liberdade
"Houve Injustiças Clamorosas Cometidas por Homens da Igreja"
Por BAPTISTA-BASTOS
 
O largo é enorme e tem um nome simultaneamente heróico e trágico: Campo dos Mártires da Pátria. Dirimiram-se, ali, entre o cadafalso e o fuzil, entre a farda, o tabardo e a toga, questões de honra, expressões de coragem e, até, a própria natureza das convicções. A perpétua sublimação da glória e da banalidade. Já ninguém sabe quem foram os mártires de quais batalhas, nem mesmo que bandeiras perdidas se defenderam naquele campo enobrecido por delidas memórias. Ali estão os sinais da morte, da superstição, do conhecimento e da fé: a morgue, o monumento a Sousa Martins, o Instituto Goethe, e o Patriarcado. Tomêmo-los como evocações ao medo, ao desespero, à razão e à esperança. Ali passearam Fialho e Raul Brandão. Ali Eça de Queiroz fez correr fiacres. Ali António Lopes Ribeiro filmou algumas cenas d' "A Revolução de Maio." Não há nada mais caprichoso do que a acomodação das ruas, das avenidas, dos largos aos actos dos homens e às infidelidades da História. Agora, no extremo norte do largo, quase no local onde o largo forma um cotovelo, toco no batente de uma porta, que se me abre. Espera-me um homem de sorriso claro, incapaz de ocultar as circunstâncias que o caracterizam e o definem.

D. Januário Torgal Ferreira, 61 anos, é secretário da Conferência Episcopal e vigário-geral castrense. Fala das coisas de Deus e da magnífica imperfeição dos homens recusando as atenuações impostas por falsos pudores ou por ambíguas precauções da batina e do cabeção. Diz: "Não sou uma ovelha dócil que vá andar atrás de qualquer arreata." Aprecia a boa mesa, a boa garrafa, a boa anedota, o bom dito do espírito, a boa prosa e a boa pintura. É um bispo que não profissionaliza a fé e que acredita nas infinitas possibilidades da ciência, sem deixar de crer nos enigmáticos reinos da alma.

BAPTISTA-BASTOS - Onde estava no 25 de Abril?
D. JANUÁRIO TORGAL FERREIRA - Estava no Porto. Como sacerdote, desempenhava funções na Faculdade de Letras, no Departamento de Filosofia. Licenciei-me em 1970, e fui convidado a entrar no Departamento de Filosofia em 1971. Três anos depois, sou apanhado por esta ruptura que, na minha óptica, foi muito feliz e foi histórica para Portugal, ainda que, no início, as sequelas que eu e muitas pessoas sentiram fossem passíveis de alguma preocupação.

P. - Preocupação, porquê?
R. - Depois explico. Lembro-me de que, na altura, uns colegas meus bateram-me à porta, às nove da manhã, e disseram-me que havia uma revolução. Infelizmente, não acreditava que esse maná surgisse de um dia para o outro, e disse-lhes, sobranceiramente: "Eh pá, não me chateiem, não brinquem comigo!", mas eles insistiram, e um deles disse-me até que tinha provas. Ao ouvir que havia uma revolução, arranjei-me, saí. Ao ir para a faculdade, perguntei ao taxista o que é que se passava. Ele respondeu-me que parecia haver uma revolução, mas que não sabia nada, a vida dele era trabalhar. Notei que ele estava receoso, não sabia com quem é que estava a falar. Tomei isto como um sintoma de que alguma coisa estava a acontecer. Na faculdade ainda havia notícias muito vagas. Cheguei a casa à hora do almoço, liguei a rádio no posto France-Inter e tive a sorte de ouvir o dr. Mário Soares e mais alguns exilados a serem entrevistados em Paris, dizendo que houve um golpe e que podiam garantir, por informações enviadas por Lisboa, que o golpe não era de direita. O golpe era a favor da democracia.

P. - O senhor disse que notou uma "alguma preocupação". Preocupou-se com a eventualidade de haver perseguições a membros da Igreja, como na I República?
R. - Não, de forma alguma. Quando lhe referi que as sequelas do 25 de Abril foram seguidas com alguma preocupação, foi porque tinha a ideia ingénua de que a democracia, que, até então, não existira em Portugal, surgisse por um feliz parto, parto esse ocasionado pelas forças militares, mas que não tivesse consequências desagradáveis. E, de facto, durante os três primeiros dias após o 25 de Abril, tudo decorreu na perfeição. A partir do quarto dia sucedeu, na Faculdade de Letras do Porto, e em todo o país, as situações que se designaram, na altura, por saneamentos.

P. - Esses actos são previsíveis, e até comuns, nas revoluções...
R. - Os saneamentos perturbaram a instauração de uma unidade totalmente nova. Acho que, quando se cria uma unidade inovadora, quem é maltratado por ela pode-se tornar num mártir do lado contrário. Tal não sucedeu. Mas houve injustiças. Não podemos negá-las. Por isso se diz que as revoluções colhem os espinhos que criaram. Assim como nas revoluções de direita há coisas loucas, também nas revoluções de esquerda ou centro-esquerda, melhor dizendo, as revoluções contra a direita, têm as suas vítimas. O 25 de Abril foi uma revolução contra a direita e contra um regime ditatorial, mas teve as suas vítimas. Tive muita pena, porque essas vítimas mancharam a pureza de um ideal, a tranquilidade de uma ordem e um sonho de tal forma feliz e afortunado que até as baionetas tiveram um cravo na ponta.

(Um gabinete sóbrio, silencioso, que convida à discrição, ao estudo, à confidência. Um crucifixo, dois retratos do Papa, duas reproduções de Kandinski. Luz quebrada, que se espalha com suavidade. Livros, notas, apontamentos. Diz: "As paixões estragam o mais sereno pensamento. Mas não se pode viver isento de paixão. Quando o serviço da Igreja é prestado a pessoas concretas e a situações históricas definidas, não admira que, em regimes desumanos, a unicidade do poder repudie o pluralismo, as forças ditatoriais tentem abafar a ousadia, a censura rasure a livre expressão, a polícia política espie, prenda, mate a pessoa e tente imobilizar a liberdade." Quando fala, as mãos parecem obedecer às modulações da voz, ao carácter peremptório de certas afirmações. Mas os olhos, por detrás das lentes, mantêm a luz rápida da malícia, o brilho persistente da ironia. "A posição cultural implica, sempre, o debate de ideias e o confronto de convicções." Digo-lhe que a Igreja só raramente pensa assim. Diz-me: "Houve injustiças clamorosas cometidas pela Igreja." O ambiente apaziguador do gabinete, o suave silêncio, a serenidade convidam às revelações e às confidências.)

P. - Se se tivesse de autoclassificar, o senhor diria que é de direita ou de esquerda?
R. - Não sou nem de direita nem de esquerda. Pertenço a uma comunidade que não deve ter esses adereços. Agora, como cidadão, devo tomar posições diante do mundo. Quem conhece as minhas posições sabe que nunca fui de direita e nunca estive numa "nomenklatura" de esquerda. As pessoas até descobriram (de uma forma mais ou menos disfarçada, para que não dissessem que um eclesiástico estava a fazer política) que sempre apoiei os critérios da social-democracia e a personalidade de Francisco Sá Carneiro. Foi um dos meus amigos muito caros e que ainda hoje continuo a privilegiar.

P. - Gosta de ser chamado "príncipe da Igreja"?
R. - Nunca. O bispo nunca é um príncipe da Igreja. Essa nomenclatura é mundana, de falsa cristandade, de arrogância de poder e é uma impureza.

P. - A Igreja do cardeal Cerejeira foi a Igreja da cumplicidade com o regime salazarista?
R. - Houve cumplicidades. Não sei se foi só o cardeal Cerejeira, e até nem sei se o cardeal Cerejeira teve determinado tipo de cumplicidades. Só a História terá de estudar e de revelar os níveis de cumplicidade da Igreja com o salazarismo.

P. - A Igreja de D. António Ribeiro foi a Igreja do silêncio?
R. - Não. D. António Ribeiro, na sua forma contida, cheia de pudor, teve atitudes de extrema generosidade e de extrema coragem. Teve atitudes de extremo espírito democrático. No entanto, houve pessoas que terão querido, talvez com razão, que ele tivesse falado muito mais, por causa das circunstâncias históricas.

P. - E a Igreja de D. José Policarpo?
R. - D. José Policarpo foi muito amigo do cardeal Cerejeira, foi ordenado pelo cardeal Cerejeira. Foi muito amigo do cardeal Ribeiro, que era uma pessoa diferente. É bom nós manifestarmos e distinguirmos este sadio pluralismo na Igreja. E, não tenho qualquer dúvida, D. José Policarpo tem-no demonstrado, já o disse e afirmo-o com toda a liberdade: ele é um seguidor do Evangelho, na óptica do Concílio Vaticano II.

P. - O 25 de Abril ainda não chegou à Igreja portuguesa?
R. - Se não fossem os erros cometidos por alguns... O 25 de Abril, que já defini como uma primavera para Portugal, e, mesmo que muitos não gostem, foi uma primavera para a Igreja. Porque o 25 de Abril deu-nos a democracia, de cujo espírito a Igreja veio a ser um exemplar modelo. Porque a Igreja, para além de viver em sã democracia, tem a obrigação de ir muito mais longe, isto é, a Igreja tem a obrigação de instituir uma sociedade com o máximo espírito de justiça e de fraternidade. O mínimo que se pede à Igreja é que viva numa civilização democrática.
Se o 25 de Abril significou democracia, liberdade de expressão, pluralismo, tolerância, dar a todos, com prioridade aos mais pobres e oprimidos, e desenvolvimento integral, o 25 de Abril está longe de ser resolvido em Portugal. Há pobres e humildes que não tiveram o 25 de Abril. E, na Igreja, a liberdade de expressão, o não receio de falar, o trocar palavra com os mais humildes e esquecidos, se a Igreja tem lutado por isso, parece que há sectores da Igreja que querem voltar ao Vaticano I.

P. - Os conceitos morais alteraram-se com o 25 de Abril?
R. - Não. De forma alguma. Nós assistimos é a um conjunto de habilidades, fruto de uma liberdade a que as pessoas não estavam habituadas e da própria mudança do mundo. Muitas pessoas que não gostam da democracia atacam-na, porque supõem que as libertinagens são frutos da liberdade. Durante a adolescência e a juventude, a libertinagem é fruto de uma responsabilidade não assumida, de uma autonomia ainda não vivificada. A libertinagem, em democracia, é fruto de um mau entendimento democrático. Porque é essencial, para que haja democracia, a existência de regras, de normas, de valores, da existência de um sentido, de uma disciplina livre ou de liberdade disciplinada.

(No próximo dia 26 faz 61 anos. Signo: Peixes. "Acredito um bocadinho nos signos. Como qualquer mortal, tenho de ter alguns defeitos." Diz. Agora, inflectimos a conversa. Falamos, por exemplo, do ateu José Saramago, do romancista e do cidadão. Diz: "Ele não é um imprecador nem um blasfemo. É um grande português e um grande literato. O caso Saramago foi um teste para a Igreja em Portugal. Onde está a tolerância? Onde está a cultura da Igreja?" D. Januário Torgal Ferreira foi um entre os três mil que se deslocaram ao Centro Cultural de Belém, para homenagear o Nobel. "Foi um dia muito feliz na minha vida. Recebi manifestações de aprovação, e, também, de reprovação. Uma delas, de uma católica do Porto, marcou-me sobremaneira. Disse-me: 'O senhor lavou a face da Igreja, em nome de todos nós. Bem haja.' Estes sinais de presença compensam todos os aborrecimentos.")

P. - O senhor opõe-se à construção de uma nova basílica na Cova da Iria, porque entende ser um gasto sumptuário, "num momento em que se vivem dificuldades económicas, que já constituem verdadeiros dramas humanos". Tem tido problemas com esta sua posição?
R. - Não, não tenho tido problemas. Agradeço-lhe esta oportunidade, porque, após ter formulado esta afirmação, houve alguém que me chamou a atenção que não haveria tantos gastos sumptuários, que também ajudaria os pobres e os humildes a não sofrerem o frio e a inclemência da temperatura, etc. Uma basílica em Fátima, mesmo feita com o material mais pobre, num momento em que, no país, há sofrimentos e males, continuo a pensar que, se tivesse todo esse dinheiro, canalizá-lo-ia para outras causas de serviço e de ajuda.

P. - Em que circunstâncias é que a Igreja se deve imiscuir com os poderes políticos?
R. - Deve-se imiscuir no momento em que as liberdades são perdidas. A Igreja deve respeitar toda a autonomia de qualquer governo e de qualquer Estado. Deve manter a sua neutralidade, a sua independência, não deve fazer má política, nem gerar radicalismos, quer de um lado, quer de outro. A Igreja não faz, nem tem política. Mas, quando as políticas atentam contra as garantias e direitos humanos, a Igreja deve fazer, no mundo, aquilo que fazia Jesus Cristo: trazer à própria sociedade a capacidade de se indignar contra as opressões e devolver à sociedade os valores que possam servir de modelo a toda e qualquer política. A Igreja só se deve meter na política quando a desumanidade se comece a instalar.
No passado, a Igreja fez política partidária através de vários dos seus elementos, e aí esteve mal. Quando os direitos humanos, os direitos dos mais pobres forem afectados, devemos fazer como Jesus Cristo ensinou aos seus discípulos: sacudir o pó das nossas sandálias para uma cidade que já não ouve a palavra de Deus.

P. - O Papa João Paulo II pediu perdão, em nome da Igreja, pelo que esta fez a Galileu. A Igreja portuguesa tem de pedir perdão por alguma coisa?
R. - O Papa pedir perdão é uma forma de estilo. Os homens já não são os mesmos. Se o meu bisavô cometer algum crime, terei eu, agora, de pedir perdão por isso? Os homens, os ritmos, as causas, não foram as mesmas de hoje. Agora, o que a Igreja devia ter era uma grande descontracção e objectividade na análise histórica do seu passado. Não deve recear dizer que houve injustiças clamorosas, cometidas por homens da Igreja, como houve virtudes exemplares cometidas por homens da Igreja.

P. - Os dirigentes políticos, antes do 25 de Abril, reclamavam-se católicos. Eram-no?
R. - Acredito que alguns tivessem cultivado valores católicos, mas, quando vejo que a maioria, senão a totalidade, dos políticos do antigo regime pactuaram com polícias políticas, dizendo, agora, que não sabiam disso, que pactuaram com a ausência de liberdade de expressão, que pactuaram com a ausência de pluralismo e na luta contra a existência de partidos, e, sobretudo, calaram-se vergonhosamente diante das injustiças e não permitiram que outos grupos se sentassem à mesma mesa de todos, esta desumanidade, para mim, é a prova de que essas pessoas não estavam com o Evangelho.

P. - Ao que julgo saber, D. António Ferreira Gomes não tratava o Salazar por Salazar. Como é que ele o tratava?
R. - D. António Ferreira Gomes dizia, muitas vezes, "aquele senhor", mas isto de forma alguma como vingança, porque era um homem de grande nobreza. Mas achava que o nome de Salazar era tão poluído, sobretudo na última fase da sua vida, que era um nome tão pouco bonito que dizia "aquele senhor", ou então dizia "aquele senhor que caiu da cadeira". Não me posso esquecer que, a partir de Janeiro de 75, quando se começou a falar da lei de unicidade sindical, D. António Ferreira Gomes atacou os neo-salazaristas e criou um novo conceito linguístico, uma nova entidade conceptual, a palavra "salazarento". Eram os novos oportunistas, surgidos com a democracia, que mais não eram do que ditadores disfarçados.

P. - Qual é o seu conceito de liberdade?
R. - A liberdade é descoberta. É fidelidade e a experiência dessa fidelidade colocada ao serviço dos valores mais altos do ser humano. Só que esta liberdade tem luzes e tem faróis.

P. - O senhor foi brigadeiro do exército. É capelão-mor. Abençoava os soldados antes de saírem para matar?
R. - Não. Quando um sacerdote abençoa um soldado, é para que não haja guerra. Eu abençoaria os soldados para que não fizessem a guerra. Um sacerdote tanto pode abençoar uma espada, como carros de combate ou estruturas computadorizadas, mas, quando abençoa uma espada, numa cerimónia religiosa, é para que esta nunca seja utilizada. Para que a espada faça a paz, não a guerra. A bênção tem uma atitude litúrgica. O que diria aos soldados, mais do que uma bênção, seria uma palavra de justiça, de fraternidade e de amor por uma paz universal. Para que fizessem tudo para que o amor fosse mais forte do que o ódio. Para que a guerra fosse totalmente evitada. Diante de dramas como o Kosovo, ou de pessoas como o Savimbi e o José Eduardo dos Santos, dir-lhes-ia que a justiça da história é mais forte do que o ódio. Que se sentassem a uma mesa e dessem recado dos pobres e humildes. Para que não haja mais na terra nem morte, nem injustiça, nem ilegalidade.

P. - Reza todos os dias?
R. - Rezo todos os dias e rezo mais do que uma vez, diria formalmente, através da grande oração litúrgica que é a oração da Eucaristia, que é a oração das horas, depois é a oração pessoal, e rezo através do exercício da minha vida. Quando olho para o sol, quando faço "footing", quando falo com os meus amigos. Rezar é descobrir Deus nesta comunhão harmoniosa com o ser humano.

P. - E acredita no poder da oração para mudar a vida, para transformar o mundo?
R. - Rezo a Deus para que eu faça tudo aquilo que a humanidade deve fazer para transformar o mundo de acordo com o sonho de Deus. Não acredito em situações- limite, acredito em milagres. Verifico, porém, que há imperícia, preguiça e beatice em vários sectores. A oração é para eu realizar a vontade de Deus. E a vontade de Deus é que a terra seja de todos os homens, e não só de alguns.

P. - Acredita que o 25 de Abril tenha sido um milagre?
R. - Não foi um milagre, mas acredito que o 25 de Abril dependeu do coração e da inteligência de pessoas que estiveram abertas aos ideais da justiça e da fraternidade. O 25 de Abril foi um maná para Portugal.

(Fala detidamente de Sá Carneiro. Fala de Sá Carneiro com vivacidade e emoção. "Um homem absolutamente admirável. Um raro estadista." Admira, em Cunhal, a coerência, o estrato cultural, a firmeza de princípios. Afectos e desafectos que exprime com delicada cortesia. Concebe o próprio absoluto como processo natural da condição humana. Entende a condição humana como aspiração de liberdade. Defende a liberdade como direito, como conquista, como imperativo, como moral, como convergência e como entidade. Januário, o bispo, independentemente das aventuras do caminho, e do acaso dos encontros, sabe que a liberdade introduz a noção de travessia, que é, em si mesma, a mais luminosa imagem da vida.)