Vinte e cinco anos depois do 25 de Abril, que sentido faz comemorar o quê? Só comemoramos o futuro. O que no passado merece ser comemorado são sempre realidades incompletas que fulguram em nossa direcção pela exaltação de possibilidades auspiciosas que acicatam o nosso inconformismo com a mediocridade de um presente tão arbitrário quanto necessário. Comemoramos, pois, as possibilidades contra as necessidades.
As realidades incompletas são os sonhos, as utopias, as festas, as promessas, os desejos. Quanto mais incompletas, mais prenhes de futuro. Mas, em qualquer caso, o que há nelas de futuro é o nosso futuro nelas. O 25 de Abril de 1974 foi, é e será sempre uma dessas realidades incompletas, talvez a que mais profundamente se inscreveu na nossa contemporaneidade. É por isso também o grande rodízio de possibilidades que mantém em guarda a razão cínica sempre pronta a reduzir a insatisfação pelo que se não faz às razões para não se ter feito. É esse rodízio que comemoramos para que, em seu perpétuo movimento, vá fazendo saltar e espalhar novas alternativas de libertação e de emancipação, de justiça e de democracia. A experiência destes vinte e cinco anos ensina-nos que muitas delas cairão em terrenos estéreis, nos pântanos dos contentes, na terra ressequida dos desistentes, nos relvados artificiais dos poderosos senhores do status quo. Mas também sabemos que os ventos são caprichosos e que há terras sedentas de sementes.
25 anos do 25 de Abril