Brigada do Reumático
Nome por que ficou conhecido o conjunto de oficiais generais dos três ramos das Forças Armadas que tomaram parte de uma cerimónia de homenagem ao então Presidente do Conselho de Ministros, Marcelo Caetano, na sequência do 16 de Março, entendido como uma manifestação de apoio das FA à política do governo. Cerca de um mês depois dava-se o 25 de Abril. Não tendo participado na cerimónia, os generais Costa Gomes e Spínola foram demitidos dos cargos de Chefe e Vice-Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas.
Capitães de Abril
Designação por que ficaram conhecidos os oficiais, nem todos capitães, que planearam e executaram o 25 de Abril. Alguns tornaram-se figuras públicas no período que se seguiu, mas a maioria regressou às suas funções militares ( a quar-téis, como então se disse ), após a passagem do poder ao Governo Provisório.
Colónias
Territórios, fora da Europa, sob soberania portuguesa, últimas parcelas das descobertas e da ocupação de territórios e pontos chave ao longo das costas da África e da Ásia, nos séculos XV a XVII. A chegada de outras potências ( Inglaterra, Holanda, França ) fez diminuir enormemente a sua extensão, tendo as suas fronteiras estabilizado formalmente após a conferência de Berlim, no final do século XIX. Ao longo dos tempos, foram recebendo várias designações - Colónias, Províncias Ultramarinas, Estados. Após a II Guerra Mundial, acelerou-se o movimento de emancipação das colónias europeias na Ásia e na África, pelo que depois de 1960 só restavam os territórios portugueses com o estatuto de colónias. Esta situação, aliada à intransigência do governo português em negociar, levou à guerra, sucessivamente, em Angola, Guiné e Moçambique.
Governo Provisório
Governos de iniciativa da Junta de Salvação Nacional, e depois do Presidente da República, até às primeiras eleições para a assembleia da República, quando foi formado o primeiro governo constitucional.
Movimento das Forças Armadas (Ver MFA)
Sigla por que ficou conhecido o Movimento das Forças Armadas. Este "Movimento", nunca verdadeiramente instituído, corresponde à organização dos oficiais, na sua maioria capitães, que planearam e executaram o golpe militar que culminaria na Revolução de 25 de Abril. Foi sob este nome que surgiram os primeiros comunicados na rádio, e posteriormente, na TV, o programa político da revolução ( o Programa do MFA ), que foi instituido como Lei Fundamental do País até à promulgação da Constituição de 1976. Após a consolidação da Revolução, o MFA tendeu a confundir-se com as próprias Forças Armadas, tornando-se o garante do novo enquadramento político, ficando por isso como
uma referência histórica, política e cultural.
Movimento dos Capitães
Movimento com origem numa reivindicação dos capitães prejudicados por um decreto do governo de 1973, que permitia a sua ultrapassagem por oficiais mais novos e sem a mesma preparação académica e curricular. Os capitães eram a classe de oficiais mais sacrificada na guerra, e sobre quem caía a mais directa responsabilidade da sua condução. Se bem que muitos deles tivessem já tomado uma posição política, ao demarcar-se do "Congresso dos Combatentes", realizado de 1 a 3 de Junho de 1973, o movimento teve de início um cunho meramente reivindicativo, e foi a falta de diálogo do governo que fez com que os capitães tomassem consciência de que o problema não era só deles, mas do regime, e só uma transformação radical poderia fazer sair Portugal do impasse em que se encontrava. O movimento dos capitães está assim na origem do MFA.
Congresso dos Combatentes do Ultramar
Encontro organizado pelo governo no Porto entre 1 e 3 de Junho de 1973, visando dar uma imagem de apoio de militares e ex-militares à sua política ultramarina. A forma perfeitamente antidemocrática e não minimamente representativa da sua organização levou a que muitos militares se demarcassem do Congresso e das suas conclusões, numa manifestação colectiva sem precedentes. Pode considerar-se como a primeira tomada de posição política daqueles que formariam, cerca de um ano mais tarde, o Movimento dos Capitães.
16 de Março ( de 1974 )
Nesse dia, por um mal entendido, os militares do Regimento de Infantaria nº 5, das Caldas da Rainha, dominaram o quartel e marcharam sobre Lisboa, detendo-se à entrada da cidade; não tendo encontrado o apoio que esperavam, regressaram ao quartel, onde se renderam passadas algumas horas. Os oficiais que os comandaram foram enviados para a prisão militar da Trafaria, tendo sido libertados em 25 de Abril. Episódio menos conhecido, o Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE), de Lamego,também se colocou em rebelião, mas não chegou a fazer sair forças para o exterior.
Guerra Fria
Período que pode ser balizado entre a criação da Cortina de Ferro, em 1947, e a queda do muro de Berlim, em 1991. Correspondeu a uma época de afrontamento entre dois blocos, o ocidental, liderado nos Estados Unidos e apoiado na OTAN (NATO), e o oriental, liderado pela União Soviética e apoiado no Pacto de Varsóvia. Foi um período de tensão, sem ataques directos, mas recheado de guerras periféricas ( Coreia, Indochina, Médio Oriente, Argélia, Afeganistão, etc.), em que se misturavam guerras civis, movimentos de libertação, conflitos étnicos e outros, e em que cada uma das partes procurava o apoio de um dos blocos, o que acarretava imediatamente o apoio da parte contrária pelo outro bloco, por vezes ao arrepio de afinidades políticas ou culturais. Cortina de Ferro Expressão, utilizada pela primeira vez por Churchill, para significar a separação entre as áreas orientais da Europa, controladas pela União So-viética, e as ocidentais, agrupadas à volta dos outros Aliados (Estados Unidos, Ingla-terra e França). Portugal e Espanha, embora não tendo regimes democráticos, eram considerados como integrados neste último grupo.
Legião Portuguesa
Força tipo milícia criada em 1936 pelo Estado Novo, em parte por pressões de elementos do regime, mas sobretudo face às ameaças que a Guerra Civil de Espanha representava, face a um Exército ainda desorganizado e mal equipado. Pretendia-se a militarização da população, para o combate ao inimigo externo e interno, mas nunca assumiu o caracter de milícia do partido, à semelhança das suas congéneres alemã e italiana. Desde o início sob controlo do governo, que nomeava as suas chefias, e sob dependência funcional do Ministério do Interior e técnica do Ministério da Guerra, tornou-se um dos suportes do regime, na recolha de informações, apoio à repressão, intimidação de opositores mediante agressões e provocações, propaganda, acções especiais, fraude eleitoral, etc. Para muitos era a garantia de acesso a um em-prego, nomeadamente no Estado e Autarquias. Com o tempo foi perdendo influência, à excepção da "Força Automóvel de Choque -FAC", que se manteve activa até ao fim do regime. Foi extinta nos termos do Programa do Movimento das Forças Armadas
Movimentos de Libertação
Designação genérica das organizações (movimentos e partidos) que se constituíram nos territórios coloniais portugueses, especialmente no fim dos anos 50, para obter, primeiro na acção política, mais tarde pela força, a auto-determinação do que viriam a ser os seus países. Houve várias cisões e fusões; em 1974, os movimentos mais significativos eram: · na Guiné, o Partido para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), liderado até à sua morte em 1973 por Amílcar Cabral; · em Angola, o Movimento Popular de Libertação de Angola ( MPLA ), liderado por Agostinho Neto; a Frente de Libertação Nacional de Angola ( FNLA ), chefiada por Holden Roberto; e a União Nacional para a Independência Total de Angola ( UNITA ), liderada desde início por Jonas Savimbi; · em Moçambique, a Frente de Libertação de Moçambique ( FRELIMO ), liderada até à sua morte por Eduardo Mondlane, e posteriormente por Samora Machel.
Oposição
Nome genérico por que ficaram conhecidas as forças políticas que se opuseram ao Estado Novo de Salazar. Embora dividida por diferentes sensibilidades, a Oposição conseguiu algumas vezes plataformas políticas para apresentar listas ou candidatos para as diferentes eleições, mas a repressão, a intimidação e a fraude eleitoral não deixaram o regime evoluir de forma democrática. A Oposição aparecia como o contrário
da Situação, mesmo em documentos oficiais.
PIDE/DGS
Dupla sigla, representando uma mesma organização. A Polícia Internacional e de Defesa do Estado ( PIDE ) foi criada em 1945 como polícia política e internacional, sucedendo à Polícia de Vigilância e Defesa do Estado ( PVDE ), por sua vez criada em 1933, em substituição de outras organizações anteriores, constituídas depois do 28 de Maio de 1926. Após a subida de Marcello Caetano ao cargo de Presidente do Conselho de Ministros em 1969, a PIDE sofreria uma "cosmética", passando a chamar-se Direcção Geral de Segurança, mas o anterior nome estava tão arreigado na mente dos portugueses que se manteve, dando origem à sigla PIDE/DGS. Embora com um quadro relativamente limitado de agentes, a PIDE/DGS foi um longo, implacável e eficaz sustentáculo do regime, baseando os seus métodos de vigilância e controlo dos cidadãos na delação e intimidação, recorrendo frequentemente à violência, à tortura e mesmo ao assassinato. A PIDE/DGS levava a cabo as investigações e dispunha de prisões próprias, o que lhe permitia perfeita impunidade nos seus métodos de instrução de processos. Foi extinta nos termos do Programa do Movimento das Forças Armadas, apesar da intenção inicial de transformar a sua organização no Ultramar em Polícia de Informação
Militar.
Programa do Movimento das Forças Armadas
Programa político elaborado pelo Movimento das Forças Armadas, divulgado pelas 01H30 do dia 26 de Abril, após um último acerto entre o MFA e o general Spínola, para dar ao povo português o sentido e a razão de ser da Revolução. Publicado como Lei nº 3/74, de 14 de Maio, passaria a constituir a Lei Fundamental do País, até à promulgação da Constituição de 1976. Continha três partes, abaixo sintetizadas: · Medidas imediatas - exercício do poder por uma Junta de Salvação Nacional ( JSN ), até à formação, a curto prazo, de um Governo Provisório civil; destituição imediata do Presidente da República e Governo; eleição de uma Assembleia Constituinte no prazo de doze meses; destituição de todos os governadores civis e governadores-gerais das províncias ultramarinas; extinção imediata da Acção Nacional Popular ( ANP ); extinção imediata da PIDE/DGS e da Legião Portuguesa; controlo rigoroso das operações económicas e financeiras com o estrangeiro; amnistia imediata dos presos políticos; a abolição da Censura e exame prévio; reorganização e saneamento das Forças Armadas ( FA ); controlo das fronteiras pelas FA e Forças de Segurança ( estava até então a cargo da PIDE ); combate à corrupção e especulação. · Medidas a curto prazo - No prazo de três semanas, a escolha , dentro dos membros da Junta de Salvação Nacional, do Presidente da República, sendo dentro dos restantes nomeados os Chefe e Vice-Chefe do Estado Maior das Forças Armadas e os Chefes de Estado Maior do Exército, Marinha e Força Aérea; manutenção em funções da JSN; nomeação, pelo novo Presidente, de um Governo Provisório Civil, que, embora aguardando as reformas de fundo a ser adoptadas pela Assembleia Constituinte, deveria garantir a sua acção formal, a liberdade reunião e de associação, a liberdade de expressão do pensamento, uma nova lei de imprensa, rádio, TV, teatro e cinema, a independência e dignificação do poder judicial e os fundamentos de uma nova política económica. No tocante à política externa, o Governo deveria orientar-se pela independência e igualdade entre os estados e pelo respeito mútuo e não ingerência, respeitando os compromissos internacionais assumidos. Quanto à política ultramarina, reconhecia-se que a solução das guerras era política e não militar, devendo ser criadas as condições para um debate franco e aberto e para o lançamento de uma política que conduzisse à paz. · Considerações finais - Dissolução da JSN após a eleição da Assembleia Constituinte e do Presidente da República; um apelo do MFA à participação activa dos cidadãos na vida pública nacional e à criação das condições necessárias à definição de uma política que conduzisse à solução dos graves problemas nacionais e ao regresso ao lugar a que Portugal tinha direito no conjunto das Nações.
PREC
Sigla utilizada, normalmente com sentido depreciativo, correspondente à frase "Processo Revolucionário Em Curso", correntemente utilizada por alguns políticos e militares durante o período entre o 11 de Março e o 25 de Novembro de 1975, para justificar certos acontecimentos durante esse período da pós-revolução.
Revolução dos Capitães
Ver
Revolução dos Cravos
Revolução de 25 de Abril de 1974.
Ver
Revolução dos Cravos
Revolução dos Cravos
Nome por que ficou mundialmente conhecida a Revolução do 25 de Abril. É um caso de um símbolo surgido espontaneamente, por criação popular, quando, em resposta a um apelo para que fossem oferecidas flores aos militares, alguém ofereceu um cravo vermelho a um soldado, que o colocou no cano da espingarda. Estava encontrado o símbolo da Revolução. Também conhecida por Revolução dos Capitães e por Revolução de 25 de Abril de 1974.
União Nacional
(UN) ver Acção Nacional Popular Acção Nacional Popular (ANP)
Novo nome, criado por Marcello Caetano, para a antiga União Nacional. Ao contrário dos regimes da Alemanha e Itália, o Estado Novo não se apoiava num partido; saído da revolução do 28 de Maio, passou por uma Ditadura até a promulgação da Constituição de 1933. No sistema político então criado, não havia lugar para partidos, nem mesmo do governo, tendo sido instituída em 1932 a União Nacional como um movimento cívico; embora não formalmente um partido, na prática era incontornável a passagem pelas suas fileiras para singrar no regime. Em 1969, Marcello Caetano fez algumas
alterações de fachada, passando a UN a ANP, tal como a PIDE a DGS.
SIGLAS
QG/RMN - Quartel General da Região Militar do Norte, situado no Porto.
QG/RMC - Quartel General da Região Militar do Centro, situado em Coimbra.
QG/GML - Quartel General do Governo Militar de Lisboa
QG/RMS - Quartel General da Região Militar do Sul, situado em Évora
RI 1 - Regimento de Infantaria nº 1, situado na Amadora.
RI 2 - Regimento de Infantaria nº 2, situado em Abrantes.
RI 5 - Regimento de Infantaria nº 5, situado nas Caldas da Rainha.
CIOE - Centro de Instrução de Operações Especiais, situado em Lamego.
COPCON - Comando Operacional do Continente, situado no Forte do Alto do Duque, em
Algés criado em 5 de Julho de 1974.
EPC - Escola Prática de Cavalaria, situada em Santarém.
EPI - Escola Prática de Infantaria, situada em Mafra.
EPA - Escola Prática de Artilharia, situada em Vendas Novas.
EMGFA - Estado Maior General das Forças Armadas, situado em Lisboa.
PAIGC (ver Movimentos de Libertação).
MPLA (ver Movimentos de Libertação).
UNITA (ver Movimentos de Libertação).
FNLA (ver Movimentos de Libertação).
NOTAS BIOGRÁFICAS
Adelino da Palma Carlos
Advogado nomeado pelo Presidente da República, gene-ral Spínola, como 1º Ministro do primeiro Governo Provisório, empossado a 15 de Maio de 1974. Tendo visto rejeitada a sua proposta de reforço de poderes pelo Con-selho de Estado, pediu a demissão e abandonou funções em 11 de Julho desse ano, não tendo retornado à vida política.
Américo Thomaz
Américo de Deus Rodrigues Thomaz, oficial de Marinha, teve o seu primeiro cargo de relevo como chefe de gabinete do Ministro da Marinha, em 1936, e presidente da Junta Nacional da Marinha Mercante de 1940 a 1944. Sendo ca-pitão-de-mar-e-guerra, foi nomeado Ministro da Marinha em 1944, estando em fun-ções até 1958, data em que foi indigitado pela União Nacional como candidato à Pre-sidência da República, dado que o Presidente cessante, Marechal Craveiro Lopes, tinha perdido a confiança política de Salazar. Tendo ganho as eleições de forma fraudulenta contra o candidato da Oposição, o general Humberto Delgado, foi sucessivamente reeleito, já não por sufrágio directo, mas por um colégio eleitoral dominado pelo regi-me, tendo sido detido e enviado para a Madeira e posteriormente para o Brasil em companhia de Marcello Caetano. Embora formalmente Chefe do Estado, e considera-do representante da linha dura do regime, o seu poder real era diminuto, a ponto de, no 25 de Abril, não ter sido considerado suficientemente importante para constituir ob-jecto de alguma acção.
Costa Gomes
Francisco da Costa Gomes, oficial de Cavalaria, com um perfil muito fora do comum. Fez uma primeira comissão em Macau, em 1947, de onde assistiu à tomada do poder por Mao Tsé Tung e ao início de conflitos de índole não convencio-nal ( Indochina, Coreia ). De regresso a Portugal, foi absorvido pelas tarefas de trans-formação do Exército decorrentes da entrada de Portugal na NATO. Esteve colocado num grande comando NATO, o SACLANT, vindo a ser nomeado Sub-Secretário do Exército, sendo tenente-coronel, em 1958, cargo que ocupou até 1961. Foi por pro-posta sua que se inverteu o conceito ( utópico ) de que deveriam ser as Colónias a re-forçar a Metrópole, em caso de conflito na Europa; conhecedor das realidades africa-nas, lançou as bases do reforço europeu das Colónias, ainda que muito abaixo das ne-cessidades que preconizava. Em Abril de 1961, por implicação no malogrado golpe de Estado destinado a destituir Salazar, foi demitido e enviado para Beja, para um lugar secundário. Concluido o curso para oficial general, foi professor no Instituto de Altos Estudos Militares até 1965, ano da sua nomeação, como brigadeiro, para 2º Coman-dante da Região Militar de Moçambique, passando depois a Comandante. Regresado a Portugal, foi nomeado em 1970 Comandante Chefe de Angola, onde conseguiu, em conjunto com o Comandante da Zona Leste, o então brigadeiro Bettencourt Rodri-gues, levar o lider do Movimento de Libertação UNITA, Jonas Savimbi, a colaborar com os portugueses; com a mudança de comandos, esta acção perdeu-se. Regressado a Portugal, foi nomeado Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, tendo tido mais tarde como Vice-Chefe o General Spínola. Por não terem comparecido na manifestação que ficou conhecida como a Brigada do Reumático, foram ambos demi-tidos. Na sequência do 25 de Abril, foram ambos escolhidos como membros da Junta de salvação Nacional, ficando Costa Gomes como CEMGFA. Depois do 28 de Se-tembro de 1974, assumiu o cargo de Presidente da República até à eleição de Ramalho Eanea em 1976, bem como do Conselho da Revolução. A sua determinação em evitar o agudizar os conflitos e evitar a guerra civil dutante o PREC tornaram-no alvo de crí-ticas. Afastado das primeiras filas da política, foi elevado à categoria de Marechal, mantendo-se activo em diversas organizações pacifistas.
Humberto Delgado
Humberto da Silva Delgado, oficial de Aeronáutica, foi um dos negociadores do acordo sobre a Base dos Açores durante a II Guerra Mundial. Foi o fundador da TAP e procurador à Câmara Corporativa em 1951-52. Nesse ano foi para Washington como Adido de Defesa, aí permanecendo 5 anos, tendo aí amadurecido as suas ideias políticas, de tal forma que aceitou a sua candidatura à Presidência da Repú-blica pela Oposição nas eleições de 1958, contra o candidato do regime, Américo Thomaz. As posições desassombradas que então tomou, nomeadamente a resposta quanto ao que faria ao Presidente do Conselho, caso ganhasse as eleições - "obviamen-te demito-o" - grangearam-lhe o nome de "general sem medo". Perdidas as eleições de modo fraudulento, Humberto Delgado foi obrigado a fugir do País, continuando a conspirar para derrubar o regime. Atraido a uma cilada, foi assassinado pela PIDE em 1965 em Villanueva del Fresno, perto da fronteira portuguesa.
Marcello Caetano
Marcello José das Neves Alves Caetano foi uma figura de grande importância no Estado Novo. Jurista de formação, teve uma carreira docente notável, sobretudo na área do Direito Administrativo, onde fez doutrina; na política, foi desde o início um militante do regime saído do 28 de Maio, tendo sido por diversas vezes mi-nistro; foi presidente da Câmara Corporativa e Comissário Nacional da Mocidade Por-tuguesa. Por morte de Salazar foi nomeado Presidente do Conselho de Ministros ( 1º Ministro ) em Setembro de 1968. O seu governo começou com algumas tímidas refor-mas, mas a oposição da linha dura do regime e as suas contradições levaram-no a retomar a política tradicional, quer internamente, quer quanto às Colónias, caindo num impasse que conduziu ao 25 de Abril. Detido nesse dia no quartel da GNR do Carmo, foi enviado sob prisão, acompanhado pelo Presidente da República, Américo Tomás, e do Ministro do Interior, Moreira Baptista, para a Madeira, e daí para o Brasil, onde retomou a sua carreira docente e veio a morrer.
Mário Soares
Jurista de formação, opositor da regime desde a sua juventude, mili-tou no MUD juvenil dos anos pós-guerra. Foi várias vezes preso e mais terde exilado em S. Tomé. Pegressado com a abertura marcelista, em breve se viu obrigado a exilar-se, desta vez em França. Foi membro fundador do Partido Socialista Português na Ale-manha, em 1973. Foi um dos primeiros políticos exilados a regressar a Protugal após a Revolução, em 27 de Abril de 1974. Foi Ministro dos Negócios Estrangeiros do I ao III Governos Provisórios,tirando proveito das suas muitas relações internacionais. Foi 1º Ministro do I Governo Constitucional, unipartidário do PS em 1976, e do II Governo Constutucional, em coligação com o CDS, em 1978. Após três governos de iniciativa presidencial, as eleições intercalares de Dezembro de 1979 puseram o PS na oposição, situação que se manteve até 1983. Candidato à Presidência da República em 1986, foi eleito e reeleito em 1991, tendo as-sim cumprido dois mandatos. Presentemente é deputado no Parlamento europeu e Presidente da fundação que tem o seu nome.
Melo Antunes
Ernesto Melo Antunes, oficial de Artilharia, foi o principal ideólogo do MFA. Redactor do Programa do Movimento das Forças Armadas, foi membro do Conselho de Estado, Ministro dos Negócios Estrangeiros, Conselheiro de Estado, Conselheiro da Revolução, Presidente do Conselho Constitucional até à instituição do Tribunal Constitucional, co-redactor do Plano de Acção Política e do documento do Grupo dos Nove, foi uma figura ímpar no período crítico da consolidação da Demo-cracia em Portugal. Avesso aos primeiros planos, só intervinha publicamente nos momentos de grande decisão, e de forma clara e desassombrada. Exemplo disso foi a sua atitude durante os acontecimentos do 25 de Novembro de 1975, em que impediu a marginalização - vidé interdição - do Partido Comunista Português, de quem tinha sido adversário acérrimo. Principal obreiro da descolonização, foi sempre um defensor do diálogo Norte-Sul. Faleceu em 1999, e citam-se as palavras de dois Presidentes da Re-pública a seu respeito: · O Ernesto Melo Antunes não é apropriável por ninguém ( Jorge Sampaio ); · Como ser tolerante com a manifestação de apreço post-mortem de vários que nunca o suportaram? ( Idem ); · Pela sua acção... se poderá, com justiça, dizer que é o pai da Democracia em Portu-gal ( Ramalho Eanes ).
Otelo
Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho, major de Artilharia em 1974, foi o principal planeador e comandante operacional do 25 de Abril. Foi graduado em brigadeiro e nomeado Comandante-Adjunto do Comando Operacional do Continente, quando este foi criado em 8 de Julho de 1974, e mais tarde em general e Governador Mili-ar de Lisboa. Ao longo do ano de 1974-75, e sobretudo durante o PREC, as suas posições foram-se radicalizando, o que se reflectia na actuação do COPCON. Na sequência dos acontecimentos de 25 de Novembro de 1975, foi detido e demitido dos seus cargos. Nos anos seguintes, apoiou algumas organizações de extrema esquerda, que levaram a cabo algumas acções violentas, inclusivé assassinatos políticos. Preso por conivência nestas acções, o seu processo ainda não está encerrado.
Sá Carneiro
Francisco Sá Carneiro, advogado do Porto, entrou na política durante a chamada "abertura marcelista" de 1968-70, tendo sido eleito deputado para Assem-bleia Nacional pela "ala Liberal" da ANP em 1969, tendo renunciado ao cargo em 1973, numa atitude seguida por outras deputados da mesma linha. Após o 25 de Abril viria a ser um dos fundadores do Partido Popular Democrático ( PPD ) em Maio de 1975, mais tarde mudado para Partido Social Democrático ( PSD ). Foi Ministro sem Pasta no I Governo Provisório, tendo saído com Adelino Palma Carlos, não tendo in-tegrado mais nenhum Governo Provisório. Após as eleições legislativas de 1976 man-teve-se na oposição até à vitória eleitoral nas eleições intercalares de Dezembro de 1979, que deram a vitória à AD ( coligação do PPD com o CDS - actual PP - e com o Partido Popular Monárquico -PPM ), tendo então sido Primeiro Ministro desde Janeiro de 1980 até à sua morte num acidente aéreo em Dezembro do mesmo ano. Apesar de ter estado pouco tempo no Governo, a sua acção como Presidente do PPD e como de-putado deixou uma imagem de personalidade forte e decidida
Salazar
António de Oliveira Salazar foi a figura determinante da política portuguesa por mais de meio século. De formação jurídica, teve uma carreia docente notável em Coimbra, tendo ao mesmo tempo militado nos meios católicos da época, de modo ge-ral hostis à República. As suas teorias sobre finanças eram muito conhecidas, e os mili-tares que haviam feito o 28 de Maio de 1926 cedo o foram buscar para dominar uma situação que lhes fugia. A partir de 1927, Salazar ditou as suas condições, conseguindo um direito de veto sobre as despesas de todos os ministérios. Estava assim lançado o dogma do equilíbrio orçamental, que se por um lado equilibrava as finanças, pelo outro travava a economia. Por outro lado, tornou-se o ideólogo de um novo regime, em que se combinava o corporativismo que entendia como a doutrina social da Igreja, e a re-jeição do parlamentarismo. Estava assim criado um sistema autoritário e repressivo, de cariz pessoal, semelhante a outros existentes na Europa entre as duas guerras, mas não apoiado num partido político, como o alemão ou italiano. Nomeado Presidente do Conselho de Ministros em 1932, só deixaria o cargo em 1968, em consequência de um acidente que lhe causaria a morte. A sua longevidade explica-se pela repressão que caracterizou o regime e pelos factores externos. Tendo tomado o poder num período de refluxo das democracias e quando os portugueses estavam cansados das lutas polí-ticas da 1ª República ( 1910 - 1926 ), teve relativamente pouca oposição durante a dé-cada de 30. A Guerra Civil de Espanha ( 1936-39 ) teve um efeito paralizante sobre a sociedade portuguesa. Durante a II Guerra Mundial, a sua atitude, formalmente de neutralidade, oscilou entre o aliado histórico - a Inglaterra - e os regimes afins - o Ei-xo. A evolução do conflito fê-lo pender para os aliados, tendo concedido facilidades nos Açores. Finda a Guerra, viu-se numa posição de isolamento, embora não tanto co-mo a Espanha de Franco. Forçado a aceitar o Plano Marshall, viu o seu regime ser sal-vo pela Guerra Fria, conseguindo fazer Portugal entrar na ONU e ser membro funda-dor da OTAN (NATO). Mas as sementes de contestação ao regime, alimentadas pela vitória dos Aliados e pela própria participação nas instâncias internacionais, bem como a emergência dos movimentos de emancipação das colónias, acabaram por minar o sis-tema. Confrontado com um dissidente nas eleições de 1958, o general Humberto Del-gado, a sua resposta o endurecimento do regime. Se internamente se manteve com base na repressão, já externamente não pôde evitar a perda de Goa, Damão e Diu, in-vadidos pela Índia em 1961, nem prever o eclodir das guerras de libertação de Ango-la, 1961, da Guiné. 1963, e Moçambique, 1964, a que se juntaram o isolamento e a condenação internacionais, a que respodeu com a política do "orgulhosamente sós". Depois do grito de cruzada "para Angola e em força", seguiu-se um conflito que se arrastou por 13 anos, envolvendo mais de 1 milhão de homens, com 9.000 mortos e 30.000 feridos, e mais de 40% do Orçamento do Estado votado à Defesa. Avesso a qualquer mudança, só a incapacidade física devida a um acidente o afastou do poder em 1968.
Spínola
António Sebastião Ribeiro de Spínola, oficial de Cavalaria, serviu em diversas unidades da Arma e na GNR. Em 1961-63, distinguiu-se no comando de um Batalhão de Cavalaria em Angola. Em 1968, sendo brigadeiro, foi nomeado Governador e Comandante-Chefe da Guiné, tendo aí sido promovido a general. O seu estilo e a sua personalidade tornaram-no uma figura muito conhecida. Regresada a Portugal, foi no-meado Vice-Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, cargo até então inexistente. De acordo com o seu superior directo, o general Costa Gomes, e sem oposição do Ministro da Defesa, publica o livro "POrtugal e o Futuro", que teve o efeito de uma pedrada no charco do regime, que via assim um dos seus heróis contestar o imobilis-mo em que o sistema tinha caído. Escolhido como um dos generais que integraria a Junta de Salvação Nacional, coube-lhe receber a rendição de Marcello Caetano no quartel do Carmo, no dia 25 de Abril. Constituida a Junta, foi eleito dentro desta como Presidente da República. O primeiro Governo Provisório, de sua iniciativa, e chefiado por Adelino Palma Carlos, durou pouco, e em breve o seu conceito pessoal de exer-cício de poder e a sua visão do problema das Colónias chocaram com os dos militares do MFA. Tentou ganhar apoio na rua, com a manifestação da chamada "Maioria Si-lenciosa", mas o fracasso da iniciativa levou-o a demitir-se em 30 de Setembro de 1974. Entrado numa semi-clandestinidade, foi o chefe da tentativa falhadda de golpe de estado em 11 de Março de 1975. Derrotado, refugiu-se em Espanha e daí circulou sobretudo pela Europa, em buscade apoios para a sua causa. Após o 25 de Novembro de 1975, regressou a Portugal, retomando os seus direitos e vindo a ser elevado à categoria de Marechal, junto com Costa Gomes.
Vasco Lourenço
Vasco Correia Lourenço, oficial de Infantaria, foi um dos principais organizadores da contestação ao regime que culminariam no 25 de Abril. Detido e transferido compulsivamente para Ponta Delgada, Açores, não pôde tomar parte activa no golpe militar. Regressado ao Continente, teve participação muito activa nos aconte-cimentos que marcaram a transição para a Democracia, tendo sido co-autor do Plano de Acção Política e, durante o PREC, foi um dos subscritores do Grupo dos Nove. Substituiu Otelo como Governador Militar de Lisboa após o 25 de Novembro de 1975, sendo para isso graduado em Brigadeiro. Integrou o Conselho de Revolução até à sua extinção. Foi um dos fundadores e dos principais impulsionadores da Associação 25 de Abril, de que é Presidente da Direcção desde o início.
Salgueiro Maia
Fernando José Salgueiro Maia, oficial de Cavalaria, passou à História como o "Cavaleiro sem medo e sem mácula" do 25 de Abril. Fez uma primeira comissão como alferes em Moçambique, numa Companhia de Comandos que veio a comandar por ferimentos do Comandante e Adjunto. Regressado a Portugal, embarcou para a Guiné em 1970, comandando uma Companhia de Cavalaria. Novamente regressado, foi colocado na EPC. Foi a partir que no dia 25 de Abril desta Unidade comandou uma coluna, incluindo blindados ligeiros, que ocupou o Terreiro do Paço, tendo-se aí dado o frente-a-frente com o carros de combate M-47, que teriam facilmente destruido os seus blindados; a determinação e sangue frio de Salgueiro Maia fez com que as guarnições dos carros de combate recusassem a ordem de fogo, ultrapassando-se assim um ponto crucial da Revolução. Mais tarde, dirigiu-se com a sua coluna para o Largo do Carmo, cercando o Comando Geral da GNR onde Marcello Caetano se tinha refugiado. Coube-lhe dirigir o ultimatum ao governo, tendo parlamentado com Marcello Caetano, que lhe pediu um oficial general para aceitar a rendição, tendo para isso sido chamado o general Spínola. Regressado à EPC, aparece em público apenas no 11 de Março, em que vai a Tancos esclarecer a situação e onde tem uma troca de palavras algo irreverente com o general Spínola, chefe do golpe falhado; e no verão quente de 1975, em que é um dos subscri-tores do Documento dos Nove. Avesso à ribaltada política, nem por isso deixou de ser alvo de ajustes de conta de uma certa hierarquia, que nunca o nomeou para lugares de destaque, do ponto de vista profissional. A sua postura determinada, combinada com o apagamento por opção, apesar de muitas solicitações a que estava sujeito, tornaram- -no uma fígura de referência. Morreu, vítima de um cancro, como tenente-coronel.
Retirado da página da Associação 25 de Abril na Internet
http://www.25abril.org/25_abril/glossario/pagina_glossario.htm#pmfa
em 17/9/2001