Yesterday, 24 November, marked the 92nd anniversary of the birth of João Martins Pereira (JMP), a Portuguese industrial engineer, economist, journalist, essayist and politician who was Secretary of State for Industry and Technology in the IV Provisional Government (between March and August 1975) and the author of the mission to nationalise the major industrial companies: steel, cement, shipyards, heavy chemicals, petrochemicals and cellulose.
JMP graduated in chemical engineering from IST in 1956. He had a brief spell at CUF (1958) in Barreiro, in the Non-Ferrous Metals Division, where he took part in the start-up of a sodium silicate unit. He joined by invitation from the company, which traditionally invited the best chemistry students to join its staff. In August 1958 he was hired by Siderurgia Nacional for a period of four years. The events of his transfer from Jorge de Mello's CUF to António Champalimaud's Siderurgia Nacional are told by him in a personal account that illustrates the relationship between the two rival industrial groups at the time. Handwritten account in his 1986 notebook, available here. The corresponding transcript is also available:
Assinalou-se no dia de ontem, 24 de novembro, o 92º aniversário do nascimento de João Martins Pereira (JMP), engenheiro industrial, economista, jornalista, ensaísta e político português, tendo sido Secretário de Estado da Indústria e Tecnologia do IV Governo Provisório (entre março e agosto de 1975) e o autor da missão da nacionalização das grandes empresas industriais: siderurgia, cimentos, estaleiros navais, química pesada, petroquímica e celuloses.
JMP termina o curso de engenharia química no IST em 1956. Tem uma breve passagem pela CUF (1958) no Barreiro, na Divisão de Metais Não-Ferrosos, onde participa no arranque de uma unidade de silicato de sódio. A sua entrada faz-se por convite da empresa, que tradicionalmente convidava para integrar os seus quadros os melhores alunos do curso de Química. Em Agosto de 1958 é contratado pela Siderurgia Nacional por um período de quatro anos. As peripécias da sua transferência da CUF de Jorge de Mello para a Siderurgia Nacional de António Champalimaud são contadas pelo próprio num relato pessoal, que ilustra a relação então existente entre os dois grupos industriais rivais. Relato manuscrito no seu caderno de 1986, disponível aqui. Disponibilizamos também a correspondente transcrição:
Costa, 3.1.86 Há muito que pensava contar nestas páginas a história da minha passagem da CUF para a Siderurgia em 1958, já que é exemplar do que é “tratar homens como mercadorias” (coisa hoje tão esquecida: com a “água do banho” do marxismo, deitaram-se fora alguns preciosos bebés...), e por temer algum dia vir a esquecer-me dos seus “saborosos” pormenores. Ao fim de 25 anos, creio não ter esquecido ainda nada de essencial. Um estágio que fizera em 1955 (nas férias do 5º para o 6º ano do IST) em empresas siderúrgicas francesas tornara-me um “apaixonado” dessa indústria ainda inexistente em Portugal, mas já então em princípio de lançamento pelo Champalimaud. Ao sair da tropa em Janeiro de 1958 tinha de me empregar imediatamente, pois o meu pai saíra de casa em 1957 e tornava-se indispensável ganhar o necessário para sustentar a família. No momento, tive de aceitar o convite da CUF – que o fazia sempre aos melhores alunos do curso de Química, a quem atribuía um Prémio. [...] Por volta de Abril/Maio, a Siderurgia Nacional começa a seleccionar engenheiros para irem estagiar para a Alemanha: os futuros quadros da fábrica do Seixal. Os meus colegas Noronha e Tavares – do meu curso, da “minha” tropa – candidatam-se e são de imediato escolhidos. Põe-se-me um problema grave “de consciência”, pela primeira e última vez, aliás: será correcto, tendo sido convidado pela CUF, sair (ou tentar sair) ao fim de 3 meses, só porque me interessava mais trabalhar na indústria siderúrgica do que na indústria química? Que fazer? Decidi ir saber que hipóteses teria na SN. Recebido pelo Eng. Estácio Marques, expus-lhe a minha situação e o meu interesse. Ao que me respondeu que estaria interessado, mas que, dado estar-se em fase de negociações delicadas entre a SN e a CUF para o fornecimento de cinzas de pirite (e sabendo-se o ódio figadal entre as duas famílias Mello-Champalimaud), só me admitiriam se fosse possível assegurar que a CUF não se oporia à minha saída. Fiquei de me informar sobre esse ponto. Vi-me obrigado a “abrir o jogo” ao Eng. Teixeira Lopo, e pedir-lhe “conselho”. Compreendeu perfeitamente a situação, e disse-me que só havia uma solução: pedir uma audiência ao Dr. Jorge de Mello, o “big boss”. Que ele era uma pessoa muito acessível e que certamente entenderia o meu caso e não poria obstáculos. Aí vou eu à Rua do Comércio, onde então funcionava o estado-maior da CUF, e consigo ser recebido rapidamente.
Jovem e cândido engenheiro, aí me vejo no enorme gabinete de Sua Excelência, a quem abro igualmente o jogo todo, sem quaisquer subterfúgios ou rodeios. Solene, S. Exª entra de imediato na matéria: “Só me interessa ter na CUF engenheiros cujo objectivo seja fazer carreira na empresa e subir aos mais altos cargos. Gente ambiciosa, que trabalhe para “vencer”! Ora, pelo que me diz, não é este obviamente o seu caso: ao fim de poucos meses, já põe a hipótese de sair... Portanto, não se preocupe, não lhe porei quaisquer dificuldades. Pelo contrário, dou-lhe toda a liberdade: a partir deste momento pode considerar-se despedido!” [...] De qualquer modo, embora surpreendido, não fiquei excessivamente preocupado, pois que se me abriam, por esta inesperada via, as portas da Siderurgia Nacional. Lá fui comunicar ao Eng. Estácio Marques a minha disponibilidade, que traduzia, embora de uma forma brutal, a intenção da CUF de não criar dificuldades à minha passagem para a SN. Registou e disse que ia fazer seguir a minha candidatura. Que telefonasse daí a uns dias, pois já devia haver uma decisão favorável. Assim fiz, tendo-me pedido que fosse falar com ele. Encontrei-o bastante enfiado, e não era caso para menos. Segundo me informou, o Dr. Jorge de Mello, na sequência da nossa entrevista, escrevera ao Champalimaud a propor-lhe um “gentlemen’s agreement”: que nenhuma empresa aceitasse pessoal proveniente da outra, a começar pelo sr. Eng. Martins Pereira... Assim sendo, nada feito! Desta vez, fiquei mesmo desempregado. |
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Desde 2012 e com ajuda da família, o vasto arquivo de JMP, doado ao Centro, tem vindo a ser organizado com vista à produção de um inventário preliminar e pode ser consultado a pedido. Disponibilizamos o Inventário preliminar da Vida Profissional, que apenas contém documentação (estudos, apontamentos, documentação) a partir de 1981.
Fotografias selecionadas, retiradas de álbum oferecido a JMP pelos trabalhadores da Siderurgia Nacional, aquando da sua saída em 1962.
Para mais informação sobre o percurso profissional de JMP, consultar Biobibliografia aqui.
Portal de homenagem a JMP, construído pela família, disponível aqui.