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Evocamos, uma vez mais o Fundo C.P.I., fruto de doação de Álvaro de Miranda, Adriana Peixoto e João Monjardino, um arquivo de grande importância e interesse que integra inúmera documentação de diversas tipologias refletindo as atividades ligadas ao anti-fascismo, anti-colonialismo e sindicalismo desenvolvidas por um grupo de democratas portugueses emigrados em Inglaterra nas décadas de sessenta e setenta do século XX, unindo refratários, exilados políticos e emigrantes. Neste arquivo, encontra-se uma subsecção dedicada à produção do boletim, intitulado “Luta Comum”, criado no seguimento da extinção de um outro então designado de “Our Common Struggle”, que nas palavras de Álvaro de Miranda (Londres, out. 2016) “ era dirigido ao movimento operário e esquerda britânica e o seu objetivo era explicar o processo revolucionário português, sobretudo a luta operária, e tentar gerar solidariedade para com ele. Na altura o movimento operário britânico era muito ativo e havia organizações das bases sindicais dentro dos locais de trabalho que eram de certo modo independentes das cúpulas, ao redor dos delegados sindicais (shop stewards). Focámos a nossa atividade essencialmente nesse movimento. Esta época estava também na fase inicial da globalização da indústria manufatureira e Portugal servia como fonte de mão de obra barata não só através da emigração mas também porque muitas companhias deslocaram para Portugal as partes mais intensivas em trabalho não especializado da sua produção. Isto aconteceu em particular na indústria eletrónica e várias companhias inglesas, norte- americanas alemãs e francesas tinham montado fábricas em Portugal. No período revolucionário que se seguiu imediatamente após ao 25 de abril muitas dessas fábricas de multinacionais foram ocupadas, como a Plessey (britânica), a ITT (norte-americana). Procurámos pôr os trabalhadores em ocupação das sucursais das multinacionais em Portugal em contacto com os delegados sindicais das fábricas dessas companhias na Grã-Bretanha. Fomos particularmente bem sucedidos com a Plessey, nessa altura a maior companhia de telecomunicações e eletrónica britânica. (...) Quando resolvemos que não valia a pena continuar a publicar Our Common Struggle, pensámos que fazia falta uma fonte de informação para a emigração portuguesa que tinha aumentado substancialmente no entretanto e resolvemos iniciar um jornal para a emigração, cujo nome foi a tradução exacta da publicação que tínhamos produzido em inglês durante mais de um ano, Luta Comum. O primeiro número saiu no mesmo mês em que publicámos o último número de Our Common Struggle, Dezembro de 1976."
O Centro selecionou para esta rubrica bimensal, 5 documentos fotográficos deste arquivo, alguns evocativos dos dias que correm, impregnados de uma bruma anti-democrática, na esperança que nasça algures, tal como aconteceu em Londres na década de 1970 do século passado, vontade de a contrariar:
- Imagem 1: documento fotográfico FT02529 | positivo| p&b|Composição de várias capas do boletim Luta Comum
- Imagem 2: documento fotográfico FT02531 | positivo| p&b|legenda do doador: “Porto 10 de Junho de 1978. Manifestação da centena de fascistas na cidade do Porto. Esta manifestação foi desbaratada por cerca de 1500 democratas e antifascistas que se opuseram aos intentos dos fascistas. Num dos cartazes pode ler-se “Não à repressão democrática””.
- Imagem 3: documento fotográfico FT0016 | positivo| p&b|Manifestação promovida pela Anti-Nazi League, Londres.
- Imagem 4: documento fotográfico FT0017 | positivo| p&b|Manifestação promovida pela Anti-Nazi League, Londres.
- Imagem 5: documento fotográfico FT02499 | positivo| p&b|Manifestação no período revolucionário contra o evento organizado pelo banco Kendal and Dent, no teatro londrino Victoria Palace, com a presença de figuras ligadas ao Estado Novo, tais como Kaúlza de Arriaga, Galvão de Melo, Silvino Silvério Marques, o empresário Jorge Jardim e Franco Nogueira.
Relato do episódio da autoria de Álvaro de Miranda:
“O Luta Comum teve um sucesso particular de que nos orgulhamos grandemente. A
seguir ao 25 de Abril os ultra do regime conspiravam ainda com a ambição de
voltarem ao poder. Em Londres havia um estranho banco que tinha focado a sua
atividade financeira sobre os emigrantes portugueses oferecendo-lhes razões de juro
sobre os depósitos em contas de poupança superiores ao normal. Chamava-se Kendal
and Dent. Estávamos convencidos que havia forças económicas ligadas aos
capitalistas portugueses que tinham fugido de Portugal a seguir ao 25 de abril por
24 detrás dele. As nossas suspeitas foram confirmadas quando o banco apareceu
organizando num dos mais conhecidos teatros de Londres, o Victoria Palace, um
grande espetáculo com a participação de artistas famosos dos velhos tempos de
Salazar, mas também de ultras do anterior regime. Figuravam no elenco o cómico
Badaró, que tinha emigrado para o Brasil após o 25 de Abril e Amália Rodrigues.
Londres tinha sem dúvida sido escolhido porque muitos dos fugidos do 25 de Abril se
tinham instalado lá e porque os emigrantes portugueses tinham fama de serem
conservadores. Entre os personagens presentes na plataforma encontravam-se o ex-
General ultra do Salazarismo Kaúlza de Arriaga, Galvão de Melo, Silvino Silvério
Marques, o empresário Jorge Jardim, e o ex-ministro do regime fascista Franco
Nogueira . Organizámos um piquete de protesto à porta do teatro junto com o Centro
25 de Abril. Uns emigrantes que vinham ao espetáculo porque, segundo nos disseram,
gostavam de fado, quando tomaram conhecimento do teor do evento resolveram não
entrar e ofereceram-nos os bilhetes. Um pequeno grupo nosso entrou para assistir.
Quando o Kaúlza de Arriaga se levantou para discursar começaram a gritar:
“Fascista!” Toda a audiência do teatro que estava praticamente cheio se juntou a
gritar em coro com o nosso grupo e os organizadores foram obrigados a retirar
Arriaga e trazer imediatamente ao palco Amália Rodrigues para acalmar os ânimos
começando a cantar.”
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