Nova doação: Lieve Meersschaert, uma Mulher que transcende pela ação

No passado dia 21 de novembro, o CD25A teve o privilégio em receber a visita de Godlieve Meersschaert para nos doar uma importante  secção do seu arquivo pessoal, fruto da atividade que desenvolveu entre finais dos anos 70 e inícios dos anos 80 do séc. XX, na Cooperativa Operária de Serviço Doméstico - Cooperserdo e no Sindicato do Serviço Doméstico.

O arquivo, cuja doação foi intermediada pela socióloga Mafalda Araújo - a quem muito agradecemos a iniciativa - apresenta o elemento pessoal e distintivo de Lieve e vem complementar o Fundo de Arquivo do Sindicato do Serviço Doméstico já existente no Centro.

Lieve Meersschaert, nascida na Bélgica em 1945, é psicóloga de formação pela Universidade de Louvain. Em 1971 frequenta um curso em Paris com o filósofo e pedagogo Paulo Freire. No contexto do seu trabalho na associação da Juventude Operária Católica de Turnhout (Bélgica) - KAJ-Turnhout, organiza em 1976, em colaboração com a KAK (Países Baixos) e JOC Portuguesa, ações de solidariedade que obrigam ao pagamento de três meses de salários em atraso a 300 trabalhadores da empresa de confeção Maconde. É através desta iniciativa que, em contacto com a Base-Fut, surge a oportunidade de trabalhar na Cooperserdo, mudando-se para Portugal em 1978, onde permanece a trabalhar na cooperativa até 1985, período em que paralelamente colabora com o Sindicato do Serviço Doméstico, designadamente no âmbito da preparação do Congresso das Empregadas Domésticas, que decorreu em 28 de outubro de 1979. Nesse contexto, elaborou ainda um curso de formação composto por oito sessões. Entre outubro de 1981 e fevereiro de 1982, escreve em neerlandês vários capítulos sobre o SSD e Cooperserdo, que não chega a publicar na altura, mas apenas em 2025 no livro de sua autoria, intitulado “Empregadas Domésticas e Mulheres-a-Dias em Portugal: anotações de Lieve Meersschaert”. Em 1983 entrevista 23 empregadas domésticas portuguesas e em 1985 é convidada a apresentar o seu trabalho no Colóquio “A Mulher em Portugal”, sobre o papel da empregada doméstica, acabando por ser vertido num artigo e publicado na revista “Análise Social”.

Entre julho e janeiro de 1981 trabalha a tempo inteiro como cooperante na Cooperseerdo - Cooperativa Operária de Serviço Doméstico. Em 1982 opta por ficar a residir na Cova da Moura (Amadora), bairro onde funda, em 1987, conjuntamente com o seu marido, Eduardo Pontes, a Associação Cultural Moinho da Juventude, criada e sediada na sua casa. A associação tem como âmbito de ação o desenvolvimento comunitário, a promoção da relação de sinergias, estimulando a partilha de competências e a responsabilidade pessoal e grupal, tendo como missão: “Um outro mundo é possível se a gente quiser”. Em 2005 foi condecorada pelo governo português com a Ordem do Mérito, que lhe foi entregue pelo então, Presidente da República, Jorge Sampaio.

 

A história de vida de Lieve está impregnada dos valores e conquistas do 25 de Abril de 1974, moldados ao longo do período revolucionário e fixados, em Abril de 1976, num acervo de direitos fundamentais, instrumentos de desenvolvimento e de melhoria das condições de vida e de trabalho, que é a Constituição Portuguesa. 25 de Abril sempre!

25 de Abril sempre!