Salgueiro Maia
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4ª Hora
7m27s até 9m58
E – Há uma pergunta muito simples e muito curiosa para a maioria das pessoas, que é saber como é que aparece o cravo como símbolo da revolução? Como é que logo nas primeiras horas do 25 de Abril os soldados e a população aparecem a distribuir cravos e a transportá-los nos mais variados sítios: espingardas, lapelas, carros...?
M – Quando nós seguíamos do Terreiro do Paço para o Quartel do Carmo acontece a maior apoteose que eu alguma vez vi, e que dificilmente se poderá repetir, em que as pessoas choravam e se abraçavam. É em apoteose que nós chegamos ao Rossio. Quando aí chego, há uma Companhia formada em cima das viaturas, e eu não estava à espera dela, e há um jipe à frente dessa coluna donde sai um Capitão. Eu dirijo-me a ele a perguntar "então o que é que estás aqui a fazer?", ele diz "o Governo mandou-me para aqui mas eu estou convosco" e eu digo-lhe para vir atrás da gente. Quando estamos nesta coisa em que a população não percebia bem o que se estava a passar, quando verificou que estávamos todos do mesmo lado, começámos a ser envolvidos por 2 ou 3 ardinas que começam a distribuir os jornais que tinham acabado de sair sem censura, em frente estão as vendedoras de flores. As que existiam nessa altura eram os cravos brancos e vermelhos. Pegam nos molhos que aí tinham e começam-nos a oferecer, assim como outras pessoas que nos vêm oferecer de tudo, inclusive um homem com um presunto e uma faca. Neste contexto, como o vermelho é sinónimo de esquerda e tem um certo enquadramento, os fotógrafos começam a valorizar as fotografias dos cravos vermelhos; mas a realidade é que eles eram vermelhos e brancos que eram os que estavam à venda, assim como alguns jarros, mas estes sem o mesmo significado; se havia 4 molhos de cravos havia um molho de jarros. São as flores que existiam para venda e que são dadas na altura, em que as fotografias depois valorizam o vermelho.