Entrevista a Vasco Gonçalves

Início:
1h43m20s até 1h47m39s

 
 
Outra contradição não menos importante terá sido logo a daquela quantidade de equívocos que terão surgido logo no início sobre quem chefia o Movimento. Sabido que foi das reuniões preparatórias, que a pessoa escolhida era o Costa Gomes, no entanto publicamente no dia 25 de Abril aparece o General Spínola a comandar, chefe do Movimento e depois Presidente da SN, sabe alguma coisa sobre o entendimento que houve entre eles para chegar a isso?
 
O Almirante Rosa Coutinho é que está em condições, porque assistiu a essa conversação, porque nós tínhamos resolvido o seguinte lá dentro, do tal protocolo, que os elementos da SN se reuniriam e escolheriam entre si os lugares, com indicação de que pensávamos que o presidente deveria ser o General Costa Gomes, pelo que eu sei e pelo que me foi relatado pelo Almirante Rosa Coutinho, feita a reunião, esboçaram a discussão, e o General Costa Gomes terá dito:" Fica tu", ou qualquer coisa, e é claro que o General Spínola agarrou isso logo com as duas mãos. De resto nessa própria noite eu verifiquei claramente que o General Costa Gomes tinha um semblante aborrecido e eu perguntei-lhe assim lá num momento qualquer lá na Pontinha, então meu General?, Não fica o Spínola
 
Mas foi ele que lhe ofereceu?
 
A ideia que eu tenho das relações entre os homens, e do que conheço do General Costa Gomes, tenho ideia que ele delicadamente, posso estar errado, porque eu não estou dentro do pensamento do General Costa Gomes e ele tem um pensamento muito de si próprio e é uma pessoa muito reservada, mas a ideia com que eu fiquei naquele momento e que ainda continuo a ter é que o Costa Gomes de facto disse ficas tu ficas tu e o Spínola aproveitou isso, em lugar de dizer não eu sei que tu és o homem preferido pelo Movimento, não lhe disse isso e ficou assumiu-se logo isso porque o Spínola de facto tem tendência para o autoritarismo e tudo isso, agora eu passados tempos não sei se isso não terá sido até positivo porque o Spínola à frente do Estado maior Geral das forcas armadas teria sido, quanto a mim um Homem mais perigoso, não teríamos tido o apoio que tivemos da parte do General Costa Gomes como Chefe  do Estado Maior geral das forcas armadas e o chefe geral das forcas armadas tinha muito poder sobre as Forcas Armadas porque no 25 de abril ficaram ali várias fontes de poder, vários centros de poder, mas ficaram dado mesmo à própria constituição do Movimento, à própria formação do Movimento, o desenvolvimento que levou ao processo do 25 de Abril, a própria formação militar, dos militares, as condições subjectivas do próprio movimento e do derrubamento do fascismo conduziram de facto inevitavelmente ao estabelecimento de vários centros de poder, como o Chefe do Estado Maior Geral das Forcas Armadas querendo nós que as forcas armadas não s dissolvessem, não se desmantelassem, tinham que ter poder, o Presidente da República, também tinha que ter poder ...
 
Mas simultaneamente terá sido um factor um pouco desencorajador para os capitães, fundamentalmente para aqueles envolvidos nas operações, chegarem a verificar que a pessoa escolhida tinha sido logo à partida, houve logo uma primeira alteração à opinião deles...
 
Isso é verdade, aumentou as nossas reservas em relação ao General Spínola mais reservados ficamos em relação a ele, digamos mesmo mais desconfiados, porque havia militares como lhe disse e repito-o, eu não o conheci como conheceram outros militares do MFA e que tinham estado com ele na Guine e de maneira que isso aumentou de facto as nossas reservas.
 

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