Entrevistas a Francisco da Costa Gomes - 2

Início: 28’45’’ a 32’44’’
 
E - Afirmou já várias vezes que o plano do 25 de Abril estava mal preparado, com graves deficiências. Em seu entender, afinal, a que é que se deve o êxito do 25 de Abril?
M - Eu não considero o plano muito mal preparado. Eu considero muito mal preparado é o plano de operações do 11 de Março, isso considero pessimamente mal preparado. O 25 de Abril não considero mal preparado porque nem sequer o conhecia.
E - Mas, depois à posteriori?
M - Mas, mesmo assim, não podia criticar porque até foi um plano que resultou, porque os planos militares que resultam, mesmo que sejam maquiavelicamente preparados, tem que ser considerados bons planos. De maneira que eu nunca disse isso. Sobre o 25 de Abril nunca disse que tinha sido mal preparado, sobre o 11 de Março acho que o plano foi pessimamente preparado, e é impensável que um General, que tinha a experiência operacional do General Spínola, tivesse apoiado esse plano que é, sob o ponto de vista militar, uma desgraça. Porque é um plano sem um mínimo de base, informação e planeamento. O plano do 25 de Abril nunca o comentei, porque ainda hoje não o sei muito  em, mas pelos resultados que obteve, penso que foi um plano bem preparado e bem executado, de modo que o que se diz não é verdade.
E - Não ficou também com a convicção, à posteriori, que houve um perfeito bloqueamento das forças leais ao regime e, particularmente, da polícia política, ao não terem actuado nem reagido minimamente.
M - Acho que isso se deve ao sigilo em que o plano do 25 de Abril se conservou até ao desencadeamento da revolução. Acho, portanto, que a polícia actuou pessimamente, do ponto de vista de informação e que as forças afectas ao governo actuaram, militarmente, também muito mal. Eles tinham muito mais forças do que as forças do 25 de Abril, quer dizer; as forças do 25 de Abril eram demasiadamente debéis para levar à frente um plano que conduzisse à queda do regime.
 

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