Quatro + quatro = quatro?

L. A. & Cª no meio da revolução

ÚLTIMO CAPÍTULO  QUATRO  +  QUATRO  =  QUATRO? 
  
 
 Os quatro ficaram muito calados. Quem quebrou o silêncio foi a tia Luzinha. 
 - Bem - disse ela, ainda ofegante. - Está quase na hora de jantar e tenho que ir ajudar a vossa mãe na cozinha - e reparando no silêncio dos quatro: - Então, não dizem nada? Não gostaram da aventura? 
 Parecia-lhes que estavam lentamente a acordar de um sonho. Sentiam o corpo entorpecido por estarem sem se mexer há tanto tempo, presos àquela história emocionante. 
 A Ana foi a primeira a quebrar o silêncio: 
 - Eu ... eu ... - gaguejou. - Sinto-me esquisita. Parece-me que sou a Ana de há vinte anos atrás e que fui eu que vivi aquilo tudo. Até estou atordoada! 
 - Deixa lá que eu sinto mais ou menos a mesma coisa. Também me parece que aquela história se passou comigo! Acho que nem tenho os pés no chão! Que aventura! 
 - Pois eu cá estou óptimo! - disse o Filipe, muito depressa. - E até se podia ter passado com nós os quatro ... Se tivéssemos vivido há vinte anos atrás! 
 - Ó tia Luzinha - perguntou o outro gémeo. - Eles eram assim tão parecidos connosco que até tinham os mesmos nomes e tudo?! 
 A senhora esboçou um sorriso maroto. 
 - Bem, claro que era impossível uma coincidência tão grande. Mas eu já não me lembrava bem como se chamavam aqueles quatro ... E vocês são tão parecidos com eles que me pareceu uma boa ideia tornar a baptizá-los ... com os vossos nomes! 
 - Uf! - exclamou a Ana. - Até me parece que fui eu que estive em cima do telhado com os dois soldados enquanto vocês desciam pelo alçapão! 
  - E eu fui salvo na hora certa! Imaginem que vocês não tinham descoberto a direcção no tal bloco! O que me ia acontecer?! - E o Nuno olhava para os outros com um ar arrepiado. 
 Foi risada geral. 
  - A ti, nada, meu palerma! Vês como também fazes confusão entre ti e o outro  Nuno?! 
 - Se calhar tinham-te deitado ao mar, com uma pedra ao pescoço, quando fossem a caminho da América ... Ficavas a fazer companhia aos peixinhos! Ah, ah, ah!! 
 - Ou, se fossem de avião, atiravam-te pela borda fora, sem pára-quedas! 
 - Ih, ih,ih! 
 - Ah, ah, ah! 
- A tia Luzinha enfeitiçou-nos - riu-se a Ana. - Agora já nem sabemos se somos nós ou eles! 
 - Imaginem os nossos pais, se eles soubessem que estávamos metidos numa aventura assim! 

 

  - Já estou a imaginar a nossa mãe a pregar-nos uma valente surra! - suspiraram os gémeos. 
 - O que me faz também confusão - disse a Ana como se falasse consigo própria, - é imaginar-me metida numa destas, sem perceber bem uma data de coisas: o tal laboratório ... 
 - E a revolução?! Não vos faz impressão pensar na revolução?! 
 - Ai não! Parece que uma revolução é uma coisa que só pode ter acontecido há milhares de anos! 
 - E o que é essa coisa da Central Francesa? 
 - E o Grandella ainda existia!! Mas já ardeu há tanto tempo ... 
 - E é mesmo verdade essa do eléctrico a entrar pelo convento do Carmo dentro? 
 - E ...e ... 
 Mas de repente repararam na tia Luzinha. Com o cansaço e a emoção das recordações parecia ter adormecido, muito recostada, a um canto do sofá. 
 - Shiu! Vamos deixá-la dormir! - ciciou a Ana. - Tudo para a cozinha, a ver se a mãe precisa de alguma coisa! 
 Iam a sair da sala, pé ante pé, quando a tia Luzinha abriu os olhos e sorriu como se ela própria estivesse também a sonhar. 
 - Agora estou um bocadinho cansada - disse baixinho. - Mas prometo-vos que escrevo de Chaves ... uma carta grande a explicar-vos melhor isso tudo. Talvez até vos arranje ... - e sorriu-se ainda mais, - a receita ... dos pastéis ... de Belém! 
 E adormeceu com uma cara muito feliz. 

Capítulo anterior   Índice    Capítulo seguinte