ESTAMOS PAGANDO O PREÇO DE SER LIVRES
(COSTA GOMES - 4/7/75)
A crise económica do País exige muito trabalho e poucas palavras, o que, infelizmente, não é um hábito generalizado.
Se hoje venho falar a todos os portugueses é porque - como sempre que falo - entendo cumprir um dever ou prestar um serviço ao povo a que pertenço.
Entendo que, mais uma vez, se torna necessário sublinhar que estamos falando demasiado e trabalhando excessivamente pouco.
Vem isto a propósito de uma verdadeira ofensiva de boatos que, sobretudo nos últimos dias, está a conduzir o País a um ambiente doentio de agitação e ansiedade, clima muito propício a situações contra-revolucionárias, adverso da tranquilidade, da ordem e do trabalho.
Nesses boatos, cujas origens desconheço, o denominador comum é, essencialmente, a projecção da ideia de que há antagonismos graves no seio das Forças Armadas.
Afirmam-se divergências insanáveis no interior do M. F. A., incluindo entre elementos do Conselho da Revolução. As fontes dos boatos sempre afirmam o que desejariam, na esperança de provocar o acontecimento.
O boato - hoje como ontem - é sempre a arma traiçoeira com a qual o tímido ataca o forte e o Governo.
Como chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas cumpre-me informar, hoje e agora, sobre a situação das Forças Armadas, o braço forte de um povo em marcha para o socialismo.
Não nego a existência de correntes de opinião entre militares, como homens livres de um povo que se realiza.
Não negaria que, felizmente, no Conselho da Revolução temos o hábito de discutir livremente, com a serena certeza de que no curso dos trabalhos sempre encontraremos uma solução útil.
No entanto, só as forças contra-revolucionárias se podem interessar, a partir do salutar pluralismo de opiniões, extrapolar doentiamente para situações de confronto.
Hoje, como chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, vos afirmo que estamos coesos na acção, decididos a defender a ordem e a tranquilidade do povo português, determinados a vencer com disciplina e trabalho.
Não hesitarei em repetir que, neste momento, da nossa revolução socialista o que é essencial é trabalhar mais e produzir melhor.
Necessitamos de serenidade, de uma atmosfera de calma física e psíquica que nos conduza a patamares novos de tolerância e disciplina nos trabalhos e sacrifícios a enfrentar.
Antes de terminar, pediria a todos os portugueses que se tornassem verdadeiros revolucionários.
Hoje, um verdadeiro revolucionário é aquele que:
- Trabalha mais e produz melhor do que ontem;
- É limitado e construtivo nas suas reivindicações e exigências;
- Não contribui para a propalação de boatos, afirmando o seu espírito crítico por padrões serenos e saudáveis;
- Tem comportamentos e atitudes que contribuem para um clima de sensatez, tolerância e disciplina social. Termino com a esperança de que estamos pagando o preço de ser livres e apenas isso. Boa noite, o trabalho espera por nós.
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