Dossier 25 de Abril.19 de Março

19 DE MARÇO
foto: posse de Mota Campos? (DN, 1ª pág.)
Arroubos místicos
Toma posse o novo ministro da Agricultura e Comércio, Mota Campos, que vê abrirem-se no futuro imediato "vastas possibilidades de progresso na agricultura do país".
Albino dos Reis regressa ao tema da sublevação, na Assembleia Nacional, num delírio de ironia gramaticalmente coxo. "Impressionou até o facto de esse movimento partir das Caldas da Rainha, povoação com população pacífica, progressiva e laboriosa, onde poderia pressentir-se o aroma místico das rosas de Santa Isabel, transmitido a outra rainha que não foi canonizada mas era santa, que fundou as Misericórdias portuguesas."
O "Diário de Notícias" diz em editorial que os acontecimentos de sábado "causaram mágoa e surpresa" (ver Documento). A DGI contesta os números do Movimento dos Capitães, garantindo que são 33 os oficiais subalternos detidos na sequência da rebelião das Caldas a Rainha.
"O Século" termina um pequeno texto sobre o momento político dizendo que "não se produziram ontem quaisquer factos especiais, continuando a verificar-se completa normalidade em todos os sectores da vida nacional".
Um comunicado fala em dois mortos e 14 feridos num acidente no Centro de Instrução de Operações Especiais, em Lamego (a unidade que chegou a anunciar estar "sobre rodas", na noite de 15, provocando o entusiasmo dos militares que se revoltaram nas Caldas).
A EPUL dá a conhecer um plano de reestruturação do Martim Moniz, com teleférico e tudo. A Académica de Coimbra despede o treinador Fernando Vaz. Há 19 semanas que o público lisboeta mantém em cartaz o filme "Lágrimas e Suspiros," de Ingmar Bergman.
Uma foto de Laura Soveral, na capa do "Diário Popular", anuncia que a actriz será Soror Mariana numa peça que a RTP se prepara para rodar. No suplemento "Volta ao Mundo", do mesmo jornal, José Augusto, correspondente em Paris, interroga-se sobre o futuro da Jugoslávia no dia em que desaparecer Tito. Ao lado, em tradução, um articulista do jornal francês "Combat" demonstra uma capacidade de previsão rara, ao escrever que "o antagonismo dos homens e das regiões podem, a médio prazo, alterar a situação".
DOCUMENTO
"(...) Se algumas palavras de comentário devem acrescentar-se à melancólica apreciação do que se passou [na rebelião das Caldas], elas terão necessariamente de constituir um apelo ao bom senso, à calma, ao intransigente dever de cumprir, na linha da posição há dias reiterada (?) ao presidente do Conselho pelos oficiais-generais dos três ramos das Forças Armadas. A hora actual, insistimos, é de extrema delicadeza e muita gravidade. As colunas militares, por isso, só podem deslocar-se num sentido. Aquele que lhes for apontado pelos supremos interesses da pátria e da defesa da nação."
in "Diário de Notícias", de um editorial intitulado "Palavras Necessárias"