Dossier 25 de Abril.22 de Março

22 DE MARÇO
 
(Foto: estátua de Eça no Chiado (República e 1º DL)
Tia Aurora
Aplausos para a equipa do Sporting, no aeroporto de Lisboa. A Carris anuncia prejuízos de 53 mil contos e admite uma quebra acentuada no número de passageiros (278 milhões contra um pouco mais de 300 milhões, em 1972). Uma terrina de porcelana da China, com travessa armoriada, pertencente ao 6º visconde de Stangford - atesta-o o respectivo brasão - é comprada por 180 contos num dos muitos leilões anunciados na imprensa.
O Secretariado do Cinema e da Rádio (Luís de Pina, António Rego e Carlos Pontes Leça, entre outros membros do júri) premeia "Os Palhaços", de Fellini, enquanto António Cunha Telles - cujo último filme, "Meus Amigos", foi recebido com grande frieza pela crítica - surge na revista "Vida Mundial" a reconhecer que o resultado não é uma "obra-prima, mas acontece que ainda é cedo para fazer obras-primas".
O correspondente de "O Século" em Coimbra dá conta do desespero dos habitantes da capital universitária, há longos anos à espera de que o velho comboio para a Lousã deixe de passar pelo centro da cidade. Os promotores do protesto obtiveram 15 mil assinaturas, já, e há quem defenda que uma comissão venha por aí abaixo, até ao Terreiro do Paço, e se dirija directamente ao gabinete do ministro dos Obras Públicas, Rui Sanches, "um filho de Coimbra".
O "República" e o "DL" mostram a nudez dura da "Verdade" - o monumento a Eça de Queiroz, ao Chiado - sem um braço, decepado pela queda (diáfana e fantasiada?) de uma palmeira. Há quem garanta ter avistado um OVNI em Avis.
O jornal regional "Mercador", citado num dos diários nacionais, observa, com rara premonição, o olho guloso que quem dispõe de algum dinheiro começa a lançar sobre o Alentejo, ali construindo "instalações adequadas à sua vida social e à prática de vários desportos", bem como "casas de campo a utilizar em fins de semana".
A PSP cerca instalações universitárias no Porto. O núncio apostólico reúne-se em Quelimane com os prelados de Moçambique.
Em casa de Vítor Alves, os conspiradores procedem à leitura da primeira versão do programa político do Movimento, redigido por Melo Antunes, que dali mesmo irá sair para o aeroporto, em direcção aos Açores. Este oficial queixa-se do azar que lhe trouxe o deferimento a um pedido de transferência com quase cinco anos na altura precisa em que menos lhe interessa sair do continente.
Ali mesmo, segundo conta Otelo Saraiva de Carvalho ("Alvorada em Abril"), se combina um código de aviso para que os revoltosos comuniquem a Melo Antunes e Vasco Lourenço (já transferido para o Quartel-General de Ponta Delgada) o dia e a hora do golpe: um telegrama assinado por Primo António e que diga simplesmente "Tia Aurora segue dia..."
No aeroporto, pela madrugada, Melo Antunes tem tempo ainda para apresentar o comandante Almada Contreiras a Álvaro Guerra, um jornalista do "República" que abrirá caminho ao Movimento para chegar à Rádio Renascença, donde será emitida a senha do golpe.
Documento
"Não. Ainda não acabaram as passagens de modelos. Ainda me faltam a do Sérgio e da Candidinha, a que não posso faltar.
Uma tarde destas, estava eu na rua e lembrei-me de que era dia de Carla passar no Centro de Bridge. Lúcia, Ana Maria, Rosa Maria e Isabel Branco apresentaram uma linda colecção.
Vi, pela primeira vez, calças quadradas. Vi os 'ajour'. Os cintinhos de cobre. As enormes flores de organza da moda nostalgia. Os colares de pérolas. Os lindos 'chemisiers'. Sapatos, de Piedade. A nossa.
Sentei-me na mesa da viscondessa de Botelho e de sua filha Maria Pia (que estava janotíssima, toda de branco), onde fui muito bem tratada. Aquela família é encantadora.
Devo uma referência especial ao chá servido no Centro de Bridge. Óptimo. Abundante. E variado.
A Chanel, da Serpa Pinto, como Maria Luísa Botelho, dona da Carla, passou a ser conhecida depois de uma célebre e inesquecível viagem à Suíça, está de parabéns."
(Bisbilhotices, de Vera Lagoa, "Diário Popular" de 22/3/74)