Dossier 25 de Abril.25 de Março

25 DE MARÇO
 
foto: DN, Marcello c/ Veiga Simão, 1ª pág.
O milagre dos salmonetes
Novos preços das refeições na cantina da Cidade Universitária de Lisboa. Os extras passam a ser pagos à parte, o que originará, nos próximos dias, incidentes com a polícia, chamada pelas autoridades académicas.
Spínola desmente no "República" afirmações que a imprensa lhe atribuíra quatro dias antes (ver Almanaque de 21/3), a propósito de uma entrevista alegadamente concedida à televisão francesa. "A entrevista não passou de um encontro casual", à saída de casa, limitando-se o general a dar "respostas simples de que não se podem tirar ilações".
O governador-geral de Angola, Santos e Castro, eleva Andulo (a terra de Savimbi) a cidade, como "público testemunho pela actividade laboriosa da sua população"
No seu celebérrimo Canal da Crítica, Mário Castrim queda-se pelo Telejornal da véspera: "... para assistir à inauguração não me lembro aonde de um tanque de natação." Dali parte para "a grande aventura de Fernando Pessa na região de Loures", preocupado com a hipótese de um incêndio num dos edifícios de 14 andares de Santo António dos Cavaleiros. Segue-se Maria Margarida "para mais um dos seus famosos inquéritos", desta vez sobre a insistência dos peões em atravessarem as ruas com o vermelho dos semáforos aceso. Conclusão irónica de Castrim: "Como se vê, verdadeiro exemplo daquilo a que se chama 'interesse à escala nacional'."
Regressa de uma viagem longa e exaustivamente coberta aos EUA o secretário de estado da Informação, Pedro Pinto. Confessa-se optimista ao numeroso grupo de personalidades que o espera no aeroporto, apesar de ser madrugada. As comunidades portuguesas, tranquiliza, numa linguagem cuidadosa, testemunharam "a sua fidelidade às raízes comuns, independentemente das diferentes interpretações que lhes possam dar".
De visita ao laboratório de Biologia Celular da Fundação Gulbenkian, Marcello Caetano exclama ao ver o cinetista David Ferreira: "Eis o titular da primeira e única classificação de 20 valores que votei." Anos antes, quando reitor, Caetano fizera parte do júri de doutoramento do David Ferreira, na Faculdade de Medicina de Lisboa.
Afonso Marchueta é tornado sócio honorário do grupo Os Josés de Portugal, a festejar o seu 30 º aniversário. Como a Páscoa se aproxima, as agências de viagens propõem excursões de autocarro a Torremolinos por 2440$00 e uma semana em Londres, com viagem em "modernos aviões a jacto, refeições a bordo", desde 2730$00. Ainda, uma semana em cinco cidades de Itália, entre as quais Roma, por 6 contos 980 escudos, um cruzeiro no Mediterrâneo e Adriático (Dubrovnik em evidência) por 12.040$00 e férias nas Caraíbas por pouco mais de 20 contos.
Anuncia-se para dentro em pouco a estreia de "American Grafitti", "um dos dez melhores filmes do ano".
DOCUMENTO
"(...) Antigamente (...) quando a carne andava na maré da alta havia a possibilidade de optar pelo peixe (um alimento carregado de ferro) que acompanhado de uma dose de legumes faz as vezes de refeição forte. Uma posta de pescada custava meia dúzia de mil reis e os vegetais compravam-se por tuta-e-meia. Agora a pescada encontra-se a 70$00 (e mais) o quilo e as couves sobem. Uma exemplar couve portuguesa (dantes baratucha) não se consegue por menos de 4 a 9$00.
(...) Entrámos na peixaria do mercado do Saldanha empenhados na aposta da divulgação de espécies do mar que exibissem tabelas abaixo de 50$00. Assim, ficámos a saber que as (..) abróteas [estavam] a 28$00, chicharro a 11$00, cherne a 34$00, peixe-espada a 38$00, pargo a 45$00, tainhas a 14$00, lulas a 48$00 e, oh milagre dos milagres, vimos salmonete a 45$00 o quilo. Porém, não se entusiasmem porque uma mulher, certamente entendida no assunto, sussurrou-nos uma informação importante: 'Os salmonetes já têm os olhos enterrados para dentro'...
(...) A novidade da estação coincide com o aparecimento (...) das favas e ervilhas (...) Todavia será talvez um pouco apressado adquirir (para já) esses produtos pois favas a 7$50 e ervilhas a 10$00 fazem mal às bolsas. Por isso convém aguardar mais um tempo até que os preços se democratizem. (...)"
Manhã na Praça, "Diário de Lisboa", pág.4, 25/3/7