Dossier 25 de Abril.04 de Abril

04 DE ABRIL
 
(foto Franco c/ Silva Pinto)
Angola a postos para a arrancada
Duas personagens protagonizam, cada uma a seu jeito, a agenda política institucional tal qual a imprensa a reflecte. Uma porque, sendo deputada, nunca havia falado perante os seus pares, na Assembleia Nacional. A outra porque, sendo ministro e tendo-se deslocado ao país vizinho, se tornou apetitoso objecto de entrevista para jornalistas ávidos das reacções do regime às autênticas bombas noticiosas que o livro do general Spínola e a sublevação das Caldas da Rainha constituíram.
Dos registos dos correspondentes parlamentares sobre a sessão - em que a situação do funcionalismo público ocupou o centro dos debates - constam, para além das saudações da praxe da assaz verbalmente contida deputada, a condenação dos "actos de indisciplina dos estudantes" do ISE e a proposta de criação de um Instituto do Livro. Também em evidência, pela voz de protesto de um deputado do círculo do Porto, o congestionamento no porto de Leixões, causador de prejuízos anuais da ordem de muitos milhões de contos.
Embora sem novas declarações de assinalar, Silva Pinto volta às primeiras páginas dos jornais. Os seus encontro com o "Generalíssimo Franco" (na foto) e com o príncipe Juan Carlos marcam o final de uma visita que, no plano jornalístico, se prolongará ainda por mais uns dias, com notícias sobre o rescaldo dos seus contactos com as autoridades espanholas.
Cerca das 20 horas, a polícia fecha as portas do Sindicato dos Bancários, em Lisboa, impedindo a anunciada realização de um colóquio sobre Teatro.
Os reumatologistas nacionais há 14 anos que esperam pelo reconhecimento oficial, sabe-se, a propósito da realização do 1º Congresso da especialidade. Um dos participantes revela, em entrevista ao "República", que dez por cento dos portugueses sofrem de reumatismo.
É posto à venda, com a data de 5, um número especial da revista "Flama", dedicado a Angola. São 196 páginas subordinadas ao tema "Angola - Realidade 74", nas quais Luanda surge como a cidade onde tudo se mostra a postos para a "arrancada para um crescimento harmonioso".
As mais recentes estatísticas, indica-se, revelaram a seguinte composição racial da população da capital: 124 mil 817 brancos; 37 mil 974 mestiços e 312 mil 190 negros, num total que não chega a atingir o meio milhão de habitantes (um décimo da população de Angola, e mais do que a de todas as restantes cidades juntas).
O Plano Director de Luanda, revela o presidente da Câmara, José Marques Palmeirim, prevê que a curto prazo, isto é, até 1980, seja atingida uma população de 900 mil habitantes, que quase duplicará, uma década depois.
Durante as cinco semanas de reportagem, os enviados da "Flama" visitaram, entre outras, as cidades de Nova Lisboa - "onde, diz a lenda, o primeiro negro, de nome Féti (princípio) nasceu"; Lobito - "uma cidade em transformação"; Moçâmedes - "a cidade coragem"; Benguela - "cidade mãe das cidades"; Sá da Bandeira - "à espera de ser cidade universitária autêntica"; Malanje - "andar depressa para ganhar a corrida"; Cabinda, "petróleo e madeira, a explosão da riqueza"; e Cuanza-Norte - "um espírito novo nasce dos erros do passado"
"Pedem de Lisboa que não publiquem (ainda) a constituição da delegação portuguesa às exéquias do presidente Pompidou. Coronel Garcia da Silva" Telegrama da Comissão de Exame Prévio do Porto para o "Jornal de Notícias", in "Os segredos da Censura", de César Príncipe, ed. Caminho