Dossier 25 de Abril.09 de Abril

09 DE ABRIL
 
NIASSA E J. PIMENTA
Deflagração a bordo do Niassa, que se preparava para partir com mais um contingente de tropas para o Ultramar. O navio encontrava-se atracado ao cais de Alcântara e poderá seguir viagem na madrugada de hoje, apesar dos estragos provocados pela explosão (ver foto).
Pela terceira vez desde que chegou a Moçambique, o núncio apostólico avista-se com o governador-geral do território. Na semana passada, num inédito reconhecimento da crise atravessada pela Igreja de Moçambique, os bispos locais classificaram de "provação vivificante" os "dolorosos acontecimentos de desinteligência e divisão" protagonizados pela conferência episcopal e pelo bispo de Nampula, à frente dos missionários combonianos.
O chefe do Estado, almirante Américo Thomaz, foi eleito irmão benemérito da Santa Casa da Misericórdia de Cascais. Distinguidos também, entre outros, Jorge de Brito e o industrial João Pimenta, que hoje será notícia uma segunda vez, no "Diário de Lisboa".
"Altas individualidades oficiais honraram a inauguração em Aveiro da delegação de J. Pimenta SARL", titula o vespertino, que concede uma página inteira com fotografia ao acontecimento. "Aveiro figura no roteiro dos nossos próximos empreendimentos urbanos, a exemplo do que se processou ou processa no Porto, Coimbra, Figueira da Foz, Castelo Branco, Praia da Rocha, Sesimbra e Luanda", anuncia João Pimenta (mais conhecido pelo diminutivo publicitário da sua firma). À cerimónia, abençoada pelo padre Messias Hipólito, assistem o governador civil, presidente e vice-presidente da Câmara e comandantes da PSP e GNR.
"Desde há algumas semanas a política portuguesa é o tema predilecto da imprensa brasileira. Ainda hoje o jornal do Brasil publica uma página completa, que me permito juntar. (...) Foi publicado aqui, esta semana, o livro do general Spínola. Está à venda em todas as bancas de jornais, é anunciado por cartazes sensacionais ("o livro que despertou uma nação") e presumo que a edição não teria sido de menos de 100 mil exemplares, dadas as despesas enormes de lançamento e a importância dos direitos de autor pagos em Lisboa: 25 mil dólares. À frente deste movimento está o Carlos Lacerda, editor do livro e seu grande propagandista. Não sei quais os verdadeiros motivos desta atitude. Numa sondagem indirecta tudo o que consegui saber é que 'o livro defende precisamente a ideia da nação tripartida', de que ele, Lacerda, se considera inventor; e que 'é preciso aproveitar esta oportunidade'."
Carta do embaixador no Brasil José Hermano Saraiva, 9/4/1974, in "Cartas Particulares a Marcello Caetano", de José Freire Antunes, publicações D. Quixote
"Com a sua carta chegou o livro que tão mal nos tem feito e os recortes da imprensa brasileira. Estes chegam-me de todo o lado; além do serviço de informação da Presidência do Conselho amigos de cá e de lá mandam-nos pressurosamente. Só não recebo as respostas tão fáceis de dar a esse chorrilho de inexactidões e fantasias, as réplicas vivas e prontas que era preciso publicar nos jornais que nos são afectos. (...)"
Resposta de Caetano a José Hermano Saraiva, seis dias depois, ib.
"O Serviço de Informação Pública das Forças Armadas comunica que morreram em combate os seguintes militares: na província da Guiné, o soldado do R. P. Alfredo da Silva, natural de São José (Bissorá), filho de Mone Intchama e de Irqueca Imbana; no Estado de Angola, os soldados João Francisco Gonçalves Branco, natural do Baixo (Ponta do Sol), filho de João Aguiar Branco e de Antónia Gonçalves Encarnação; Cesário Martins Horta, natural de Salir (Loulé), filho de José da Palma Horta e de Maria José Martins, e casado com Maria Jesus Santos; Arlindo Ferreira Lima da Costa, natural de Santa Luzia (Funchal), filho de José Leonardo da Costa, já falecido, e de Gabriela Ferreira de Lima; e José Avelino de Abreu, natural de Ribeira Real (Câmara dos Lobos), filho de João de Abreu e de Maria Figueira de Abreu; e, no Estado de Moçambique, o soldado Carlos Alberto Ferreira Raposo, natural de São Miguel (Ribeira Grande), filho de José Raposo Vieira e de Maria José Ferreira."