Dossier 25 de Abril.10 de Abril

10 DE ABRIL
 
(foto é Sam seara, cortado censura)
Bispo e padres expulsos de Moçambique
Pela terceira vez em poucos dias, o regime proíbe reuniões sindicais dos bancários para discussão do custo de vida e revisões salarais. Hoje foi em Vila Franca de Xira; ontem, em Torres Vedras; há quatro dias, na Covilhã. Em comunicado, o Sindicato dos Metalúrgicos denuncia estas e outras acções repressivas no Porto, Amarante, Bombarral, Évora, Almodôvar e Arraiolos (onde a GNR tentou impedir, há dois dias, a entrada de trabalhadores de lanifícios, que aí se deslocavam "num passeio-convívio com os seus colegas daquela localidade").
Os serviços de exame prévio proíbem um "cartoon" de Sam, para o número de Maio da revista "Seara Nova", que ainda não o sabe, mas que afinal o poderá publicar no número a que se destinava, instaurada, entretanto, a liberdade de imprensa.
Expulsos pela PIDE/DGS, deixaram hoje Moçambique em direcção a Lisboa e Roma cinco missionários combonianos, de nacionalidade italiana, e dois seculares portugueses. "Também o bispo de Nampula, D. Manuel Vieira Pinto, deixou a sua diocese", escreve-se num telegrama da ANI, que noticia o encerramento dos estabelecimentos comerciais na cidade, em sinal de protesto contra a posição da igreja local, acusada de simpatizante das posições da Frelimo. "Às 10h30, cerca de três mil pessoas concentraram-se junto do Palácio do Governo, pedindo que fossem tomadas medidas urgentes", depois de, no dia anterior, terem partido os vidros do complexo missionário. "Regressados a Nampula, os manifestantes percorreram as ruas da cidade, buzinando, freneticamente, até altas horas da madrugada." A meio da tarde, relata ainda a agência oficial, uma caravana saiu de Nampula "em direcção à missão de Carapira, a 120 quilómetros da cidade, na direcção da ilha de Moçambique, com a finalidade de exigir aos missionários que abandonem Moçambique".
Prista Monteiro (teatro) e Armindo Rodrigues (poesia) ganham o prémio de escritores médicos. O Sporting prepara-se para defrontar logo à noite o Magdeburgo, da ainda Alemanha Oriental. Jogo da primeira mão das meias-finais da Taça dos Vencedores das Taças.
A revista "Gente" visita o casal Perdigão, na sua casa da Ladeira. "Alto, desempenado, vestido em jeito de 'gentleman-farmer'" - eis como o velho e distinto anfitrião surge aos olhos dos repórteres, que lhe seguem as "grandes passadas vigorosas", enquanto o ouvem desfiar histórias rematadas "infalivelmente " com o aviso de que "isto e aquilo não é para publicar". Ouvidos também Madalena e o filho Pedro Paulo. Este "não se furta a dizer de sua justiça", mas, por esquecimento dos autores ou da revista, os leitores ficarão sem saber sobre quê.
"Está tudo conformado
ao triste proprietário.
Mecânicas ovelhas,
na erva de plástico,
têm pastor de pilhas
e cão pré-fabricado.
Flores marginam esse
às peças-soltas prado.
Eléctricas abelhas,
obreiras sem contrato,
daquele herbário extraem
um mel supermercado.
A malhada, no estábulo,
quase manga de alpaca
(é A VACA, sabias?),
dá leite engarrafado.
No céu (para colorir)
a nuvem, pontual,
aguarda a vez de ser
chovida no nabal,
enquanto o Sol dardeja
na eira proverbial.
Já tudo afeiçoado
ao bom do proprietário
(ervas, bichos, moral),
ele conta com os seus
e espera sempre em Deus.
('- Deste corda ao pardal?')"
Alexandre O'Neill, 10/4/74, in "A Saca de Orelhas", ed. Sá da Costa.