Dossier 25 de Abril.12 de Abril

12 DE ABRIL
 
[Foto alterações ao MFA, fotocópia]
Prisão para açambarcadores
É Sexta-Feira Santa, os portugueses foram "à terra". Lisboa é invadida por espanhóis; o Norte, o preferido pelos lisboetas, informa em título "O Primeiro de Janeiro". Ido de Moçambique, chegou a Angola o núncio apostólico em Lisboa, José Maria Sensi. O representante diplomático do Papa passará o Domingo de Páscoa em Nova Lisboa, depois de se ter deslocado a Sá da Bandeira.
Desconhece-se, entretanto, o destino dos padres combonianos expulsos anteontem à tarde de Moçambique. Neste mesmo dia, grupos de colonos manifestam-se diante da missão do Songo (arredores de Cabora Bassa) contra dois padres da congregação dos Filhos do Calvário que tinham dado o seu "fundamental apoio" ao bispo de Nampula, Vieira Pinto, e aos missionários italianos e aos padres portugueses suspeitos de simpatias independentistas.
Uma "esperançosa" Lei de Emergência, "originada pela conjuntura económica", possibilita ao Governo requisitar às empresas industriais, armazenistas e retalhistas "os produtos que não sejam com regularidade lançados no mercado", informa "O Século". A medida tem por fim atacar "frontalmente" açambarcadores e especuladores, que, fica-se a saber, estão a retirar do mercado não apenas produtos de primeira necessidade mas também "matérias-primas fundamentais para a indústria". A lei prevê penas com um mínimo de seis meses de prisão.
A União dos Sindicatos Ferroviários, lê-se em todos os matutinos de Lisboa e Porto, deslocou-se ontem ao gabinete do ministro do Ultramar, Baltazar Rebelo de Sousa, para lhe manifestar o seu reconhecimento pelos benefícios resultantes de alterações ao acordo colectivo de trabalho (ACT) introduzidas por este ministro quando era titular das Corporações e Segurança Social. O líder da União, Olímpio da Conceição Pereira, não se queda, porém, pelos agradecimentos sindicais. Aproveita para deixar dito que o Governo "pode contar sempre com os dirigentes corporativos dos verdadeiros ferroviários" na sua política ultramarina.
"Em princípios de Abril, redigido por Melo Antunes e completado por uma comissão constituída pelo coronel Vasco Gonçalves, tenente-coronel Costa Brás, majores Vítor Alves e Charais, foi submetido à apreciação separada de Spínola e de Costa Gomes o texto da proposta do que mais tarde viria a ser o PROGRAMA DO MOVIMENTO DAS FORÇAS ARMADAS. O texto da proposta viria a sofrer posteriormente profundas modificações. Elementos do MFA nomeados para o efeito (...) introduzir-lhe-iam alterações, resultantes de intransigentes recusas por parte de Spínola. Feriam particularmente a susceptibilidade do general certas determinações, tais como a exclusão do Governo de grupos ou personalidades de extrema-direita, a não autorização de 'associações de carácter fascista', a abolição da censura e a garantia da liberdade sindical (...). Também problemas de redacção 'afligiam' o general Spínola: a proposta de extinção de 'organizações políticas de Juventude'. A própria segunda redacção do Programa não estaria a contento quer de Spínola, quer de Costa Gomes, facto que motivaria novas alterações. A extinção da PIDE/DGS preocupava Costa Gomes, que pressionou no sentido de que fosse salvaguardada a acção da PIDE no Ultramar, facto que viria a motivar nova alteração à redacção do Programa."
Diniz de Almeida in "Origens e evolução do Movimento dos Capitães", edições Sociais
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