Dossier 25 de Abril.13 de Abril

13 DE ABRIL
 
O HABITUAL PENÚLTIMO LUGAR
Cai neve abundante na serra da Estrela. "Única no mundo", a procissão do Enterro foi espectáculo em Braga, atraindo à cidade "um número incontável de forasteiros dos quais sobressaíam, além dos portugueses dos mais variados pontos do país, espanhóis, franceses e ingleses".
Marcello Caetano continua a mostrar o centro do país ao seu convidado, o ex-ministro espanhol Lopez-Rodó. Avançam as obras em Cabora Bassa. Os cinco missionários combonianos "retiraram para a Europa, via Lisboa", diz um despacho de Moçambique, onde se presume que continue o bispo de Nampula, provavelmente na estância turística da Naamacha, a poucas dezenas de quilómetros de Lourenço Marques. Em Nampula, entretanto, o comércio reabriu, afastados o bispo e os missionários, objectos de violenta contestação por parte dos colonos.
Nas páginas de "O Século", Roby Amorim critica o secretário de Estado da Informação e Turismo, Pedro Pinto, por este ter prometido interceder pela abertura da estrada internacional que ligará a Portela do Homem a Espanha. "Se acaso beneficiar o turismo, de maneira nenhuma poderá beneficiar o Parque [do Gerês], o único parque nacional que existe neste país, não se esqueça." Numa outra página do mesmo jornal, o repórter assina a primeira de uma série de reportagens sobre a Cova da Beira - uma região onde, queixa-se, o turismo começa a destruir a hipótese de "transformar a Estrela no segundo Parque Nacional".
Novos aumentos nos telefones merecem grande destaque no Diário Popular, que coloca na primeira página uma saborosa ilustração de José de Lemos (ver acima). Não é caso para menos: uma semana depois de os selos terem sido aumentados em 50 por cento e das chamadas telefónicas terem conhecido um agravamento de 44 por cento, é a vez da instalação de telefones aumentar cinco vezes (de 300 escudos para um conto e 500) e de assinatura mensal quase duplicar, passando de 50 escudos e 20 centavos para 90 escudos.
O vespertino aproveita e dá conta do lugar estatístico ocupado por Portugal, nesta matéria, entre os países membros da OCDE: 92 telefones por mil habitantes, o que significa estarmos em penúltimo lugar entre os 24 parceiros da organização. Com "o novo e excessivo preço ora fixado", , remata o "Popular" esta posição "poderá vir a ser ainda agravada".
Documento
"Em resposta ao v/ comunicado de 4 p.p. e no intuito de não vos deixar sem notícias por mais tempo seguem algumas das informações pedidas (...) [A situação psicológica do pessoal é de]:
a) Expectativa geral apoiada na convicção de que o Movimento não morreu; antes pelo contrário, tem ainda mais motivos para se fortalecer e desenvolver em bases ajustadas às necessidades de não subestimar a experiência policial de cinquenta anos da parte IN [inimigo, isto é, o regime].
b) A nível dos TC [tenentes-coronéis] ainda que psicologicamente haja uma simpatia pelo Movimento, subsiste, em grande parte dos mesmos, uma prudência a atingir as raias do oportunismo (equilibrismo). De qualquer maneira, podemos contar com um número relativo de alguns 'fixes' (...).
[Relativamente à situação na Guiné] Face ao futuro, pessimismo generalizado, encontrando-se o pessoal do mato bastante desmoralizado, uma vez que se torna mais notória, sensível e actuante a iniciativa operacional por parte do PAIGC. Significativo agravamento do diferencial entre o potencial de meios das N [nossas tropas] e daquele.
(...) Sobre os oficiais que vão acabando aqui a s/ comissão há dois pontos para que pedimos a v/ urgente atenção:
1º - Modo como os integrar na organização daí;
2º - Cuidados a ter sob o ponto de vista psicológico com esses oficiais dada a 'tesão' que levam do ultramar para a metrópole e que pode levar às atitudes já conhecidas (...)."
Relatório da Comissão do Movimento das Forças Armadas na Guiné, datado de Bissau, 13/4/74
"Carrazedo do Alvão, 13 de Abril de 1974 - Dólmens. Tento ler neles não sei que recado dos antepassados. Não é impunemente que se nasce em São Martinho de Anta, ou das Antas, como às vezes vem escrito. A minha memória arcaica exige-me de quando em quando estas visitas tumulares. São os meus dias de fiéis defuntos."
Miguel Torga, in "Diário XII"