Dossier 25 de Abril.15 de Abril

15 DE ABRIL
 
foto: Eusébio
Bispo de Nampula detido no aeroporto
Estupefacção na Curia Geral dos Religiosos Combonianos, em Roma: D. Manuel Vieira Pinto, bispo de Nampula, não chegou, ao contrário do que anunciara ontem, em telefonema feito de Moçambique. Fontes desta congregação suspeitam que o prelado tenha sido retido pela polícia portuguesa na escala do avião em Lisboa.
A suspeita tinha razão de ser, mas só amanhã os portugueses o saberão, em termos elípticos, através de uma nota do Ministério do Ultramar. Por agora, a embaixada de Portugal junto da Santa Sé limita-se a dizer aos jornalistas italianos que as actividades do bispo e dos onze missionários expulsos de Moçambique tinham suscitado vivos protestos, "não só dos europeus mas também dos portugueses africanos". E acrescentou: "Em vez de pregar o Evangelho, incitavam à revolta." O professor Federico Alessandrini, informador do Vaticano, declarou, a propósito, que o núncio apostólico em Lisboa "fez tudo para impedir uma partida especialmente dolorosa" e que "prosseguem sem tréguas" os contactos da Santa Sé com o Governo de Lisboa.
Greves na UCAL, Siemens, Motra, UTIC, Phillips Portuguesa e Fábrica Portuguesa de Artigos Eléctricos. Em comunicado, a direcção do Sindicato dos Bancários protesta contra a proibição governamental de uma assembleia geral para tratar da revisão salarial (ver documento em baixo).
Em exibição desde anteontem começam a surgir as primeiras críticas a "Eusébio, a Pantera Negra". O filme é lamentável, parece. O próprio Eusébio, que o tinha visionado, não gostou, diz a revista "Cinéfilo", posta à venda no dia da estreia. A revista dirigida por Fernando Lopes lamenta: "Que polémico filme se poderia ter feito se os interesses em jogo não fossem movidos pela mera sede de lucro fácil." Alheia a estas "subtilezas", a assistência, segundo contam os jornais, não só saudou Eusébio à sua chegada ao cinema Politeama, em Lisboa, como não se coibiu de ovacionar as jogadas que o mais famoso jogador de sempre do Benfica e da selecção nacional foi protagonizando no ecrã.
"Dada a subida galopante dos preços, foi deliberado, na última Assembleia Geral, efectivar uma outra para tratar, unicamente, da Revisão Salarial dos Bancários. A direcção (...) resolveu marcá-la para o próximo dia 20, dando desse facto conhecimento, como é norma, ao governador civil de Lisboa. Foi com surpresa que recebemos do governo civil um telefonema informando que a Assembleia Geral não se podia realizar em virtude de parecer desfavorável do Ministério das Corporações. Dias antes, o governador civil de Castelo Branco e os vice-presidentes das Câmaras Municipais de Torres Vedras e Vila Franca de Xira não autorizaram reuniões entre a direcção e os trabalhadores que representa. (...) Com vista a sabermos de fontes oficiais as respostas a estas perguntas e qual o papel do Ministério das Corporações no meio de todo este clima repressivo e violento, dirigimo-nos a este departamento governamental (...) Fomos recebidos por dois funcionários do Serviço de Acção Social, tendo-nos informado duma forma clara que:
1. As proibições resultam de uma orientação genérica a nível do Governo.
2. A causa das proibições reside numa 'conjuntura sindical' nada propícia a reuniões amplas fora dos sindicatos.
3. Tendo por nós sido solicitada a clarificação do que se entende por 'conjuntura sindical' foi replicado que existe uma grande 'efervescência' nos sindicatos.
4. Enquanto durar a dita 'conjuntura' (...) não haverá, qualquer que seja o sindicato, fora das suas instalações, quaisquer tipos de reuniões, com excepção de Assembleias destinadas a eleições.
5. Solicitado por nós qual era a duração de tal 'conjuntura', foi referido que não se sabia, mas que a Assembleia marcada para o dia 20 não se realizaria, com certeza."
Informação 15/74 do Sindicato Nacional dos Empregados Bancários do distrito de Lisboa