Dossier 25 de Abril.16 de Abril

16 DE ABRIL
 
O público não pode reagir
Uma nota da PIDE/DGS, a polícia política do regime, informa que "com base nas averiguações feitas foram detidos 15 indivíduos em Lisboa e 15 no Porto", implicados em "acções revolucionárias no 1º de Maio". Uma brigada apreendeu "largos milhares de exemplares de panfletos revolucionários" nas oficinas do semanário oposicionista "Notícias da Amadora".
MDP e PS pronunciam-se, em documentos condenados à clandestinidade, sobre os acontecimentos de 16 de Março. O primeiro considera que a revolta dos 200 oficiais não constituiu um facto isolado; o PS, fundado meses antes numa reunião na Alemanha Federal, entende também que os acontecimentos militares devem ser analisados dentro de um contexto mais vasto, classificando-os de "fenómeno de decisiva importância para accionar os mecanismos de desagregação do poder".
Também limitado a mãos e olhos de clandestinidade, começa a circular o número de Abril do jornal "Avante!", órgão central do PCP (na foto). Para os dirigentes comunistas, o crescendo das movimentações sindicais e operárias e a sublevação das Caldas provam que o país quer uma mudança do regime, o fim das guerras coloniais e a instauração das liberdades democráticas. O jornal diz que os presos políticos têm vindo a aparecer nas visitas "com evidentes sinais de que foram torturados". Em simultâneo com a "cruel tortura do sono" aos presos políticos, "estão a tornar-se sistemáticos os selváticos espancamentos a chicote ou a cavalo-marinho", denuncia o jornal.
O Ministério do Ultramar divulga entretanto uma nota oficiosa sobre "o regresso à metrópole do bispo de Nampula" e a "saída" dos 11 missionários combonianos do Estado de Moçambique, acusando-os de, "em união com o seu bispo", serem responsáveis por "um documento altamente ofensivo da nação portuguesa e também da hierarquia da Igreja, pondo em causa as relações entre Portugal e a Santa Sé".
Esta e "outras atitudes antinacionais" provocaram "viva reacção nos mais diversos meios da população" e levaram as autoridades a "determinarem a saída daquele estado dos referidos missionários". As autoridades locais suspenderam a ordem, a pedido do núncio apostólico, que se deslocou a Moçambique e ali permaneceu entre 19 de Março e 9 de Abril. Criou-se, porém, "uma difícil e dolorosa situação" provocada pelas reacções de "grande hostilidade da população", o que levou as autoridades locais a conduzirem o bispo e os missionários, "para salvaguarda da sua segurança e com a sua aquiescência", para outros pontos do território.
"Não havendo diminuído com esta providência a tensão existente, tiveram os missionários de abandonar o estado." Quanto ao bispo, "envolvido no mesmo ambiente de hostilidade, deliberou deixar Moçambique". Chegado ao aeroporto, e "após curta permanência numa das salas destinadas a altas individualidades, seguiu para a residência de familiares", conclui a nota, que omite o desejo de D. Manuel Vieira Pinto seguir viagem até Roma, em vez de ficar, em autêntico regime de residência fixa, na casa de familiares no Cartaxo.
"Sobre aumentos dos correios e telefones - não se pode falar em 'público reage'. A propósito da reportagem, o senhor coronel Saraiva não viu inconveniente nenhum, pois ele até ficara 'desgostoso', termo que satisfaz nestas coisas de novos preços. O público reagir é que não, pois dá ideia de barulho, de contestação agressiva (23h38)." "Assembleia Geral Extraordinária do Automóvel Clube de Portugal - MANDAR. TEM CORTES. Política francesa: qualquer nota da Redacção tem de ser visada. Dr. Ornellas."
Telegramas de 16/4/74 da Comissão de Exame Prévio do Porto para o "Jornal de Notícias", in "Os Segredos da Censura", de César Príncipe, ed. Caminho