Dossier 25 de Abril.19 de Abril

19 DE ABRIL
 
Cravos a 20 escudos
Dois minutos e meio é quanto bastará esta manhã a quatro mascarados, empunhando pistolas de guerra, para esvaziarem os cofres da agência no Bombarral do Banco Português do Atlântico. Em primeiro plano, num belo flagrante do anónimo repórter fotográfico de "A Capital", que reproduzimos, um homem flecte o corpo para retomar a marcha, puxando a carroça, diante do banco.
Num colóquio sobre a política energética e a crise do petróleo, organizado ontem à noite pela Sedes, o DL diz que se concluiu "ser necessário que Portugal se empenhe, desde já, na procura de novas fontes de energia, como as centrais nucleares". Dado o interesse do debate, em que participaram, entre outros, o administrador-delegado da Shell Portuguesa, João Lencastre, o director-geral dos Combustíveis, Moura Vicente, João Salgueiro e João Botequilha (moderador), decide-se consagrar outra reunião ao tema. O mesmo jornal dá grande relevo, no seu suplemento "Mesa Redonda", ao livro "A raia de Portugal: fronteira do desenvolvimento", de António Pintado e Eduardo Barrenechea, no qual se documenta a "grande bolsa de pobreza e atraso ao longo da fronteira".
Os matutinos transcrevem, praticamente na íntegra, o discurso de Moreira Baptista, na cerimónia de posse do novo governador civil do Porto, conselheiro Mário Leal. Interrompido, "em vários momentos, por aplausos", o ministro do Interior - que nesta qualidade se deslocou pela primeira vez ao Porto - fez o elogio do "burguês portuense" e do conservador, que define como "o que deseja manter o que vale a pena, sem voltar as costas ao que o progresso possa trazer de útil e oportuno". Para a viagem, assinala "O Século", Moreira Baptista "escolheu o mais democrático dos meios de transporte ao seu alcance: o comboio". Enlevado, o jornal descreve como o ministro venceu a distância: "ora entretido na leitura, ora contemplando a paisagem através das amplas 'vidraças' da carruagem".
No Tribunal Plenário do Porto, o desembargador Santos Carvalho presidiu ontem e volta a presidir hoje ao início do julgamento de Joaquim Carreira, operário vidreiro da Marinha Grande. O réu é acusado de ter feito uma intervenção "em formas não consentidas na Constituição Política", durante a reunião plenária da CDE do distrito de Leiria, realizada em 9 de Setembro passado. É preciso esperar por amanhã para sabermos um pouco mais claramente o que Joaquim Carreira (esse mesmo, recentemente expulso do PCP) fez para comparecer, preso, diante dos juízes do regime.
Encarregado de "penetrar" na Emissora Nacional, o tenente miliciano Luís Pessoa encontra-se na café Califa, junto da segunda circular, em Lisboa, com dois oficiais, Otelo Morais e Amado, que se comprometem a deslocar-se aos estúdios da Rua do Quelhas, para aí efectuarem um estudo de situação cujos resultados serão posteriormente comunicados a Otelo Saraiva de Carvalho. Logo que soube que o Movimento se dispunha a assegurar as liberdades democráticas e tinha em vista a resolução do problema colonial, Pessoa (conta Diniz de Almeida no seu livro "Origens e Evolução do Movimento dos Capitães") pusera à disposição de Otelo dez companhias comandadas por milicianos pertencentes a uma organização "infiltrada em quase todos os quartéis".
Uma florista queixa-se, na Praça de Alcântara, de que vende cada vez menos flores. "Só aos sábados é que as pessoas compram um raminho para alindar as casas". O repórter do DL dá-lhe toda a razão: as ervilhas de cheiro já vão em cinco escudos, os jarros em 15 escudos, as rosas vermelhas em 25 e até os cravos (sem distinção de cor) atingiram os vinte escudos!
"Traineiras não foram ao mar - PROIBIDO. Assalto ao banco - não pôr, em título, a importância, nem pôr jovens, nem dizer idade. A frase: 'tenham calma. Isto não é nada convosco' - CORTAR. Coronel Garcia da Silva".