Dossier 25 de Abril.20 de Abril

20 ABRIL
 
"Se tivéssemos uma social democracia..."
Portugal oferece flores (cravos vermelhos no Chiado, como diz a legenda da foto aqui reproduzida, do Diário Popular) e as Cartas de Soror Mariana em inglês, francês e alemão aos estrangeiros que visitam o país. É o Dia do Turista, a coincidir com o desembarque de uma tripulação " de cabelos compridos e sem grandes preocupações pessoais" no Porto de Lisboa. Saíu da fragata holandesa Vam Gallen, juntando-se a centenas de marinheiros de uma frota multinacional que tem vindo a rumar, nos últimos dia, às costas de Portugal, onde a NATO prepara exercícios.
Incêndio, de madrugada, destrói grande parte da Universidade do Porto.
O Expresso defende, em editorial, a necessidade e urgência do "florescimento" de associações políticas em Portugal. Três grandes notícias de carácter económico ocupam boa parte do espaço de primeira página deste semanário: a Companhia portuguesa de electricidade prevê a entrada em funcionamento do seu primeiro reactor nuclear em 1981; o governo autorizou Miguel Quina a localizar um estaleiro de reparação naval na Cova do Vapor; Chamalimaud pediu autorização para abrir um banco de investimento em Angola e instalar uma frota de navegação de longo curso para o comércio entre Moçambique e Angola.
Termina, no plenário do Porto, o julgamento de Joaquim Carreira. O réu vem acusado de ter incitado os presentes numa reunião plenária da CDE, realizada em Leira em Setembro passado, "a uma acção violenta, depois de ter proferido expressões depreciativas da actividade do governo".
O juiz dá como provado que o réu incitou "voluntária e conscientemente as pessoas a uma acção violenta, mas, no entanto, sem indicar o modo". Joaquim Carreira sai, desta forma, condenado em 135 dias de prisão, 135 dias de multa a 20 escudos e na suspensão dos direitos políticos por três anos, além das custas e do imposto de justiça.
Na residência em Cascais de um dos militares, Otelo S de C termina a distribuição das missões, por sectores, às unidades do Movimento que irão participar no derrube do regime. Combina-se lançar o boato de que os capitães se preparavam para actuar a seguir ao 1º de Maio, de modo a lançar a confusão entre os meios afectos ao regime. A conjura entra na sua fase final (ver texto em baixo)
São dadas como prontas e batidas à maquina por Hugo dos Santos as versões do programa-base de Melo Antunes , a proclamação ao país que será lida no dia 25 aos microfones do Rádio Clube Português e os termos de um protocolo secreto a acordar entre a Junta de Salvação Nacional e o MFA. Este, que nunca chegará a ser assinado, estabelece, no seu número um: "O Movimento das Forças Armadas não colaborará na instauração de uma ditadura militar no País, mas lutará pela implantação em Portugal de uma democracia política".
"Nas vésperas do Dia D, Vasco Gonçalves, que já tinha assistido a fracassos anteriores, cogitava para Vítor Alves (...): 'Ah! Se o Movimento conseguisse ganhar, como era bom daqui por uns dois anos, termos uma social-democracia em Portugal! Mas isto é muito difícil, sabe? Os tipos têm um aparelho muito forte.'
(...) Em 20 de Abril (...) Vítor Alves perguntou-me, céptico, cofiando a barba, qual era a percentagem de probabilidades de êxito que eu atribuía às nossas forças.
- Não entrando em linha de conta com os imponderáveis, garanto uma probabilidade de êxito de oitenta por cento para uma vitória concretizada em doze horas a partir da Hora H.
Vítor manteria, até ao fim, a sua incredulidade. Olhando-me, estupefacto, comentou:
- Booolas! Se me tivesses respondido com vinte por cento de probabilidades eu já tinha achado sensacional! (...) Não estarás, como de costume, a ser demasiado optimista?"
Otelo Saraiva de Carvalho, in Alvorada em Abril, ed. Bertrand