21 DE ABRIL
 
A última ceia
(foto almoço Thomaz)
 
Estão lá todos: o Presidente, o chefe do Governo, os ministros, as grandes figuras do regime. Não o sabem, mas esta é a última vez que celebram no Palácio de Belém. Ainda a semana não terá acabado, e já o anfitrião, Américo Thomaz, com os mais destacados governantes presentes neste almoço (ver foto) estarão a caminho do exílio.
Mais dois padres e uma freira abandonam Moçambique. "Não fomos expulsos", dizem aos jornalistas. "Saímos porque achámos conveniente que assim fosse..." A Frelimo atacou em Tete.
A notícia da homenagem a Óscar Lopes - particularmente fustigada pela Censura - surge reduzida à sua expressão mais simples, de modo a que os leitores não fiquem a saber nada do que durante ela se disse. Como exemplo, atente-se neste trecho, publicado em "O Século": "Abriu a série de discursos o presidente da mesa, dr. Armando de Castro. Depois de ter falado o sr. João Viana Jorge, director do jornal promotor da iniciativa, usou da palavra o jornalista e escritor Urbano Tavares Rodrigues. (...) No final, por entre aplausos, o dr. Óscar Lopes agradeceu a homenagem."
O filme "A Promessa", de António Macedo (baseado na peça de Bernardo Santareno), é proibido na Hungria. "Fico muito contente por saber que o meu filme também teve problemas com a censura de um país de Leste, pois isso significa que ele transcende qualquer ideologia", comenta o autor.
Vildemoinhos, às portas de Viseu, constitui um caso exemplar no desporto, elogia um jornal. A pormenorizada reportagem aponta, porém, algumas das razões de queixa da equipa local, o Lusitano Futebol Clube. Uma delas: Carlos Lopes foi trocado por um equipamento para os jogadores do clube, "mas o equipamento nunca chegou a vir todo".
"Uma vez eu, chegado a Portugal
após muitos anos de ausência minha e alguns
de guerras africanas, encontrei uma vizinha
muito estimável que era casada com
um operário categorizado e antigo republicano.
O filho dela estava nas Áfricas, arriscando
a vida dele e a dos outros em defesa
do património da pátria de alguns (muito mais
que das gerações brancas que vivem nas Áfricas).
Eu condoí-me, todo embebido de noções políticas.
E ela, com um sorriso resignado, respondeu-me:
- Pois é, mas ele está a ganhar tão bem!
SB [Santa Barbara, Califórnia] 21/4/74"
Jorge de Sena, in "40 Anos de Servidão", Moraes Editores