ERA UMA VEZ UM MILÉNIO
Em tempo de mudança a História do século XX
A Ciência, Literatura, Arte, Filosofia, Política
Terminamos hoje a conversa com Vasco Lourenço, recordações da preparação do golpe militar do 25 de abril de 1974. Encontros, reuniões, nomes, etapas num processo intensamente vivido por Vasco Lourenço.
As reuniões de preparação foram ganhando adeptos e a cautela nunca era de mais. A desculpa sempre credível para essas reuniões era a de se estar a discutir o prestígio das Forças Armadas conforme nos conta Vasco Lourenço em conversa com Fernando Rosas.
Vasco Lourenço – No dia seguinte fomos chamados ao Sá Viana Rebelo que mostra claramente que nós temos portanto, que tem conhecimento do que se está a passar e tem comigo, portanto, tem uma conversa individual com cada um de nós e a minha eu reporto-a, a do Dinis de Almeida ele reportará, mas a minha, a certa altura ele dizia-me, mas vocês andam em reuniões? E eu atirei-lhe sempre com o mesmo argumento que nós usávamos permanentemente, andamos sim senhor, andamos a discutir o problema do prestígio das Forças Armadas e isso não há ninguém que possa impedir. Aliás o senhor é coronel, com certeza interessa-lhe o problema do prestígio das Forças Armadas, venha daí à próxima reunião que eu convido-o. E ele, não, não quero ir a reunião, mas então não me diga que eu não posso andar em reuniões a discutir o prestígio das Forças Armadas e portanto ele olha para mim e disse assim. Pois é, mas em Óbidos não discutiram só o prestígio das Forças Armadas. Ah isso foi, foi isso que nós discutimos. Não, vocês discutiram três hipóteses e uma delas não tem nada que ver com o prestígio das Forças Armadas. E eu engoli em seco, engoli em seco e digo-lhe rapidamente. Tem razão, mas prevaleceu o bom senso e nós não fomos para essa hipótese, fomos para a hipótese de continuar a discutir, a contestar e a discutir o problema do prestígio das Forças Armadas.
Fernando Rosas - Eles tinham informações...
Vasco Lourenço - Eles tinham informações fundamentalmente através da ligação do Mariz que saiu, mas ficou sempre a dar informações e através de indivíduos que estavam no Movimento e davam informações e portanto ele olhou para mim e diz-me assim. Bom, você sabe, percebe alguma coisa de futebol. Eu gosto muito. Estava na altura, tinha começado a moda dos cartões, isto hoje é curriqueiro, mas estava precisamente naquela altura a começar. Olhe então considere que eu acabei de lhe mostrar o cartão amarelo. Eu olhei para ele e se o problema é esse, bom, mostre-me já o vermelho porque não ganha nada em estar a mostrar-me o amarelo. Não, não, você é recuperável, você é recuperável. De maneira que nós continuámos e a certa altura começámos a discutir a necessidade de avançar porque e eu referi agora o problema do prestígio das Forças Armadas. Qual foi a nossa estratégia e táctica desde o início, nós agitámos a bandeira do prestígio das Forças Armadas e portanto foi muito fácil constatar que as Forças Armadas estavam desprestigiadas. O Decreto Lei tinha aspectos que acentuavam esse desprestígio, nomeadamente quando transformavam um curso de quatro anos que era o curso da Academia Militar que era considerado um curso superior num curso de dois semestres intensivos e portanto isso é desprestigiante, não podemos aceitar e portanto batemos nessa tecla. Depois isso foi extraordinariamente fácil convencer a generalidade das pessoas, depois houve que responder à pergunta. Então, mas estão desprestigiadas porquê? Estão desprestigiadas perante a nação, perante os portugueses e aí a resposta também foi relativamente fácil. Porquê? Porque são vistos como suporte útil dum governo de ditadura, dum governo ilegítimo, dum governo que mantém e impõe uma guerra injusta e sem sentido e aí vem o problema da guerra colonial que era o problema que estava subjacente em permanência. Bem, e então vem a pergunta lógica. Então, o que fazer? Deixar de ser o suporte do governo. Como? Fazendo um golpe militar e portanto isto é todo um processo muito rápido
Fernando Rosas - E quando chegam a Cascais?
Vasco Lourenço - Nós chegamos portanto, em princípios, já em Janeiro, nós discutimos em Janeiro a necessidade de avançar para um documento, estamos e eu aí tenho, mais uma vez acho que tenho alguma importância nisso porque estamos a discutir que tipo de documento, é o José Maria Moreira de Azevedo que era um major, hoje coronel de Administração Militar que ficou encarregado de elaborar um projecto e eu quero ir mais avançado, entrar já em questões de natureza política e sou eu que o convenço e que digo. Nem pensar nisso, tu tens que aparecer com um documento mais atrasado que aquilo que tu queres e vais aparecer com um documento quase só com questões corporativas. “Isso está ultrapassado, não sei quê”. Eles entretanto tinham feito um aumento de vencimentos. Nós chegámos a discutir se devíamos lançar a palavra de ordem - ‘Não aos aumentos de vencimento’, mas depois deixámos cair porque lá vinha o tal problema da dor de barriga e não vamos para um documento quase só com questões corporativas e vamos fazer uma reunião para o discutir. Fazemos uma reunião em fins de Janeiro em casa do coronel Marcelino Marques, ali nos Olivais, onde aparece então uma reunião muito importante onde aparece pela primeira vez o Melo Antunes, aparece o Costa Brás, pela primeira vez, o Charais, e penso que o Garcia dos Santos também e porquê? Porque muitos desses e nomeadamente o Melo Antunes dizia “É pá, esses gajos andam para lá a discutir decretos e não sei quê, isso não interessa nada”. Aliás, o Fabião, um dia, aí em Setembro-Outubro de 73, numa reunião tinha-me dito - “Quando for preciso pegar numa espingarda, chama-me porque enquanto andarem com papéis, não estou interessado nisso”. E eu disse-lhe: “Pois é, mas é que para chegares à espingarda precisas de passar por essa fase dos papéis”. Bem e o que é facto é que nessa reunião, em casa do Marcelino Marques, recordo-me que a certa altura viro-me para o Otelo, estava a direcção a dirigir a reunião, viro-me para o Otelo e digo: ”Quem é esse gajo, pá?” Eu não conhecia o Melo Antunes. “É o Melo Antunes, pá, um major que foi de artilharia, o gajo foi candidato pela CDE às eleições, pá, em 69”. E eu “Ah! Temos homem, pá! Estamos em casa, pá!” E aí o José Maria Moreira de Azevedo levou uma tareia por causa do documento estar muito pró, que ele não queria. Bem, a certa altura irritou-se, atirou com os livros ao chão - “Eu não estou para vos aturar, eu não quero saber mais nada disto. Eu vou-me embora”. Eu puxei-o e disse: “Estás a ver que estamos a atingir o que queríamos. Se tivesses trazido um documento mais avançado estavas a levar tareia porque estavas longe de mais. Estás a levar tareia porque estás muito aquém daquilo que a malta quer e agora vai sair daqui uma posição, vai ser dado um salto qualitativo muito mais do que tu alguma vez imaginaste.” “Mas não estou para vos aturar”. “Não, mas atingimos os objectivos e agora vais ficar na comissão de redacção do próximo documento.” E ele. “Nem penses nisso!” Mas acabou por ficar e portanto fizemos duas comissões e começámos a discutir um documento, entretanto passou-se aqueles acontecimentos na Beira, em Moçambique, que nós aproveitámos aqui portanto para agitar mais, permitiu-nos também uma ligação maior ao Spínola e ao Costa Gomes e entretanto desembocamos em Cascais.
Fernando Rosas – O Spínola e o Costa Gomes nessa altura, Janeiro, estão a acompanhar o processo.
Vasco Lourenço - Pouco, muito ao longe, muito longe e é entretanto os ex-milicianos, aqueles que tinham estado por causa do decreto, se tinham constituído em grupo antagónico ao nosso porque se consideravam, digamos assim, os atingidos pela nossa reacção. Agarram-se ao Spínola a pedir-lhe apoio. O Spínola promete-lhes apoio e ficam ligados ao grupo spinolista e nós só nos vamos juntar todos em Cascais e em Cascais então surge já, de facto, um documento. [Fernando Rosas - A data de Cascais?] 5 de Março [Fernando Rosas - 5 de Março] surge de facto um documento que é muito importante porque primeiro não é fruto do acaso, é resultado destas várias discussões que eu referi aqui algumas e outras houve, uma série de discussões e o documento é apresentado que é “O Movimento das Forças Armadas e a Nação” e que é aprovado, é aprovado e essa reunião de Cascais vem a ser a última grande reunião e é importante porquê? Aprova esse documento, é assinado por 110 dos presentes, aprovam o documento. [Fernando Rosas – É um documento já claramente político] Claramente político e que portanto tinha sido obtido duma forma rápida mas consciente, mas consciente. Aliás, há uma grande discussão com os tipos da Força Aérea que dizem que não podem votar porque não podem aceitar e mais uma vez se levanta o problema da autodeterminação e independência porque isso é traição e está-se ali a admitir traição. Isto em Cascais, a 5 de Março, os tipos da Força Aérea portanto não aprovam as posições que são lá aprovadas o que faz com que a Força Aérea praticamente não entre no 25 de Abril. Depois é aprovada, é tomada a decisão de que vai ser feito um golpe militar. É em Cascais que é tomada essa decisão.
Fernando Rosas - Nas conversas que temos tido aqui essa questão não é clara.
Vasco Lourenço - Não, não. Está clara, está clara. Está clara. Em Cascais tomam-se decisões muito importantes porque primeiro, é aprovado o documento, é aprovado o documento como base dum programa político. É decidido fazer o golpe militar, é reafirmado a escolha de dois chefes militares, Costa Gomes e Spínola, aqui já numa paridade menor, uma paridade não, uma diferença menor enquanto em Óbidos tinha sido da ordem dos seis-oito/um, aqui foi da ordem dos quatro/um porque os spinolistas estavam lá todos em peso e os milicianos todos ao lado dele e portanto o Spínola ainda perdeu e perdeu quatro-um ainda é muito, não é, mas são aprovados os dois, são aprovados os dois, mas como outra questão que vem a ser muito importante e que se vem a reflectir depois em todo o processo de 16 de Março e por aí fora que tem que ver com o haver ou não programa político. Os spinolistas defendem que não é preciso programa político e vence a teoria de que e queriam dar um cheque em branco ao generais escolhidos para eles, o Spínola, e vence a teoria não. Nós vamos aprovar um programa político, vamos contactar estes dois generais para chefes e ele só será aceite se aceitarem o nosso programa político. Quem define o programa somos nós e depois é dado um voto de confiança da Comissão Coordenadora e da Direcção para, mantendo-a e dizer-lhe que ficava com o voto de confiança para levar para a frente essas várias decisões.
Fernando Rosas - Da Comissão Coordenadora?
Vasco Lourenço - A Comissão Coordenadora e a Direcção e portanto e é logo mesmo ali logo que eu me viro para o Melo Antunes e digo: - “Estás nomeado para coordenar a comissão de redacção do programa.” E portanto isto em Cascais. É evidente que o poder sabe isto, sabe isto e reage, e reage e todas as reacções em cadeia que se vêm a verificar a seguir. Por exemplo, o accionar do processo em relação a mim e a mais três capitães que estávamos já denunciados como uma das células da ligação e o transferirem-nos, três para as ilhas e um...
Fernando Rosas - Isso é quando, a vossa transferência?
Vasco Lourenço - É dia 9 de Março, recebemos dia 8 a ordem [Fernando Rosas - Quatro dias depois] Quatro dias depois. Dia 8 recebemos a ordem, três depois, amanhã segue para os Açores. Pronto, depois com aquelas peripécias do Movimento ter decidido que não seguíamos, que nos raptava, depois entrou tudo em prevenção rigorosa. A seguir, portanto, nós entregamo-nos e ficamos presos, três capitães, dois dos três transferidos porque o outro saiu de casa a tempo antes de ser apanhado e metido no avião e mandado para a Terceira e um que nos foi entregar que foi o Pinto Soares que nos foi entregar e ficou preso connosco na Trafaria. Depois dá-se a “brigada do reumático”, estamos a 14. Entretanto, nós estamos presos na Trafaria desde o dia 10 e o Movimento, havia uma palavra que era sagrada, havia uma condição sagrada. Nós sabíamos que no dia em que um de nós fosse preso ou detido ou castigado de outra maneira e o Movimento não reagisse, isso significava a perda, a destruição do Movimento e portanto era uma questão de honra nossa reagir e portanto o movimento prepara-se para reagir e no dia 11 discute um primeiro programa, uma primeira ordem de operações para fazer o golpe militar por causa da nossa prisão. No dia 12 voltam a reunir e os pára-quedistas aparecem e não aceitam a ordem de operações e dizem, essa ordem de operações está feita em cima do joelho e portanto nós não entramos num golpe destes com esta ordem de operações e comprometem-se a apresentar até dia 18 uma ordem de operações feitas por eles para fazerem efectivamente o golpe. No dia 14 há a “Brigada do reumático” e no dia 15 o grupo spinolista que tinha perdido em Cascais quando defendia sim ao golpe, mas sem programa político, vai aproveitar, portanto, a perturbação lançada pela demissão dos dois generais, pela reacção da “brigada do reumático” e a demissão do Costa Gomes e do Spínola e a efervescência que havia já com a nossa prisão e vai recuperar o plano de operações, a ordem de operações que tinha sido chumbada no dia 12 e vai tentar executá-la no âmbito do Movimento, mas tudo feito em cima do joelho e passa-se efectivamente uma coisa que, na minha opinião, tem importância fundamental para evitar que mesmo o feito em cima do joelho depois não tivesse havido nenhuma possibilidade de resultar. Eu era o responsável pela ligação, portanto toda a ligação, toda a área operacional era eu que a controlava e que a coordenava. Eu tinha saído de cena há quatro dias, cinco dias. Portanto nada estava, nada estava ainda reorganizado, digamos assim e portanto quando eles tentam executar o golpe no dia 15 e, por exemplo, o Casanova Ferreira aparece em Santarém para o Salgueiro Maia e a dizer é preciso sair amanhã e o Salgueiro Maia diz, mas espera aí, o que eu combinei com o Vasco Lourenço é que preciso de 48 horas para me armar. Portanto eu amanhã não posso sair. Quando a seguir chegam a Mafra e dizem é preciso sair e a Mafra foi o Otelo que lá foi. É preciso sair e a malta disse, mas nós estamos em exercício no mato, como é que podemos sair. Portanto a ligação não funcionou e portanto tudo isto em conjunto faz com que o 16 de Março falhasse, mas falhasse com situações caricatas porque é preciso ver porque, apesar de tudo, o Movimento estava de tal maneira expandido já que o BC5 são as tropas que vão ali para a zona do RALIS para fazerem frente à malta que vinha das Caldas, o Comandante principal operacional lá a comandar a Companhia era o Luís Filipe Pires que era um homem nosso. “O que é que eu faço?” “Para já vais ver” foi o que o Otelo lhe disse na altura, Mafra recebe ordem para mandar uma Companhia para fazer a segurança na área de Torres Vedras ou de Vila Franca de Xira para se fosse necessário. Rapidamente trocaram, pegaram num indivíduo nosso e puseram-no a comandar a Companhia, era um indivíduo nosso que estava ali. Fizeram-se uma série de acções destas que, não tendo, portanto, favorecido o golpe, estavam no entanto em condições de evitar que houvesse o confronto, se fosse caso disso.
Fernando Rosas - O Vasco Lourenço vai para os Açores, efectivamente.
Vasco Lourenço – Eu vou para os Açores no dia15. [Fernando Rosas - Na véspera portanto] No dia 15, eu fico portanto preso na Trafaria entre 10 e 15 e vou, com várias peripécias...
Fernando Rosas - Quem toma o comando operacional do Movimento nessa altura é o Otelo?
Vasco Lourenço - A seguir portanto a Direcção depois disso penso que aí por volta do dia 20-25 de Março faz uma nova reunião e reformulou portanto a responsabilidade dentro da Direcção. O Otelo deixou o Secretariado e passou para a parte operacional, o Vítor Alves passou para a parte política e o Sousa e Castro avançou para coadjuvar o Otelo para a ligação. Portanto eu tinha a parte da ligação e o operacional que eu tinha ficou o Otelo e o Sousa e Castro.
Fernando Rosas - Exactamente e o Vasco Lourenço só vai voltar dos Açores
Vasco Lourenço – No dia 28, no primeiro avião que veio.
Fernando Rosas - Como é que soube do golpe lá?
Vasco Lourenço - Eu estava em ligação, com algumas dificuldades por causa da PIDE e por razões de segurança, mas a certa altura aproveitei a ida lá dum capitão da Força Aérea que era do Movimento, foi lá acompanhar um curso, uma visita de estudo de coronéis, fiz-lhe um código que era minha especialidade de criptólogo e dei-lhe para ele dar ao Otelo e pedia-lhe, dás isto ao Otelo para que o Otelo me mande um telegrama para a sogra do Melo Antunes. [Fernando Rosas - O Melo Antunes estava na mesma ilha?] O Melo Antunes chegou e estávamos os dois no quartel general, chegou oito dias depois de eu lá estar e mostrou-me, descansou-me quanto ao 16 de Março porque eu não sabia se o 16 de Março tinha sido a ‘debacle’ nossa e disse-me, descansou-me. Disse-me, olha, as coisas continuam e tens aqui o rascunho do programa que veio a ser o programa do MFA que ele levava e começámos a conspirar lá, a preparar-nos para intervir lá e então eu pedi ao Espedinho que era esse capitão da Força Aérea para trazer o código e dar ao Otelo e na sexta-feira, no dia 24, à tarde, a sogra do Melo Antunes recebeu o seguinte telegrama: – “Tia Aurora segue Estados Unidos da América 25 03 00. Um abraço. Primo António” Portanto, o que interessava era o 25 03 00. Eu mandei-lhe o código e disse-lhe, o Otelo vai saber para onde é que há um voo nesse dia, a essa hora, põe aqui o destino e põe a hora do início do golpe, o resto utiliza esse texto e portanto o Melo Antunes apareceu na sexta-feira à tarde, no dia, acho que foi na quarta-feira, o 25 de Abril acho que foi quinta-feira, apareceu portanto no dia 24 à tarde no quartel general, eu estava de oficial de dia ao quartel general e ele apareceu-me, estende-me o telegrama e leio e digo: - “Mas é esta noite?” Vamos preparar porque nós estávamos preparados para dormir lá.
Fernando Rosas - Não dormiram essa noite?
Vasco Lourenço - Não, eu não dormia, eu estava de oficial de dia, não dormia, mas o Melo Antunes foi dormir, emprestei-lhe a minha pistola. “Vais para casa, vais dormir que eu depois trato disso” e sei que ele dormiu bem porque portanto ele estava e comecei a pensar e digo se eu estivesse lá o que é que ia fazer. Provavelmente tentaria deitar a mão a uma emissora de rádio difusão para a utilizar. Portanto será que o Otelo faz a mesma coisa? Mas se faz qual emissora. Então estava no gabinete do oficial de dia a ouvir o rádio.
Locutora - Não sabia qual era a senha?
Vasco Lourenço - Não, não fazia a mínima ideia. Não sabia absolutamente nada.
Locutora - Sabia a hora e o dia.
Vasco Lourenço - Sabia isso, a hora e o dia que era o dia 25 às três da manhã e eu estou a ouvir o rádio e tenho que ir mudando de posto para posto para tentar apanhar alguma coisa. Estou num posto a ouvir uma música, será aqui e tal. Acaba a música, começa um texto qualquer em inglês, não é aqui, passei rapidamente e cai num está a dar um comunicado do MFA a meio, a meio. Deviam ser umas, portanto, há duas horas de diferença, deviam ser lá umas duas e meia, à volta disto, duas e pouco. Eu penso que é o terceiro comunicado do MFA, é aquele que pede para as pessoas não saírem de casa e para médicos se dirigirem ao hospital e eu apanho comunicado a meio e fico sem saber porque o texto lido daquela maneira tanto podia ser nosso como podia ser o contrário e então devo ter passado...
(texto incompleto)
(Programa gravado da Antena 2 no dia 4 de Setembro de 1998)
Transcrição : Irineu Batista