1 de Maio
•São libertados cerca de 500 presos políticos em Moçambique.
•Manifestação do 1º de Maio em Lisboa. Congrega entre 500.000 a 600.000 pessoas. Na tribuna principal discursam Álvaro Cunhal e Mário Soares. Outras grandes manifestações decorrem nas principais cidades do país.
•No Porto inicia-se o Movimento de Luta dos Bairros Camarários contra o regulamento camarário em vigor. O Bairro S. João de Deus é o primeiro a apresentar o caderno reivindicativo.
•Na Rádio Renascença termina um dos primeiros conflitos dos trabalhadores com a Direcção. Esta proibira a transmissão de uma reportagem com alguns dos exilados políticos recentemente regressados a Portugal: Mário Soares, Álvaro Cunhal, Luís Cília e José Mário Branco. Após uma curta greve contra a censura as emissões são retomadas após intervenção do delegado do MFA, o que levou à nomeação de dois administradores indicados pelos trabalhadores.
•Em Lisboa, o Colectivo de Acção Cultural (CAC) lança um manifesto assinado por diversos músicos e cantores, em que se faz apelo à intervenção cultural de "todos os trabalhadores culturais antifascistas anticolonialistas e anticapitalistas consequentes". É a primeira intervenção pública de um movimento de acção cultural organizado.
2 de Maio
•Considerando que "muitos militares se ausentaram do país por motivos de natureza ideológica e política devido ao regime então em vigor " é publicado o D. L. nº180/74 que amnistia o crime de deserção previsto no Código de Justiça Militar, aos militares que se apresentarem dentro de um prazo de quinze dias.
•Em comunicado, os jornalistas dos vários órgãos de comunicação social recusam-se a aceitar qualquer censura interna.
•Os trabalhadores da Siderurgia Nacional exigem a imediata demissão da administração, acusando-a de "repressiva e fascista", marcando como prazo limite para satisfação desta reivindicação o dia 6 de Maio. Caso contrário, entrarão imediatamente em greve.
•A Comissão Sindical da TAP entrega à JSN um caderno reivindicativo que aponta para a transformação das relações de trabalho, através do controle da empresa pelos trabalhadores. O saneamento político aparece como ponto prioritário.
•São demitidas e substituídas as direcções de diversos jornais de Lisboa e do Porto.
•Ocupação em massa das casas vagas da Fundação Salazar que passa a chamar-se Bairro 2 de Maio.
3 de Maio
•É criado o Partido Trabalhista Democrático Português (PTDP). É seu secretário geral Fernando Correia Ribeiro, e a direcção é composta por: Carlos da Silva Fernandes, Manuel Lopes Barbosa, José Gonçalves da Silva, José Gama, Francisco Sanches e Luís Barroso. A nível de política colonial propunha a criação de uma " verdadeira federação com igualdade de deveres e direitos para todos os indivíduos." (JSC)
•É apresentado o primeiro caderno reivindicativo "medidas imediatas" dos trabalhadores da Siderurgia Nacional.
•No Porto, o CAC organiza o 1º festival Livre da Canção Popular.
•O jornal Novidades, afecto ao regime deposto, publica o seu último número.
•São libertados 1200 presos políticos em Angola.
4 de Maio
•É publicada uma nota pastoral da Conferência Episcopal a propósito dos acontecimentos do dia 25 de Abril. Defende o pluralismo e a não participação dos padres em partidos políticos.
•Mariz Fernandes é nomeado delegado da JSN na Secretaria de Estado de Informação e Turismo.
•É criado em Bissau o Movimento Para a Paz (MPP), também conhecido pela designação de Movimento Alargado de Oficiais Sargentos e Praças (MAOSP), com forte representação de milicianos. Elegem um secretariado provisório mandatado para pressionar a JSN a negociar o regresso dos soldados.
•Apoiados pelo Movimento Reorganizativo do Proletariado Português (MRPP), habitantes do Bairro Casalinho ocupam casas da Fundação Salazar.
•Militantes do MRPP impedem, pela primeira vez, um embarque de tropas para as colónias. Palavra de ordem: "Nem mais um soldado para as colónias!"
5 de Maio
•É eleita pelos trabalhadores dos CTT uma comissão pró-sindicato provisória.
•Mário Soares afirma ao jornal belga Le Peuple «Não vai instalar-se em Lisboa um governo de Frente Popular, mas sim um governo de Salvação Nacional».
•Surge o Partido Cristão Social Democrata (PCSD), a partir de militantes da Acção Católica. É fundado por António da Cunha Coutinho e Frei Bento Domingues. Dias mais tarde une-se com o Partido Democrático Popular Cristão (PDPC), impulsionado por Nuno Calvet de Magalhães.(JSC)
•É anunciada a extinção da disciplina de Organização Política e Administrativa da Nação no ensino liceal.
•Libertação de presos políticos na Guiné-Bissau.
6 de Maio
•É enviado à Junta de Salvação Nacional o texto Informação sobre a possibilidade de abertura de negociações com as organizações Nacionalistas Africanas subscrito por Manuel Alegre e por Fernando Piteira Santos. Nele se propõe o “[...] o estabelecimento de contactos secretos sem condições prévias [...]” e a divulgação de traduções eventualmente resumidas do livro “Portugal e o futuro”.
•A Comissão de Trabalhadores da Siderurgia Nacional difunde um comunicado intitulado: "A administração da Siderurgia Nacional quer a greve."
•Em Assembleia Geral de Trabalhadores é eleita de uma Comissão de Trabalhadores da Timex.
•Primeira reunião dos oficiais do MFA para discutir o afastamento dos oficiais-generais mais comprometidos com o regime cessante, tendo sido elaborada uma lista que viria a ser aprovada quase integralmente pela JSN. Essa reunião que se realizou à noite ficaria conhecida nos meios militares por «Noite dos Generais».
•Funda-se o Partido do Progresso Movimento Federalista Português, a partir de sectores da direita salazarista que se tinham distinguido pela sua oposição a Marcelo Caetano. Entre estes, encontram-se os "nacionalistas revolucionários" ligados à Cooperativa "Cidadela", activa em Coimbra e Porto e que era dirigida por José J. Sampaio Nora; o " Comité Nacional de Acção Revolucionária" (CNAR) do Porto, dirigido por Fernando José Allegro; membros da "Associação Programa", como José Vale de Figueiredo; monárquicos da "Liga Popular Monárquica" e ex-membros da ANP. A direcção era composta pelo secretário-geral Fernando Pacheco de Amorim, Luís de Oliveira Dias, José Vale de Figueiredo, Diogo Miranda Barbosa, José Miguel Júdice, L. Sá Coutinho, José A. Deitado, Francisco Caldeira Cabral, N. Cardoso da Silva. Manteve contactos nas colónias com as forças de direita criadas depois do 25 de Abril: Associação Cívica Pró-Angola, Liga dos Naturais da Guiné, Liga Popular dos Guinéus, Movimento Federalista de Moçambique, Movimento Federalista de Timor, União Democrática de Cabo Verde. (JSC)
• A Associação Portuguesa de Cultura e Promoção (Paris) envia à JSN um manifesto de apoio em que apresenta um conjunto de propostas sobre: serviço militar, guerra colonial, desenvolvimento, direito ao voto, ensino do português, convenção de mão-de-obra, convenção de Segurança Social, serviços e administrações portuguesas, direitos em França, problemas diversos.
7 de Maio
•É apresentado à administração da Timex um caderno reivindicativo dos trabalhadores.
•Carlos Fabião é nomeado delegado da JSN na Guiné.
•Constitui-se formalmente o Partido Popular Democrático (PPD) a partir da Ala Liberal, de grande parte da SEDES e da influência do Expresso. A comissão organizadora era formada por Francisco Pinto Balsemão, Francisco Sá Carneiro e Joaquim Magalhães Mota. (JSC)
•Plenário da Associação Industrial Portuguesa, considerado como o primeiro passo para a criação da CIP. Os industriais declaram que "a democratização das instituições nacionais, no âmbito da livre iniciativa (...) é considerada como o primeiro passo indispensável do progresso da economia nacional e a necessária integração na CEE."
8 de Maio
•Reunião da Comissão de Trabalhadores da Siderurgia Nacional com António Champalimaud. Este faz uma alocução a todas os trabalhadores da empresa.
•Os operários da Timex apresentam um ultimato à administração até ao dia
9 de Maio.
•Moradores do Bairro da Boavista concentram-se junto ao Palácio de Belém para manifestar o seu apoio à JSN.
9 de Maio
•É publicado o D. L. nº 193/74, contendo matéria relativa à "suspensão temporária de funções dos servidores do Estado". É a primeira lei sobre saneamento civil.
•A ONU faz um apelo à JSN para que entre em negociações imediatas com os Movimentos de Libertação Africanos.
•Operários da Messa apresentam uma lista de reivindicações, entre as quais, salário mínimo de seis mil escudos, mês e meio de subsídio de férias, um mês de subsídio de Natal, quarenta horas de trabalho semanal.
10 de Maio
•É publicado o D. L. nº194/74 que amnistia "os crimes essencialmente militares e militares", praticados até ao dia 25 de Abril de 1974.
•Costa Gomes visita Angola e Moçambique em representação da JSN, acompanhado por Diogo Neto, Ferreira da Cunha, Silveira Pinheiro, Carvalho Seabra, Otelo Saraiva de Carvalho e Hugo dos Santos.
•Novo apelo da ONU à JSN para que esta faça "uma declaração categórica de aceitação de independência das colónias".
•António Champalimaud faz novo discurso aos trabalhadores da Siderurgia Nacional. Faz igualmente um discurso aos trabalhadores o delegado da JSN. A JSN recebe mais tarde este António Champalimaud.
•É fundado o Movimento de Esquerda Socialista (MES). São seus fundadores entre outros: Jorge Sampaio, Victor Vengrowious, César Oliveira, José Manuel Galvão Teles, João Cravinho José Dias, Joaquim Mestre.
•É fundado o Partido Trabalhista Democrático Português (PTDP).
•Ocupação da Timex devido à ausência de resposta da administração.
•Para pôr fim aos despedimentos sem justa causa operários da A. C. Santos ocupam as instalações e expulsam a administração.
•Funda-se o Partido da Democracia Cristã (PDC), a partir de uma cisão do PCSD. Os seus dirigentes são: Nuno Calvet de Magalhães, Henrique de Sousa e Melo, José Mendes da Fonseca, Bartolomeu Monteiro, João da Costa Figueira, Marcelino Nobre, Jorge Manuel Medeiros e Jorge Medeiros. Defendem para o Ultramar "uma solução luso-africana federativa conduzente a um Estado pluricontinental" (JSC)
•A Causa Monárquica num comunicado público manifesta a decisão de continuar "como associação de estudo, cultura e doutrina monárquica, à margem de qualquer actividade partidária".
11 de Maio
•A JSN condena a ocupação de casas vazias pelos habitantes dos bairros de lata.
•Apresentação de um caderno reivindicativo por um grupo de trabalhadores da Lisnave.
•A Emissora Nacional organiza o primeiro de um conjunto de espectáculos musicais realizados no Teatro São Luís e que ficaram conhecidos pela designação de Cantos Livres. Participaram, entre outros, José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Fausto, José Mário Branco, José Jorge Letria, Samuel.
12 de Maio
•Almeida Santos, Ministro da Coordenação Interterritorial, publica na revista Tempo um artigo intitulado «Carta Aberta aos Moçambicanos» em que faz apelo à JSN para que reconheça o direito à autodeterminação dos povos das colónias.
•É extinta a Companhia Móvel da PSP conhecida por Polícia de Choque.
•Na Covilhã, início da greve dos trabalhadores dos sector têxtil. Em greve também os pescadores da Nazaré e os mineiros das Minas da Panasqueira.
13 de Maio
•Mário Soares declara em entrevista à Newsweek: "devemos começar a trabalhar imediatamente para um acordo de cessar-fogo com os guerrilheiros [...] O general Spínola conhece a nossa posição: é a independência pura e simples."
•Os trabalhadores da Lisnave dão um ultimato à administração para responder até ao dia 15 ao caderno reivindicativo.
•Os trabalhadores da Firestone ocupam as instalações de Lisboa, Porto, Coimbra e Alcochete, exigindo o "saneamento" de um director estrangeiro.
•D. António Ribeiro, Cardeal Patriarca de Lisboa, discursando em Fátima, preconiza a "renovação dos homens e das instituições".
•A Associação Portuguesa de Escritores reivindica, junto das Forças Armadas, a herança da Sociedade Portuguesa de Escritores, compulsivamente encerrada pelo regime deposto, em Maio de 1965, na sequência da atribuição do “Grande Prémio de Novelística” ao livro Luanda, de Luandino Vieira.
14 de Maio
•Reunião de delegados dos Sargentos da Armada. Elegem uma comissão representativa de onze elementos. Além disso, elaboram o primeiro caderno reivindicativo que apresentam ao Chefe do Estado Maior da Armada, divulgando-o entre os sargentos do Exército e da Força Aérea.
•Promulgação da Lei nº 2/74 que extingue a Assembleia Nacional e a Câmara Corporativa.
•Promulgação da Lei nº 3/74 que "define a estrutura constitucional transitória que regerá a organização política do País até à entrada em vigor da nova Constituição" e integra o programa do MFA
•Dando cumprimento "aos princípios definidos no Programa do MFA, no que diz respeito à abolição da censura", o D. L. nº199/74 extingue a censura a espectáculos.
•É publicada a chamada Nova Amnistia Militar. O D. L. nº202/74 anula todas as penas disciplinares aplicadas a crimes praticados até ao dia 25 de Abril de 1974.
•É constituída uma comissão de apoio ao Conselho de Gerência dos CTT, de carácter transitório, representativa dos interesses dos trabalhadores.
•É divulgado um comunicado da Comissão de Trabalhadores da Siderurgia Nacional, alertando para as manobras divisionistas de certos grupos.
•Início da greve nas Minas da Borralha.
15 de Maio
•É publicado o D. L. nº 203/74 que estabelece o programa e a orgânica do 1º Governo Provisório.
•O general António de Spínola assume as funções de Presidente da República.
•É divulgado um comunicado da JSN apresentando a lista dos 42 oficiais generais saneados das Forças Armadas. Nele se afirma: "o saneamento dos quadros das Forças Armadas, executado para cumprimento integral do Programa do MFA conhece hoje o seu termo"
•Por interferência do delegado da JSN junto da Timex, os trabalhadores desta empresa resolvem pôr fim à greve.
•A comissão de apoio ao Conselho de Gerência dos CTT é encarregada de elaborar um projecto de linhas gerais de reestruturação de carreiras e actualização dos vencimentos dos trabalhadores e estabelece o vencimento mínimo de seis mil escudos.
•Comunicado da Administração da Lisnave, pedindo um prazo de dez dias para negociação do caderno reivindicativo.
•Com o apoio da JSN os trabalhadores da Singer expulsam os dois principais directores estrangeiros.
16 de Maio
•Tomada de posse do 1º Governo Provisório, presidido por Adelino da Palma Carlos. António de Spínola reitera teses federalistas.
•O comandante da Região Militar de Coimbra avisa em comunicado que "actuará com firmeza na repressão aos abusos, reuniões sem autorização legal e decisões ultrapassando as vias hierárquicas".
•Os trabalhadores da Lisnave regressam ao trabalho a tempo parcial. Cada turno passa a laborar duas horas em cada oito.
•Tem início uma greve com ocupação de instalações na Messa.
•Segunda Assembleia Livre de Cristãos do Porto: D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto, faz a primeira referência às "maiorias silenciosas".
•É emitida uma circular, com classificação de reservada, dirigida às unidades militares em que são dadas as “Instruções relativas ao processamento militar do pessoal da ex-LP ou com ela relacionado”.
17 de Maio
•Mário Soares, Ministro dos Negócios Estrangeiros, encontra-se em Dakar com Aristides Pereira, Secretário Geral do PAIGC, para negociar o cessar-fogo na Guiné. As negociações serão retomadas no dia 25 do mesmo mês, em Londres.
•Comunicado da Administração da Lisnave sobre os acontecimentos e sua contra-proposta .
•O Avante, jornal do PCP, publica o seu primeiro número na legalidade.
18 de Maio
•O PS vem a público defender a realização de eleições municipais em Outubro. O PPD manifesta publicamente o apoio a esta sugestão.
•O Capitão Varela Gomes é preso e enviado para a Trafaria à ordem da JSN quando tentava investigar as ligações da PIDE com serviços secretos internacionais. Os ficheiros que entretanto organizara são-lhe confiscados.
•São libertados os presos políticos da cadeia da Machava (Moçambique).
•Comunicado dos trabalhadores da Messa ao proletariado de Mem Martins.
19 de Maio
•No seguimento de um vasto movimento popular de ocupação de casas a JSN decide legalizar as ocupações verificadas e proíbe novas ocupações.
•É publicado o primeiro número do Jornal do Trabalhador da Messa.
20 de Maio
•A partida furtiva de Américo Tomás e Marcelo Caetano para o Brasil desencadeia forte reacção por ter sido preparada por António de Spínola sem conhecimento das estruturas do MFA. O Governo, recém empossado, também não fora posto ao corrente.
•Mário Soares avista-se com o Núncio Apostólico em Lisboa.
•É anunciada a criação do Movimento Pró-Divórcio.
•Moradores da Quinta da Curraleira entram em luta pela resolução do problema da habitação.
21 de Maio
•O Primeiro Ministro Palma Carlos encontra-se com António de Spínola, para o informar da incapacidade do Governo para chegar " a um acordo na fixação do salário mínimo nacional, devido à irredutibilidade da posição tomada pelo sector do trabalho". António de Spínola preside a uma sessão do Conselho de Ministros, onde o problema acaba por se resolver "a contento do sector da economia".
•Os trabalhadores dos CTT rejeitam o caderno reivindicativo elaborado pela comissão de apoio ao Conselho de Gerência.
•Em Lisboa as empregadas domésticas lançam as bases de um sindicato.
•Início da greve na Standard Electric.
•Os trabalhadores da Companhia das Águas de Lisboa ocupam a sede da empresa.
22 de Maio
•O PS anuncia a integração nas suas fileiras de um numerosos grupo de católicos progressistas e de outros socialistas, entre eles Manuel Serra, líder do Movimento Socialista Popular.
•A comissão de Trabalhadores da Timex apresenta um caderno reivindicativo com 23 pontos.
•Início da greve na Renault.
23 de Maio
•Início da greve dos estudantes do ensino secundário que queriam ver atendidas as suas reivindicações contra os exames.
•Início da greve da Melka.
•Em comunicado, a Intersindical chama a atenção para as greves inoportunas "encorajadas pela reacção".
•Fim da greve na Lisnave.
•Constitui-se formalmente o PPM. A sua base foi a CEM de 1969 e a lista de oposição monárquica não concretizada nas eleições de 1973, embora também nele ingressem membros da "Associação Programa", integrados na direcção do partido. A nível programático e em relação ao problema colonial, pedem a autodeterminação por via eleitoral, sem reconhecer os movimentos de libertação como únicos interlocutores, com os quais só se devia negociar depois que aceitassem a tese do referendum para a autodeterminação. (JSC)
24 de Maio
•O General Costa Gomes, CEMGFA, determina por decreto que todos os oficiais, sargentos e praças passem a considerar-se incluídos no MFA. Segundo Costa Gomes o objectivo é: "assegurar a substituição do sistema político anterior ao 25 de Abril de 1974 sem convulsões internas que afectem a paz, o progresso e o bem-estar da Nação e o total respeito pelas hierarquias e disciplina [...]".
•Início da greve do Metropolitano de Lisboa.
•Realiza-se no Coliseu do Recreios o primeiro grande comício de organizações de extrema-esquerda: estão presentes o PRP, a LCI, a União Revolucionária Marxista-leninista (UR-ML) e os Comités de Base Socialista (CBS).
25 de Maio
•Em Londres, prosseguem as conversações entre a delegação do PAIGC chefiada por Pedro Pires e a delegação portuguesa presidida por Mário Soares.
•Em Timor, o Governador anuncia a realização de um referendo pelo qual a população decidirá o futuro do território. As hipóteses a referendar são as seguintes: manter-se português, integrar-se na Indonésia ou tornar-se independente.
•Comício do PCP no Pavilhão dos Desportos em Lisboa onde se afirma que "a onda generalizada de greves serve o fascismo".
•Manifestação anticolonial de extrema- esquerda, exigindo a libertação do capitão cubano Peralta é reprimida pelas forças da GNR.
•Em Lisboa, vários milhares de alunos do ensino secundário realizam uma manifestação exigindo a revogação dos exames.
•O Partido Social Democrata Independente (PSDI) publica o seu primeiro manifesto, assinado pela comissão organizadora: Eurico de Sousa Correia, João de Sousa, José Ribeiro dos Santos, Luís Arouca, Manuel da Costa Serqueira e Manuel Godinho Nunes. (JSC)
26 de Maio
•Fim da greve dos têxteis. Acordo entre os trabalhadores, o patronato e o Ministério do Trabalho.
27 de Maio
•É publicado o D. L. nº 217/74 que contém as primeiras medidas económicas do Governo, entre as quais se contam a fixação do primeiro Salário Mínimo Nacional (3300$00) , o congelamento de preços de bens essenciais, o congelamento das rendas urbanas e a criação da Comissão de Apoio às Pequenas e Médias Empresas.
•É publicado o D. L. nº221/74 que estabelece que a direcção dos estabelecimento de ensino possa ser "confiada pelo Ministério da Educação e Cultura a comissões democraticamente eleitas ou a eleger depois de 25 de Abril de 1974".
•Galvão de Melo intervém na televisão. Adverte que a JSN tomou a seu cargo "respeitar e defender a liberdade que a juventude heróica dos capitães depositou nas mãos experimentadas dos generais".
•A Estação Central dos Correios de Lisboa entra em greve desde as 19.30h até às 17h do dia seguinte.
•Os trabalhadores da Siderurgia Nacional elegem uma Comissão de Trabalhadores.
•Início de uma greve de zelo na Timex, por falta de resposta da administração ao caderno reivindicativo apresentado pela Comissão de Trabalhadores em 22 de Maio. Uma manifestação percorre Feijó, Laranjeiro, Almada e Cacilhas para divulgação de comunicados.
•Início da greve dos transportes urbanos de Lisboa e dos padeiros de Lisboa.
28 de Maio
•É criado o Partido Liberal (PL) por um grupo de militantes que, por discordarem da criação do PPM abandonaram a Convergência Monárquica. A eles se juntam, entre outros, militantes da Acção Católica. A sua comissão organizadora é formada por António Ávila, Osvaldo Aguiar, Dias Gonçalves, João Saldanha e Amândio Pinto. Outros dirigentes destacados foram os tenentes coronéis A. L. Marques Figueiredo, e E. Vila e Queiroz, bem como o ex-capitão Van Uden e Almeida Araújo, que acabaria por ser o seu secretário geral. (JSC)
•Fim da greve na empresa Messa.
•Em comunicado o MDP critica as greves irresponsáveis.
29 de Maio
•António de Spínola inicia, no Porto, uma série de visitas às principais cidades do país.
•Realiza-se uma reunião de oficiais da Armada, em número de 580, que "insiste na reorganização das classes da Armada e propõe-se intensificar o saneamento". Têm início a partir de então movimentos reivindicativos nos quartéis, com o aparecimento de comissões de soldados. As exigências são: fim à guerra, aumento do pré, transportes gratuitos e revisão do Regulamento de Disciplina Militar (RDM).
•Greve nas portagens da Ponte 25 de Abril.
•São abolidos os exames para todos os alunos do ensino secundário com média superior a 10 valores.
30 de Maio
•Realiza-se em Londres a segunda reunião entre o PAIGC e a delegação portuguesa. O PAIGC não altera a sua posição de "rejeição da aplicação do princípio da autodeterminação às populações da Guiné" e o encontro é inesperadamente interrompido.
•Comunicado do Conselho de Administração da Lisnave aos trabalhadores em que se contestam os processos de saneamento e a representatividade da Comissão de Trabalhadores.
•Reunião de António de Spínola com cerca de 200 sindicalistas a quem pediu o regresso à normalidade e a aceitação da disciplina.
•Início da greve na Mabor.
31 de Maio
•É criado o Conselho de Estado, composto por vinte e um elementos: os sete elementos da JSN, sete do MFA (Vasco Gonçalves, Víctor Alves, Melo Antunes, Víctor Crespo, Almada Contreiras, Pereira Pinto e Costa Martins) e sete cidadãos de reconhecido mérito, designados por António de Spínola (Freitas do Amaral, Henrique de Barros, Isabel Magalhães Colaço, Almeida Bruno, Azeredo Perdigão, Rafael Durão e Rui Luís Gomes).
•António de Spínola visita Coimbra.
•É fundado no Porto, por antigos elementos da LP, o Partido Nacionalista Português (PNP).
•É criado o sindicato dos vendedores de jornais.
•Fim das greves das padarias, da Carris e dos pescadores.
•Circula em Angola um abaixo-assinado com larga adesão de oficiais, sargentos e praças da Companhia do Batalhão 4519, que surgiu em Angola já depois dos acontecimentos do 25 de Abril. Nele se afirma a recusa de entrar em combate.
Ainda em Maio
•É constituída a " Associação Livre de Agricultores" (ALA) com o objectivo de agrupar grandes, médios e pequenos proprietários. As primeiras reuniões realizam-se em Beja. São seus dirigentes principais Raul Rosado Fernandes e Fernando Picão Caldeira. (JSC)
•Ao longo do mês foram regressando ao país conhecidos exilados políticos: Piteira Santos, Manuel Alegre, Rui Luís Gomes, Adolfo Ayala, José Augusto Seabra, Manuel de Lucena, Miguel Urbano Rodrigues, Emídio Guerreiro, entre muitos outros.
•A programação cinematográfica das principais salas de espectáculo sofre profundas alterações. Em cartaz, já sem censura, surgem: O Couraçado Potemkine de Eisenstein, O Ditador de Charles Chaplin este, precedido de um documentário francês sobre a manifestação do 1º de Maio de 1974 em Lisboa, O Mal Amado de Fernando Matos Silva e Terra em Transe de Glauber Rocha.