O Pulsar da Revolução.Junho 1974

1 de Junho
•Formação de comissões de apoio à greve da Timex, em sectores operários e estudantis.
•Manifestação em Lisboa da Intersindical contra a onda grevista.
 

2 de Junho
•Os soldados do contigente de Macau manifestam-se violentamente contra os militares acusados de corrupção e desvio de fundos.
•As empregadas domésticas constituem o seu sindicato.
 

3 de Junho
•António de Spínola visita Tomar.
•Greve geral na Timex.
•Comício do MES em que se afirma "a haver algumas ameaças fascistas será muito mais provável que sejam promovidas pelos sectores da burguesia em decadência do que pelo capital financeiro".
 

4 de Junho
•Iniciam-se com o Governo as negociações acerca do caderno reivindicativo dos trabalhadores dos CTT.
•No Funchal, circula um comunicado anónimo que apela  à autonomia da Madeira e Porto Santo. 
•Surge uma associação de donas de casa ligada ao MLM.
•O Sindicato dos Operários da Construção Civil decide por unanimidade não se filiar na Intersindical por "esta não se mostrar interessada em reconhecer a comissão eleita pelos trabalhadores dando mostras de partidarismo".
 

5 de Junho
•Primeiro Plenário do MFA (Exército), na Manutenção Militar, com convidados da Marinha e Força Aérea. Presentes cerca de 800 oficiais. Foram os seguintes os temas de discussão propostos: situação nas diferentes unidades, papel das Forças Armadas no momento político actual, futuro do MFA, graduações e promoções, esclarecimento dos acontecimentos do 16 de Março (este ponto não foi discutido, razão pela qual passou para o plenário seguinte).
•Na imprensa surgem notícias de que Barbieri Cardoso, antigo subdirector da PIDE, prepara golpe em Paris.
•Durante o Primeiro Congresso Nacional de Degradação do Ambiente Português e Combate à Poluição é criado o Movimento Ecológico Português, sendo seu principal impulsionador o jornalista Afonso Cautela.
 

6 de Junho
•Iniciam-se em Lusaka, na Zâmbia, os primeiros contactos entre Portugal e a FRELIMO. A delegação portuguesa é constituída por Mário Soares e Otelo Saraiva de Carvalho.
•Em visita à cidade de Évora, António de Spínola declara: "Não é na destruição nem no ódio, nem queimando a terra sagrada de Portugal que poderemos construir o Portugal do futuro".
•Primeira manifestação pública da Frente de Libertação dos Açores (FLA).
•Greve de empregadas de limpeza decretada pelo Sindicato dos Contínuos e Porteiros de Lisboa. Envolve cerca de 8000 trabalhadoras.
•Promovida pela LCI, realiza-se uma manifestação contra Pinochet.
•No jornal Correio dos Açores, propriedade do empresário Medeiros e Almeida, aparece um manifesto intitulado "O Movimento de Autodeterminação do Povo Açoriano" (MAPA), no qual se reclama a autodeterminação do arquipélago. Os principais dirigentes deste movimento são: Soares Meneses e Gomes de Menezes, todos ligados aos grandes interesses económicos do arquipélago. (JSC)
 

7 de Junho
•Saldanha Sanches, dirigente do MRPP, é preso por ter publicado no jornal do seu partido um artigo incitando os soldados à deserção armada.
•A URML propõe em comunicado a "revolução radical".
 

8 de Junho
•Plenário do MFA na Manutenção Militar. Decidido aceitar a graduação de Otelo Saraiva de Carvalho, em brigadeiro e recusar graduações a quaisquer outros militares.
•Realiza-se em Lisboa, promovida por cabo-verdianos, uma manifestação de apoio aos movimentos de libertação.
 

9 de Junho
•São estabelecidas as relações diplomáticas de Portugal com a União Soviética e com a Jugoslávia.
•Tem início uma greve de pescadores de todo o país, que vai prolongar-se até ao dia 24 de Junho.
 

10 de Junho
•Causam polémica no país as declarações de Galvão de Melo no Brasil onde se deslocara oficialmente para participar mas comemorações do Dia de Portugal. Este elemento da JSN compara o 25 de Abril ao golpe militar de 1964 que instaurou uma ditadura de direita no Brasil.
•Realiza-se na Base da Ota uma cerimónia militar de entrega de condecorações, por iniciativa de Diogo Neto, a que preside António de Spínola.
•Realiza-se em Lisboa uma manifestação promovida por elementos conotados com a direita, apelando ao "federalismo com as colónias".
•Assembleia do PTDP, elegendo o general Spínola como presidente honorário do partido e propondo a sua subida a marechal, com o título de " libertador do povo".
•Um grupo de industriais constitui a Confederação Industrial Portuguesa" (CIP). O documento constitutivo é assinado por António Vasco de Melo (AIT) e José Manuel Morais Cabral (Federação das Indústrias Químicas).
•Algumas dezenas de manifestantes de extrema direita realizam manifestações no Porto e em Lisboa. No Porto intervém Gama Lobo, na Praça do Município, e em Lisboa Santos Machado, no Terreiro do Paço. Este último dirige-se aos manifestantes, no sentido de tentar realizar uma acção coordenada contra a política descolonizadora do Governo Provisório e em defesa do general Spínola. (JSC)
•A transmissão em directo pela RTP da peça de teatro Ceia II representada pela Comuna é interrompida por ordem de Mariz Fernandes, delegado da JSN junto da Secretaria de Estado da Informação e Turismo. Considerou-se que a Comuna caricaturava figuras do regime deposto e que poderia especialmente ofender a imagem do Cardeal Cerejeira e os sentimentos católicos.
•Milhares de pessoas aclamam o MFA num desfile que percorre a Avenida da Liberdade e termina em Belém.
•Na festa popular que se seguiu ao desfile, 48 artistas plásticos pintam um mural colectivo. Essa obra viria a desaparecer anos mais tarde, em 1981, num incêndio.
 

11 de Junho
•Silvino Silvério Marques é nomeado Governador Geral de Angola.
•Henrique Soares de Melo é nomeado Governador Geral de Moçambique.
 

12 de Junho
•António de Spínola visita a cidade das Caldas da Rainha.
•É publicado o D. L. nº 251/74 no qual expressamente se admite "o acesso aos cargos judiciários a todos os cidadãos portugueses, independentemente do seu sexo" abrindo portanto a carreira judiciária às mulheres.
•Reunião dos trabalhadores dos CTT. É rejeitada a contra-proposta do Conselho de Gerência, decidido manter o caderno de reivindicações e entrar em greve geral a partir do dia 17, se não for apresentada contra-proposta aceitável.
•Início da greve de fome de ex-agentes da PIDE detidos na Cadeia Penitenciária de Lisboa.
•Ramiro Valadão, ex-director da RTP, é preso.
•Realiza-se uma manifestação promovida pelo MRPP, apelando à libertação de Saldanha Sanches.• Ocupação da Sogantal pelas operárias da empresa que decidem também passar a vender a produção acusando a administração de "sabotagem económica".
 

13 de Junho
•Plenário do MFA com a JSN na Manutenção Militar. É presidido por António de Spínola e estão presentes o Primeiro-Ministro, Sá Carneiro, Vieira de Almeida e Firmino Miguel, e ainda alguns elementos da Junta, entre os quais, Rosa Coutinho, Galvão de Melo e Jaime Silvério Marques. Spínola propõe um referendo a 3 de Outubro, em que se faria também a eleição do Presidente da República. Propõe ainda eleições para a Assembleia Constituinte, até 30 de Novembro de 1976.
•Recomeçam em Argel as negociações com o PAIGC.
•Trabalhadores da CITROEN em Mangualde ocupam a empresa como forma de protesto contra o "lock-out" da administração.
 

14 de Junho
•Reunião de António de Spínola com uma comissão mandatada pelo MFA para continuar a discussão do dia anterior. Presentes os conselheiros de Estado pertencentes à Comissão Coordenadora e ainda Vasco Lourenço e Otelo Saraiva de Carvalho. É obtido o compromisso de Spínola com o Programa do MFA.
•Realiza-se o primeiro encontro de Argel entre o PAIGC e uma delegação portuguesa. Ao fim de três sessões as conversações foram mais uma vez suspensas. O PAIGC mantém-se intransigente na defesa dos seus anteriores pontos de vista e a delegação portuguesa não se encontra habilitada a ceder.
•Encontro de uma delegação portuguesa com uma delegação da UNITA chefiada por Jonas Savimbi. Estabelece-se a suspensão das hostilidades e a UNITA compromete-se a desenvolver apenas actividade política.
•Manifestação de cerca de 5000 operários e patrões de pequenas e médias empresas da margem sul gritando "não às greves!" e " os empresários são filhos do povo!"
 

15 de Julho
•É publicado o D. L. nº 259/74 que regulamenta a amnistia para delitos comuns e na sequência do qual são libertados cerca de 1000 presos.
•Início da greve dos pescadores de Matosinhos em luta por melhores salários.
•Publicação do primeiro manifesto do Movimento Popular Português (MPP). Organiza-se a partir do Círculo de Estudos Sociais Vector  e  da Revista Resistência editada por A. da Cruz Rodrigues e J. L. Pechirra. (JSC)
 

16 de Junho
•A OUA recomenda aos seus membros o "isolamento" de Portugal até à solução dos principais problemas nas colónias.
 

17 de Junho
•Apesar do apelo do Governo, entram em greve 35.000 trabalhadores dos CTT. Vão retomar o trabalho a 20 de Junho perante a iminência da intervenção militar proposta por António de Spínola. É a primeira confrontação sindical entre o PCP, que critica a greve, e o PS que a apoia.
•Devido a desobediência a uma ordem de intervenção relativamente à greve nos CTT, emanada da respectiva unidade, são presos os dois aspirantes milicianos Anjos e Marvão.  Serão libertados três dias depois.
•Tentativa de fuga de presos da Cadeia Penitenciária de Lisboa é evitada pelas forças militares com recurso às armas. São feitos alguns feridos.
•Início da greve na TAP.
 

18 de Junho
•Mário Soares participa em Otava na conferência ministerial da NATO.
•À semelhança de outras personalidades ligadas ao PCP, Carlos Carvalhas, Secretário de Estado do Trabalho em reunião pública com dirigentes sindicais contesta "os que agora procuram semear a confusão, que defendem a greve pela greve e o caos económico".
 

19 de Junho
•Encontro de António de Spínola com Richard Nixon nos Açores (Ilha Terceira), acompanhados de Sá Carneiro e de Diogo Neto. O Presidente da República Portuguesa confirma a Richard Nixon a decisão de Portugal permanecer na NATO.
•O Governo, através do Ministro sem pasta Pereira de Moura, informa os trabalhadores dos CTT que não ultrapassará os limites salariais da contra-proposta, por incapacidade financeira.
•Em Beja, é assinada a Primeira Convenção de Trabalho acordada entre a Comissão Pró-Sindicato dos Trabalhadores Agrícolas de Beja e a Associação Livre dos Agricultores.
•O MES, a LUAR e a LCI emitem comunicados de apoio á luta dos CTT, enquanto a União de Sindicatos do Porto considera que a greve dos CTT "foi precipitada". Nessa tarde uma manifestação de protesto junto ao edifício dos CTT no Porto termina com agressões aos trabalhadores e tentativa de assalto às instalações dos CTT.
 

20 de Junho
•Um Despacho do Ministério da Coordenação Económica regulamenta o funcionamento da Comissão de Apoio às Pequenas e Médias Empresas.
•Às 7 horas da manhã termina a greve dos CTT. A pedido do Governo, as Forças Armadas estavam preparadas para intervir  a fim de assegurar o funcionamento normal dos serviços.
•Primeiros encerramentos de empresas do sector têxtil.
 

21 de Junho
•O Ministério da Educação e Cultura cede à reivindicação dos professores concedendo o pagamento das férias.
•O Movimento Nacional Pró-Divórcio realiza o seu primeiro comício em Lisboa, no Pavilhão dos Desportos.
 

22 de Junho
•É extinto o Movimento Nacional Feminino.
•O Ministério do Trabalho apela à população para que compreenda a greve  dos CTT mas considera que faltou à luta o sentido da oportunidade.
•Tem início o movimento para a criação dos sindicatos de assalariados agrícolas do sul.
 

23 de Junho
•É criada a Associação dos Deficientes das Forças Armadas.
•Na sequência da greve de zelo do pessoal da Marinha Mercante, o Governo decide a requisição civil de 5 navios da empresa petrolífera Soponata.
 

24 de Junho
•Em manifestação, os familiares de soldados exigem o fim da guerra colonial.
•Realiza-se uma manifestação de operários da siderurgia em apoio ao caderno reivindicativo.
 

25 de Junho
•É publicada nova legislação sobre saneamento civil. O D. L. nº 277/74  cria a Comissão Interministerial de Reclassificação.
•É publicado o D. L. nº 278/74 pelo qual "se suspende por tempo indeterminado o serviço de emissão de televisão concedido à RTP, a qual passa a ser gerida pelo Governo".
•É publicado o D. L. nº281/74 sobre liberdade de imprensa. A censura é abolida mas mantêm-se ainda alguns delitos de imprensa: incitamento à desobediência militar, ofensas ao Presidente da República e aos membros do Governo incitamento à greve ou a manifestações não autorizadas previamente. Cria também a Comissão " Ad-Hoc" para a comunicação social.
•Palma Carlos, numa entrevista ao Diário de Notícias, afirma:  "As maiorias silenciosas têm de sair do seu comodismo ou do seu temor  e de se pronunciarem abertamente."
•Encontro de Palma Carlos com Harold Wilson em Bruxelas por ocasião da reunião da NATO.
•No seguimento da ocupação dos serviços administrativos da empresa pelos trabalhadores que exigiam  a nacionalização sem indemnizações, o Governo toma conta da Empresa de Águas de Lisboa.
 

26 de Junho
•São publicados os D. L. nº 283/74, 284/74 e 285/74 que determinam que o Governo nomeie respectivamente Comissões liquidatárias para a ANP, DGS e LP.
 

27 de Junho
•A Comissão Sindical da TAP difunde um comunicado, fazendo o ponto da situação das negociações do Acordo Colectivo de Trabalho.
•A Assembleia nacional de delegados dos CTT solidariza-se  com os dois militares presos por se terem recusado a agir contra a greve dos carteiros.
 

28 de Junho
•A nova carta da NATO é assinada em Bruxelas por todos os participantes na reunião da organização. Palma Carlos é o representante português.
 

29 de Junho
•Comício do PCP na Praça de Touros, no Campo Pequeno em Lisboa congrega cerca de 20 000 pessoas.
•É criado pelo Governo um fundo empresarial de fomento de exibição e produção cinematográfica.
 

30 de Junho
•Jorge Jardim deixa a Embaixada do Malawi, em Lisboa, onde esteve refugiado, passando a partir de então, largas temporadas em Espanha e África do Sul. Em Espanha foi o polo de atracção de toda a direita contra- revolucionária até à constituição formal do ELP e do MDLP. (JSC)
•Por todo o país são numerosos os conflitos laborais nas empresas dos diferentes sectores económicos: indústria têxtil, pesca, banca, construção civil, entre outros.
•O MFP e o PL constituem a Fundação para a Difusão de Conhecimentos Políticos, Sociais e Económicos (DICOPSE). É o primeiro passo para conseguir a unificação das organizações de extrema direita contrárias ao 25 de Abril. Entre os fundadores destacam-se Gastão da Cunha Ferreira, Maria do Castelo Branco Duarte da Silva, M. Helena Trigo, António Navais dos Santos, Afonso Botelho e M. Clara Vaz Pinto. Entre os objectivos anunciados pela Fundação está o lançamento do semanário Bandarra  e a realização de actividades de apoio a organizações de direita. (JSC)