16ª hora
Início: 20’47’’ a 26’14’’
E - Há ainda outros episódios pouco esclarecidos que contribuem para essa ideia de que o Sr. Marechal empurrou decididamente o General Spínola para o poder e quis que fosse ele a avançar, e um deles tem a ver com a sua ausência de casa no próprio dia 25 de Abril. Onde estava, exactamente?
M - Estava no hospital militar, onde a minha mulher tinha sido internada uns dias antes para fazer um tratamento e eu estava a acompanhá-la.
E - Mas isso não foi uma saída premeditada?
M - De maneira nenhuma.
E - Não foi um "check up" que a sua esposa teve que fazer e que foi marcado propositadamente para o dia 25?
M - Não, não foi marcado para o dia 25. Eu já estava no hospital há uns dias com a minha mulher, e estava a acompanhá-la na sua doença. No dia 24 de Abril, por volta das 23 horas e 30 minutos, a mulher do meu ajudante Silveira Pinheiro foi-me dizer "O Sr. General esteja à escuta na rádio que esta noite vai-se passar alguma coisa", e como estive à escuta na rádio, acompanhei o desenrolar das operações para as quais não contribui nada.
E - Mas os capitães diligenciaram no sentido de montar uma guarda na casa do General Spínola, e outra na casa do Sr. Marechal. Quando lá chegaram, o Sr. não estava, o que os perturbou bastante, porque pensavam que tivesse sido uma saída estratégica, uma fuga ao encontro que a história lhe marcara.
M - Podemos chamar-lhe assim, mas não foi. Estava no hospital porque tinha sido aconselhada a fazer um tratamento, dos muitos que, coitada, ela tem tido de fazer depois do nascimento do nosso filho, e eu estava a acompanhá-la. Na noite de 24 para 25 aparece-me a mulher do meu ajudante a dizer-me que começasse a ouvir a rádio às 23 horas e meia do dia 24 de Abril, e, realmente, comecei a ouvir o desenvolvimento que se dava nessa noite, e que conduziu à eclosão do movimento do 25 de Abril.
E - E foi contactado para aparecer e juntar-se aos capitães no quartel da Pontinha, não foi?
M - No dia 25 só, à tarde.
E - Por quem?
M - Não me lembro por quem, mais foi um dos capitães. Foi ao hospital dizer-me se podia aparecer na Pontinha, já tinha passado o 25 de Abril, o Professor Caetano tinha-se rendido à Junta de Salvação Nacional, da qual eu fazia parte (só nessa altura soube que fazia parte da Junta) embora já o desconfiasse. Eu disse-lhe "quando vocês quiserem que eu vá à Pontinha eu vou"; e eram cerca das 18 horas e meia do dia 25 quando eles me foram buscar ao hospital; passei a noite na Pontinha até às 8 horas da manhã, de onde fomos à televisão e se discutiu o programa do MFA.
Entrevistas a Francisco da Costa Gomes - 1