A saída das pessoas dos seus trabalhos, por aposentação, faz emergir quase instantaneamente nostalgias, receios, espectativas futuras que, no fundo, são mote para reflexões que nos forçam a aprender (muito) com o passado, a questionar o presente e a perspetivar o futuro, o melhor futuro possível. Compreender o vinco, a marca que um ser humano deixa numa instituição será, decerto, insondável...pois na ausência da pessoa, permanecerá ainda muito dela. Falamos de Natércia Coimbra, membro e mentora da equipa do CD25A-UC durante as quatro décadas que dedicou a esta casa e que se reformou em 2024, ano em que o Centro fez 40 anos de atividade e em que se comemorou o cinquentenário do 25 de Abril de 1974. Foi sob a sua coordenação e dedicação que foi erguido este serviço, desde a sua génese em 1984 criado por despacho reitoral, pelo Prof. Rui Alarcão, no seguimento do colóquio “Portugal 1974-1984: 10 anos de transformação social” realizado em Coimbra e em sequência de uma proposta subscrita por um grupo de docentes que formaram o primeiro Conselho Diretivo do Centro - com representação da Faculdade de Direito (Prof. Gomes Canotilho), da Faculdade de Letras (Prof. Reis Torgal) e da Faculdade de Economia (Prof. Boaventura de Sousa Santos - então Presidente e Prof. Alfredo Marques). Inaugurado já com instalações próprias em 1987, seguiu-se um rumo que conta com uma dinâmica que se manteve inovadora, ao estabelecer convénios estratégicos com entidades afins (tal como a Associação 25 de Abril), ao inaugurar a primeira exposição sobre o 25 de Abril de 1974 no país, ao disponibilizar a escolas e municípios exposições itinerantes e outros recursos educativos sobre temas relacionados com a Revolução, ao editar obras que abordavam pela primeira vez a história recente do país, ao proactivamente albergar, tratar e disponibilizar para consulta e investigação pioneira fundos de arquivo privados e coleções que se estavam a perder, num modelo canadiano de arquivo total, o que fez com que se criasse um dos mais extensos e complexos arquivos de história contemporânea da segunda metade do séc. XX em Portugal, que permanece hoje património da Universidade de Coimbra e que merece, em nome de todos/as os/as portugueses/as, ser valorizado pela sua tutela, numa ótica perene, que propicie sempre o seu crescimento.
É neste início de 2025, primeiro ano sem Natércia Coimbra como membro ativo desta casa, que toda a equipa do Centro e Direção se despedem, sem nunca se despedir. Até breve, até à próxima visita!