João Mesquita
Tempos de "Combate"
Verão de 1987. Aproximam-se a passo rápido as eleições legislativas que hão-de dar ao PSD de Cavaco Silva a primeira maioria absoluta obtida por um partido político em Portugal, após o 25 de Abril de 74. E o sufrágio dos primeiros representantes portugueses no Parlamento Europeu. Quis o Presidente da República, Mário Soares, que os dois actos se realizassem no mesmo dia: 19 de Julho. A 5 de Abril, a Assembleia da República aprovara uma proposta do jovem PRD de Ramalho Eanes, censurando o Executivo minoritário que Cavaco formara, depois de concluída, na Figueira da Foz, a mais célebre rodagem de um automóvel, alguma vez efectuada no país. O PS liderado por Vítor Constâncio, na qualidade de segundo partido mais votado em 95, tinha condições teóricas para formar um Governo de maioria, com o PCP e os autores da moção de censura (juntas, as três formações tinham mais 30 deputados do que a soma das bancadas do PSD e do CDS) . Soares, a quem Constâncio sucedera na secretaria-geral dos socialistas, não quis verificar se também tinha condições práticas. Contra a vontade da esquerda parlamentar, dissolveu o Parlamento e convocou eleições para o mesmo dia reservado pelos eurocratas para a contagem dos votos relativos ao hemiciclo de Estrasburgo.
Os resultados são conhecidos. Em menos de dois anos, o PSD ganhava mais de um milhão e cem mil votos, conquistando 50,2 por cento do eleitorado que foi às urnas e 148 deputados - mais 20,35 pontos percentuais e mais 60 parlamentares do que em 1985. Aníbal Cavaco Silva começava a construir a biografia política que Mário Soares - e, valha a verdade, boa parte dos portugueses - desconhecia. Nos antípodas, o PRD passava de terceiro a quarto partido (por troca com a coligação eleitoral comandada pelo PCP) e perdia mais de 760 mil eleitores, correspondentes a menos 13,1 por cento de votantes e a menos 38 deputados. Na mesma linha, o CDS via fugir quase 326 mil votos, ficando com a respectiva bancada reduzida a quatro deputados (tinha 22). Mesmo se a sua votação subiu alguma coisa em eleições seguintes, nunca mais se livrou do epíteto de "partido-táxi", que assombra os seus dirigentes de cada vez que há um sufrágio universal. O PRD, esse, mergulhou numa crise de que nunca mais conseguiu sair. Até o partido ser objecto de uma OPA por parte de um núcleo de extrema-direita, com ligações ao abominável Mário Machado. E sem que se verificasse qualquer atitude que pudesse classificar-se de resistência, por parte de quem parecia, então, mais preocupado em desembaraçar-se de tão ruim defunto do que de qualquer outra coisa.
O PS até ganhou alguns votos (58. 185, correspondentes a mais 1,47 por cento, se quisermos ser exactos) e três deputados. Mas a desvantagem em relação ao PSD transformou-se num autêntico fosso: se em 95 era de 527. 967 votos e 9,1 por cento, agora cifrava-se em 1. 578. 278 votos e 27,9 pontos percentuais (mais do que o triplo). Menos de dois anos depois da perda do Governo para os "laranjas", tornava-se evidente que a travessia do deserto ia ser muito longa para os "rosas".
Miragem maior só mesmo a da "maioria de esquerda", que com a vitória de Soares nas presidenciais de 86, alguns pensaram ficar "ali tão perto". A CDU, que nas legislativas de 1987 substituía a APU, perdeu quase 210 mil eleitores (3,35 por cento) e sete deputados, relativamente a 95. Se, dois anos antes, a soma dos seus representantes com os do PS e do PRD dava uma confortável maioria de 30 parlamentares para a esquerda (espero não estar a ofender nenhum antigo renovador...), agora era a direita quem usufruía de uma vantagem, ainda mais confortável, de 54 mandatos.
A corrente conotada com a esquerda não-tradicional (chame-se-lhe assim para poder albergar o MDP/CDE, que vai a votos pela última vez), também não se saiu bem. No seu conjunto, não conquistou a confiança de mais de 164.830 portugueses, equivalentes a 2,9 por cento dos votantes. A UDP, embora se mantivesse como o maior dos partidos pequenos, perdia mais de 20 mil votos e voltava, claro, a falhar o objectivo de tornar a ter um deputado sentado em S. Bento. O PSR ultrapassava o PDC, mas deixava fugir quase três mil eleitores e continuava a valer menos de metade dos democratas-populares. Apesar de uma campanha que toda a crítica considerou especialmente criativa, durante a qual nasceu, por exemplo, a consigna "Não lhes dês Cavaco". E do envolvimento activo de não-filiados de prestígio, como a escritora Eduarda Dionísio e o encenador Jorge Silva Melo.
Nas "europeias", a candidatura de Francisco Lucas Pires como cabeça de lista do CDS, elevou este partido a terceiro do espectro eleitoral, deixando para trás, comparativamente às legislativas, a CDU e o PRD. Apesar de as duas eleições se terem realizado no mesmo dia, os futuros "populares" elegeram para Estrasburgo tantos deputados como para Lisboa, produto de um crescimento de quase 11 por cento! Um crescimento ocorrido, basicamente, à custa do PSD, que apresentava como "número um" para o Parlamento Europeu Pedro Santana Lopes, que, diziam as "más-línguas", Cavaco Silva queria ver o mais longe possível. Mais do que a perda de quase 13 por cento de eleitores de um boletim para o outro, o envio da "má moeda" para o centro da Europa fez com que os "laranjas" ficassem a um deputado de repetirem nas "europeias" a maioria absoluta tão facilmente alcançadas no sufrágio para a Assembleia da República.
Quanto ao resto, nada de novo. PS, CDU, PRD e esquerda não-tradicional repetiram, basicamente, os resultados das legislativas. De nada lhes valeu o recurso a "pesos-pesados", como Maria de Lourdes Pintasilgo, Ângelo Veloso e Medeiros Ferreira, respectivamente, como cabeças de lista. O que permitiu ao conjunto da direita sentar em Estrasburgo 14 parlamentares, num total de 21. Decididamente, os tempos não corriam de feição à esquerda.
Além de Cavaco - e, vá lá, de Lucas Pires -, o ano parecia só estar a correr bem ao Futebol Clube do Porto, que a 27 de Maio se sagrara campeão europeu, depois de ter batido, em Viena, o poderoso Bayern de Munique. No penúltimo dia de Agosto, Rosa Mota conquistaria, igualmente, um título significativo para o desporto português: o de campeã mundial da maratona. Mas isso, já foi depois das legislativas e das europeias. Até à realização destas, o que talvez marcasse o ano de 1987, para a esquerda, fosse a morte de Zeca Afonso, a 26 de Fevereiro, e a condenação de Otelo Saraiva de Carvalho a 15 anos de prisão, uma semana antes do calcanhar de Madjer na Áustria. Maus prenúncios.
Qualquer coisa de novo no ar
... E, no entanto, andava qualquer coisa de novo no ar. "Memória é a faculdade que me permite lembrar das coisas que me aconteceram, do que faço e do que aprendi", escreve José Manuel Morais, num dos textos publicados neste caderno. No que me toca, direi que, uma vez arrumada, na Páscoa de 1979, a militância no PCP(R)/UDP, deixara de ter em quem votar. Nas legislativas do final desse ano, já no exercício efectivo do jornalismo e com a convicção politico-ideológica muito por baixo, ainda fora lá colocar a cruzinha junto ao emblema do partido da enxada e da roda dentada. Mas, muito pouco sensível que sou aos apelos ao voto útil, a partir daí passei a votar em branco para a Assembleia da República. Eu, que em 1973 fizera campanha pelo boicote eleitoral, por não acreditar em eleições livres num regime como o do Portugal de então, fui sempre às urnas, após o 25 de Abril de 74. Com isso me demarcava de quem, por esquerdismo ou por fraca consciência politica, achava que os sufrágios continuavam a não servir para nada, mesmo em democracia parlamentar. Mas, a partir de 1980, passei a depositar o boletim de voto na urna exactamente como mo tinham entregue a mim na mesa.
Não me desinteressei da actividade político-partidária. Mesmo que o quisesse - e não queria - não podia. Os jornais para onde ia escrevendo, e precisamente por razões que não serão alheias à constatação do meu gosto pelo combate politico, colocavam-me preferencialmente a "cobrir" a Assembleia da República e os partidos políticos. Eu não confundia, por outro lado, a ausência de militância partidária com a inexistência de actividade política, cívica e social, para lá das páginas da imprensa. Tomei posição pública sempre que a minha consciência mo impôs. E, fora das quatro paredes dos jornais, nos termos que entendi. Foi assim, nesses anos de 1980, com a defesa da independência de Timor-Leste (com a qual muito poucos se preocupavam então) ou com a luta pela libertação dos presos do PRP, primeiro, e de Otelo Saraiva de Carvalho e dos seus camaradas, depois.
Embora este não seja, nem o tempo nem o lugar apropriado para desenvolver esse importante debate - no centro do qual está o problema determinante da independência no jornalismo contemporâneo -, devo dizer que me situo entre os que pensam que, nas condições presentes, os jornalistas devem utilizar o seu poder de intervenção pública externa de forma parcimoniosa. Mas tenho de acrescentar que, do mesmo modo que não acredito na neutralidade da actividade jornalística, também não aceito que se condenem os profissionais da informação ao silêncio ou à inércia ante aquilo que eles próprios viram, ouviram ou leram. Demonstram os factos, ainda por cima, que essa condenação não é igualitária - vale mais para uns do que para outros. Lembro-me bem de que os mesmos que me criticaram, no jornal onde então trabalhava, por ter aderido a um abaixo-assinado de solidariedade com Otelo, me censuraram, pouco tempo depois, por não ter subscrito um documento onde, a pretexto da abominável repressão da Praça de Tiennamen, se execrava tudo o que cheirasse a comunismo ou a socialismo.
Talvez só muito remotamente isto venha a propósito do facto de, em Julho de 1987, eu ter decidido voltar a votar em eleições parlamentares (as presidenciais e as autárquicas não são para aqui chamadas agora). A verdade, a pura das verdades, é que voltei a preencher o boletim porque ouvi uns senhores ( e umas senhoras) a dizerem coisas com as quais me identifiquei, nos seus aspectos essenciais. Hoje, é quanto me basta para votar afirmativamente. Talvez porque, sem negar a sua importância e influência, continue a pensar que as eleições, pelo menos por si sós, não mudam o mundo. Se aquela identificação não existir, voto em branco e, pronto! O voto útil, salvo condições muito excepcionais, é que continua a não me levar.
Resolvida a questão - que, como expliquei, não era problemática - de saber em que votar, decidi-me a fazer outra coisa que não fazia há muito tempo, a não ser por obrigação profissional: assistir a um comício partidário. Foi assim que, creio que já muito próximo do dia do voto, me dirigi à Casa do Alentejo, para onde estava anunciada uma sessão do PSR. No fim, devia eu andar a procura de uns amigos com quem pudesse ir beber umas cervejas e discutir as eleições que vinham aí, o Francisco Louçã, líder máximo do partido, veio ter comigo e disse-me, remetendo para conversas anteriores entre nós: "Esta é que era a boa altura para apresentares um projecto de remodelação do ‘Combate".
Não ficar parado à janela
Eu conhecia o Louçã de "guerras" antigas. Mais exactamente de 1972 ou 1973, do movimento estudantil dos liceus. Éramos de escolas diferentes (ele do Padre António Vieira e eu do Camões, primeiro, e do Passos Manuel, depois), e tínhamos ideias, também, diferentes (ele era trotsquista e eu maoísta). Nem eu nem ele, porém, gostávamos de ficar o dia inteiro à janela, a ver quem passava. Preferíamos fazer coisas. Muitas eram comuns - contra o sistema de ensino, contra a guerra colonial, contra a inexistência de liberdade de expressão e de associação.
Em boa verdade, nunca mais perdemos o contacto. Em 1979, dava eu os primeiros passos no jornalismo, encontrei-o na sede da LCI - organização que estaria na origem do PSR. O principal dirigente do grupo ainda era João Cabral Fernandes, destacado activista das lutas estudantis de Coimbra, uma década antes. Mas Louçã, muito antes de Paulo Portas ou de Pacheco Pereira, já tinha percebido a importância que, acabado o PREC, a comunicação social passaria a desempenhar. Os jornais eram uma das suas conversas favoritas. Os jornalistas, frequentemente, interlocutores privilegiados.
Acresce que ainda nos cruzávamos nalguns movimentos já aqui mencionados. Ele, na pele de dirigente partidário, eu, simples activista. Mas partilhámos aventuras e consolidámos cumplicidades. Não havia como dizer-lhe que não ao projecto de renovação do "Combate!".
Demorei menos tempo a entregar-lho, seguramente, do que a aprontar este prefácio. Talvez porque, então, sentisse a obrigação decorrente da possibilidade de materialização de uma ideia que me era tão cara que passei inúmeras conversas a atazanar a cabeça de Louçã com ela. E talvez porque, agora, ainda tenho muito presentes palavras de Inês Pedrosa (autora reeditada neste caderno), que um dia destes escrevia, numa carta ao director do "Público": "Não gosto de prefácios, penso que um livro deve valer por si". Só me sinto tranquilo porque, se há livro que vale, realmente, "por si", é este, não precisando do prefácio para nada.
Mais próximo do jornalismo
No projecto que então apresentei, não me atrevia a propor que o "Combate" deixasse de ser o órgão oficial do PSR ou que a sua redacção deixasse de ser maioritariamente constituída por militantes do partido. Limitava-me a sustentar, na linha das conversas que vinha mantendo com Louçã, uma abertura do jornal, quer em termos temáticos, quer do ponto de vista das colaborações e da predisposição para o debate, bem como a adopção de uma linguagem e de um grafismo que o aproximassem mais do jornalismo do que da pura propaganda partidária, por mais rebelde que esta fosse.
Tratava-se, no fundo, de dar passos que permitissem, a prazo, ocupar o vazio já então existente em Portugal, no domínio de uma imprensa editorialmente assumida como de esquerda e irreverente. Aproveitando, simultaneamente, a disponibilidade manifestada por vários activistas não-filiados, no sentido do aprofundamento de novas formas de intervenção, experimentadas durante a campanha eleitoral. E, bem assim, o desejo manifestado por muitos jovens jornalistas e candidatos a jornalistas, de poderem aceder a um meio que lhes permitisse aferir das virtualidades de novos conceitos e de novas técnicas, até então só testados em grupos de amigos ou de colegas de curso, quando muito em publicações mais ou menos underground.
Surpreendentemente, para mim, Louçã não se limitou a concordar com os meus postulados. Foi mais longe, aceitando que o jornal deixasse mesmo de ser o órgão central do PSR e que a redacção comportasse uma maioria de não-militantes do partido. Propunha, não duvido que já em sequência dos contactos estabelecidos, dentro e fora da sua organização, que o corpo redactorial ficasse assim constituído: ele próprio, Francisco Louçã, Heitor de Sousa, Manuel Videira (todos "socialistas-revolucionários"), João Martins Pereira, Eduarda Dionísio, Jorge Silva Melo e João Mesquita (sem qualquer filiação).
Na primeira reunião do colectivo, como todas as desta fase, realizadas em casa de Eduarda, ainda propôs que fosse o nome desta a passar a surgir no cabeçalho, como directora do jornal. Se assim não aconteceu foi porque toda a gente, a começar pela própria Eduarda Dionísio, defendeu que a direcção continuasse a ser desempenhada por Louçã. Pensava bem, era organizado, meticuloso... Talvez demasiado rígido, para alguns de nós. As reuniões, em princípio quinzenais, começavam praticamente a horas.: 21,30. À meia-noite, salvo razões muitos ponderosas, estavam terminadas.
Nada que impedisse os mais noctívagos de, por vezes, ficarem à conversa pela madrugada fora... Uma ocasião, a Eduarda, o Heitor e eu só nos apercebemos de que já era manhã porque a filha da dona da casa entrou pela sala dentro com ar de quem já devia estar a preparar-se para ir para a escola... Tornáramo-nos todos amigos, era o que era! E por isso nos custa muito mais, a nós que ainda cá andamos, o desaparecimento de alguém como o João Martins Pereira, que era, para além da suas enormes qualidades intelectuais e humanas, um dos grandes cultores dessa amizade.
Uma amizade que não impedia a discussão acesa, normalmente centrada nos temas que dominavam cada número do jornal e na escolha das pessoas, a nosso ver, mais capazes de os tratarem, sob diversos pontos de vista. Inclusive nos debates públicos a que diversos temas centrais do "Combate" deram origem e que se constituíram em mais um importante veículo de reflexão, numa altura em que esta era praticamente inexistente na esquerda e, designadamente, nas correntes revolucionárias, onde ainda se lambiam muitas feridas do passado mais ou menos recente. Este caderno, creio eu, permite ao leitor entender boa parte das nossas preocupações - em articular assuntos como religião, utopias, jornais, Norte, Lisboa, competição, ecologia, e em conciliar estilos que iam (vão) da crónica ao conto, passando pelo ensaio e quase pela reportagem. Só não deixa, porque não permite ver o grafismo do Jorge Silva, como o jornal era, paralelamente, do mais inovador e elegante que havia,
Um dos 18 autores cujos textos são aqui recuperados também já não pertence ao mundo dos vivos: Júlio Pinto. Boémio incorrigível, jornalista de enorme talento, militante do PCP durante muitos anos, compreendeu o que muitos camaradas seus só entenderam mais de uma década depois, com a queda do muro de Berlim e coisas que tais. Nunca reclamou nenhum estatuto especial por causa disso. Continuou a rir-se de si como se ria dos outros, num registo que às vezes se aproximava do provocatório e que lhe granjeou alguns inimigos. Transportou a controvérsia para o seio da própria "Ovelha Negra", o suplemento humorístico do "Combate" de que foi, juntamente com João Paulo Cotrim, grande animador, a partir da sua criação, em Dezembro de 91.
Mas isso foi numa outra fase. Embora tenha continuado a acompanhar sempre o jornal (a atenção só diminuiu quando o "Combate" assumiu a forma de revista), a minha colaboração, iniciada a sério em Dezembro de 1987, diminuiu drasticamente em meados de 89, com a entrada para a equipa fundadora do "Público" e a eleição para a presidência do Sindicato dos Jornalistas. Enquanto durou, contribuiu, orgulhosamente, para a edição de textos ou de entrevistas de gente que, só por acaso, não faz parte da selecção deste caderno: José Mário Branco, Fernando Rosas, José Cardoso Pires, Francisco Martins Rodrigues, Luís Miguel Cintra, Fernando Piteira Santos, João Brites, Miguel Portas, José Mattoso, Madalena Barbosa, Miguel Vale de Almeida, Viriato Soromenho Marques, Irene Sousa Santos; ajudou a impulsionar a participação de jornalistas como Adelino Gomes, Elisabete Caramelo, Viriato Teles, Ana Sá Lopes, José Manuel Rodrigues da Silva, Elisabete França, Alexandra Lucas Coelho; e ainda deu para assistir à chegada de jovens como Jorge Costa, João Romão, Luís Branco e Nuno Milagre. Não tivessem escolhido outros combates (e os patrões deixassem...) e os quatro podiam ser, hoje, excelentes jornalistas.
Muita água passou, entretanto, por baixo das pontes. Mas surpreendo-vos muito se disser que permanecem intactas em mim quase todas as razões que me conduziram às conversas de 1987 com Francisco Louçã? Hoje como ontem (e, actualmente, já nem há o "Diário de Lisboa" e o "Público" é "outra coisa" , a esquerda precisa de um jornal de massas que noticie o que os outros não noticiam, que discuta o que os outros não discutem, que afirme o que os outros não afirmam, que descubra o que os outros não descobrem - e que, ainda por cima, faça tudo isso de uma forma bonita, irreverente, polémica.
Por algum sítio há que começar. Com todo o respeito pelo esforço e, até, a ideia de cada um, não é seguramente, pela multiplicação de jornais de "quinta", alguns dos quais fazem lembrar o que de pior tiveram certos grupos da chamada esquerda-revolucionária. Apesar de tudo, consomem dinheiro, energias e expectativas. Ao menos, ponham-se os olhos em algumas coisas que já se fazem na Net. E pense-se em como sair da encruzilhada. No fundo, foi isso que se fez em 87. E o "Combate" foi o nosso contributo para encontrar uma resposta. Há 21 anos, estava o cavaquismo a atingir o seu auge.