O Pulsar da Revolução.Outubro 1975

1 de Outubro
•É publicado no Século um documento, O Plano dos Coronéis, que embora oficialmente desmentido e proibida a sua divulgação pelo Ministro da Comunicação Social Almeida Santos, anuncia quase ao pormenor o que se irá passar dois meses depois (25 de Novembro). Entre as várias medidas propostas salientam-se: o afastamento de Otelo e Fabião, a criação do futuro AMI (Agrupamento Militar de Intervenção), o controlo do Serviço de Detecção e Controle de Informação (SDCI), a resolução dos casos República e Rádio Renascença e a modificação da política governamental relativamente ao MPLA.
•O PS, por sua vez, denuncia um «golpe de esquerda» que seria executado a partir do RALIS e da Rádio Renascença. 
•O Governo, no seguimento dos protestos verificados, manda desocupar as estações de rádio e a RTP. Só uma excepção se verifica: a Rádio Renascença, ocupada pelos trabalhadores desde Maio.
•Chegam a Silva Porto (Angola) as primeiras unidades militares sul-africanas em apoio da UNITA.
 

1 a 4 de Outubro
•Decorre a visita presidencial à Polónia e URSS. A propósito dos contactos então estabelecidos, Costa Gomes viria a comentar: "o Brejnev disse-me que apreciara a minha declaração (na Conferência de Helsínquia) de permanência na NATO e argumentou que Portugal não tinha escolha enquanto houvesse blocos. Aconselhou-me prudência".
 

3 de Outubro
•Em violento comunicado, o RALIS repudia as notícias que considera terem sido postas a correr pelo PS e divulga as actividades do regimento entre 26 de Setembro e 2 de Outubro. 
•Uma delegação do Centro de Instrução de Artilharia Anti-aérea de Cascais (CIAAC) apresenta-se no Depósito Geral de Material de Guerra (DGMG) de Beirolas para levantar 3 000 G.3, o que faz levantar suspeitas, uma vez  que fora combinado, entregar 1 000 ao CIAAC e 2 000 ao RIOQ.
•Início do conflito CICAP (Centro de Instrução Auto do Porto) /RASP (Regimento da Artilharia da Serra do Pilar) no Porto. Manifestação junto ao CICAP como forma de protesto contra "o saneamento à esquerda". Grita-se: "Corvacho voltará e "o povo não quer Pires Veloso". Soldados e milicianos vêm até junto das grades do quartel apoiar os manifestantes.
•Manifestação do PS na Amadora de apoio a Jaime Neves e ao Regimento de Comandos. 
•É publicado o D. L. nº566/75, que introduz alterações de fundo no regime jurídico de casas económicas-propriedade.
•Manifestação da UDP.
•A Assembleia do Conselho da Europa pronuncia-se unanimemente por uma "ajuda substancial a Portugal"
 

4 de Outubro
•O CICAP é desactivado por ordem de Pires Veloso.
•São detidos no Seminário de Braga o primeiro tenente Benjamim de Abreu, o major Godinho, implicados no 11 de Março e que haviam fugido para Espanha. Participavam numa reunião da cúpula do MDLP, presidida por Alpoim Calvão sendo a parte civil constituída pelo Cónego Melo e Paradela de Abreu. (JSC)
 

5 de Outubro
•Em Angola, chega a Porto Amboim o primeiro contigente de tropas cubanas para apoiar o MPLA.
 

6 de Outubro
•Trabalhadores rurais do Alentejo e Ribatejo manifestam-se junto ao RALIS, em apoio àquela unidade militar. Encabeça a manifestação Celestino Garcia, da Herdade do Sobral, que dois anos antes facultara o monte de que era arrendatário aos Capitães do MFA para a histórica reunião de Évora de 9 de Setembro de 1973. Diniz de Almeida fala aos manifestantes: «Nós não estamos a viver na Revolução, mas um carnaval político em que cada um se mascara para  mostrar o que não é». Nesta manifestação, o PS é acusado de tentar dividir os soldados e de estar a entregar arma pesadas ao Regimento de Comandos. 
•Os soldados do RASP ocupam o CICAP, passando a gerir a unidade de "forma democrática", até á sua reabertura e ao saneamento de Pires Veloso. Na sequência deste acontecimento, verificam-se violentos confrontos junto ao RASP, entre apoiantes do PPD, civis e soldados do RASP.
7 de Outubro
•Realiza-se no DGMG um plenário dos seus militares com trabalhadores civis, no qual se decide a suspensão imediata de fornecimento de armamento ligeiro daquela unidade.
•Reunião no RALIS de militares da RML. Presentes: RIOQ, RPM, ESPM, DGMG, RIS, RICR e RI 16 e ainda Otelo Saraiva de Carvalho e Carlos Fabião. Ausentes: CIAAC, Regimento de Comandos, EPI  e EPC.
•Numa mensagem lida na rádio e na TV o PR exorta os militares a não fazerem política.
•Manifestação em Lisboa, junto ao Ministério do Trabalho, promovida pelos sindicatos dos metalúrgicos, para reivindicarem a aplicação de uma portaria referente a salários. 
•Os movimentos para a libertação de Timor propõem-se encetar de imediato conversações em Portugal. Entretanto a Indonésia impede milhares de refugiados de regressarem às suas casas.
•São ocupadas as instalações da EN na Madeira por indivíduos retornados próximos da FLAMA. Esta acção é contestada por militantes comunistas. Dos confrontos então verificados resultaram 30 feridos com gravidade. (JSC)
 

8 de Outubro
•Promovida pelo PS realiza-se em Coimbra uma manifestação de apoio a Franco Charais, Comandante da RMC, que apela ao "restabelecimento da disciplina no Exército".
•No Porto, uma manifestação promovida pelo PPD de apoio a Pires Veloso e contra o RASP provoca centenas de feridos. Grita-se "o povo está com Pires Veloso" e "em frente sem medo, Pinheiro de Azevedo".
•Os trabalhadores da CUF decidem oferecer adubos às UCP's e cooperativas agrícolas.
 

9 de Outubro
•O PCP publica um longo documento denunciando a viragem do Governo à direita e apoiando " a contra-ofensiva das forças populares".
•Realiza-se uma manifestação dos SUV's em Coimbra.
•Cerca de 250 000 metalúrgicos estão em greve. As principais reivindicações dos trabalhadores são atendidas.
 

10 de Outubro
•Criação do AMI sob o comando do brigadeiro Melo Egídio cujos efectivos são essencialmente recrutados entre elementos das Tropas Especiais (Comandos e Pára-quedistas). O AMI é dissolvido em Novembro, a seguir aos incidentes da Rádio Renascença.
•Por decisão do CR é extinta a Comissão "Ad-Hoc" para a Imprensa.
•No Porto realizam-se duas manifestações opostas. Uma, convocada por vários partidos e organizações de extrema-esquerda de apoio ao Conselho Municipal. Outra, convocada pelo PS, de apoio ao Governo, ao Primeiro Ministro e a Pires Veloso. Esta última termina com o assalto à sede da FEC-ml  tendo-se registado um morto. São também apedrejadas as instalações da delegação local do Diário de Notícias.
 

14 de Outubro
•A decisão de Pires Veloso de dissolver o CICAP provoca forte contestação. Carlos Fabião desloca-se ao Porto e negoceia um acordo directamente com os amotinados. Nenhuma sanção seria tomada contra os rebeldes e aquela unidade não seria dissolvida, embora pudesse mudar de instalações. Porém, nenhuma destas promessas foi cumprida por Pires Veloso.
 

15 de Outubro
•O Governo manda selar as instalações da Rádio Renascença.
•Os SUV's manifestam-se em Évora.
 

16 de Outubro
•Forças armadas indonésias invadem pela primeira vez território de Timor português, destroçando e chacinando uma companhia da FRETILIN.
•A República Federal Alemã concede a Portugal um empréstimo  de 170 milhões de marcos.
•Vários rebentamentos de explosivos põem o Norte do país em sobressalto, numa manifestação pública da actividade terrorista da extrema-direita. (JSC)
 

17 de Outubro
•A Indonésia desmente estar envolvida no conflito em Timor ou ter prestado qualquer apoio à UDT.
•O Centro Regional da Reforma Agrária (CRRA) em Alcácer do Sal é parcialmente destruído pela explosão de uma bomba.
 

19 de Outubro
•Em Angola, o MPLA faz recuar as forças da FNLA e avança sobre Nova Lisboa que se encontra em poder da UNITA.
•Em Timor, as forças invasoras recuam perante a resistência da FRETILIN.
 

21 de Outubro
•É criada a Intercomissões da Cintura Industrial de Lisboa.
•O ministro da República nos Açores refere que a FLA actua impunemente com o apoio das autoridades civis e militares, realizando acções de alguma envergadura nas ilhas Terceira e São Miguel.
•É publicado o primeiro número do semanário de extrema direita Barricada cujo proprietário era Silva Nobre.
•Numa manifestação em apoio à comissão de trabalhadores da Rádio Renascença, cerca de 2000 pessoas desfilam até à Buraca e desselam as instalações daquela estação emissora.
 

22 de Outubro
•Visita presidencial a Itália e à Jugoslávia.
•Na imprensa surge a primeira referência à Frente Militar Unida (FMU) uma "organização de oficiais do activo ou fora dele, entre eles alguns "saneados", que estariam a tentar estabelecer uma estrutura de actuação para fazer face aos SUV's".
•Surge nova onda de boatos sobre golpes e contra-golpes. O jornal A Luta divulga os planos de um hipotético golpe de esquerda.
 

23 de Outubro
•No jornal Soldados em Luta. Jornal dos soldados em luta no RASP, relata-se a prática de disciplina revolucionária dentro do quartel.
•Realiza-se no Rossio uma manifestação unitária cujo lema é "pelo avanço das assembleias populares".
•As Brigadas Revolucionárias, organização armada próxima do PRP, anunciam o seu regresso à clandestinidade.
 

24 de Outubro
•No seguimento de vários atentados bombistas atribuídos à extrema direita ocorridos por todo o país, o COPCON declara o estado de alerta.
•Pires Veloso coloca todas as unidades da Região Militar Norte em alerta para impedir a realização da Assembleia Plenária de Soldados da região Norte.
•Início da greve dos trabalhadores da panificação.
•O recém criado semanário O Retornado, dirigido por Artur Ligne, apela a uma concentração no Rossio, no dia seguinte. (JSC)
 

25 de Outubro
•É publicada a Portaria nº 619/75 do Ministério das Finanças que vem permitir "a livre exportação" de divisas "quando transportadas por viajantes e destinadas a despesas de viagem e turismo" desde que não ultrapassando a quantia anual de 20 000$00.
•Verificam-se mais dois atentados bombistas atribuídos à extrema direita: nas instalações da tipografia do Partido Comunista no Porto e na Casa de Angola em Lisboa.
•A manifestação de retornados terminou com o assalto e destruição da Casa de Angola. No decurso desta acção, reivindicada pelos Comandos Operacionais de Defesa Ocidental (CODECO), foi lançado contra o edifício um automóvel ligeiro em movimento e colocada uma bomba na sede do MPLA em Lisboa. (JSC)
 

26 de Outubro
•Os três movimentos de libertação de Angola recusam-se a formar um Governo de unidade nacional.
 

27 de Outubro
•Milhares de tarjetas do MDLP, assinadas por Alpoim Calvão, são distribuídas por todo o país, incluindo as zonas consideradas de "influência vermelha". Nelas se dizia que se aproximavam o final do comunismo e a hora da libertação, tomando parte na campanha psicológica e mobilização contra as forças da FUR.
 

28 de Outubro
•Melo Antunes desloca-se aos EUA. Gerald Ford oferece novo auxílio económico a Portugal.
•É publicado o D. L. nº597/75 que admite a possibilidade de uma forma excepcional de intervenção rápida do Estado na Empresas, enquanto se preparam a alterações de fundo ao regime legal vigente nesta matéria.
•O Diário de Lisboa vespertino tido como próximo do PCP, divulga uma notícia segundo a qual Spínola havia negociado em Setembro um fundo internacional de 250000 dólares para apoio à preparação de um golpe de estado. A KRUPP e a ITT estariam entre as empresas envolvidas na criação desse fundo.
 

29 de Outubro
•O Século e o Diário de Notícias publicam, na primeira página, um alerta da clandestina Comissão de Vigilância Revolucionária da Força Aérea (CVRFA). Título: «A Força Aérea prepara-se para um outro 11 de Março».
•Manifestações dos SUV’s no Porto e no Entroncamento.
 

30 de Outubro
•Os trabalhadores do jornal O Século impedem a saída do jornal como forma de protesto contra a linha "pró comunista" da direcção.
 

31 de Outubro
•As Comissões de Moradores de Almada, em reunião, repudiam o que apelidam de "avanço das forças de direita" e apoiam a luta dos militares do  CICAP e do RASP (Porto) e dos trabalhadores da Reforma Agrária.
•O MES realiza o seu primeiro comício no Pavilhão dos Desportos em Lisboa.
 

Ainda em Outubro
•Surgem as primeiras emissões  da "Voz dos Açores Livres". (JCS)
•O Radio Clube de Angra difunde pela primeira vez em todos os noticiários os princípios programáticos da FLA. (JSC)
•É criado o "Esquadrão da Noite", organização unitária de auto defesa para lutar contra a FLA. (JSC)
•Diversos membros do círculo de Eanes e do grupo impulsionador do AMI mantêm contactos com as redes de extrema-direita do norte de Portugal. (JSC)
•Panfletos intitulados "Aos portugueses das ex-colónias" são amplamente distribuídos pela região de Viseu. (JSC)
•Em todo o país, são distribuídos milhares de tarjetas do MDLP, assinadas por Alpoim Calvão, em que se apela ao bom povo português para se manter atento e ao dispor do MDLP "pois só o esforço concertado de todos poderá levar à vitória". (JSC)
•Aparecem panfletos de diversas siglas de extrema direita: "União dos Portugueses Anti-Comunistas" (UPAC), "Vanguarda Portuguesa de Libertação" (VPL) e "Associação Armada Revolucionária das Beiras" (AARB). (JSC)