SPÍNOLA NA OTA
(10/6/74)
Força Aérea, aqui representada em todos os escalões e nas pessoas hoje condecoradas.
Não será formal o Presidente da República falar numa cerimónia deste tipo. Efectivamente não vos fala o Presidente da República. Fala-vos o militar, o soldado, o combatente. E nesta hora histórica e crítica que o País vive, reivindico, para além das funções que exerço, a minha qualidade de combatente. Foi, portanto, com viva emoção que ouvi as palavras que antecederam esta cerimónia: e não foi também sem profunda emoção que acabo de condecorar viúvas e filhos de camaradas, e, entre os vivos, os heróis hoje aqui consagrados.
As palavras que ouviram do representante do Movimento das Forças Armadas foram bem elucidativas. As Forças Armadas responderam, na manhã do dia 25 de Abril, aos políticos que as não souberam compreender, e que à sua sombra estavam conduzindo o País à desagregação e ao caos.
Não é altura de recordar o passado, no qual as Forças Armadas foram as grandes vítimas de uma política deficientemente orientada, ou melhor preconcebidamente orientada, no sentido do seu desprestígio, fazendo-as assumir as responsabilidades que não lhes cabiam. Por isso, bem-hajam os jovens oficiais a que se ficou devendo o movimento de 25 de Abril. O movimento que, se por um lado libertou o País, restituindo-lhe a legitimidade do poder político, por outro, veio fazer justiça às Forças Armadas.
Hoje, o País vive uma nova era. Estamos no início da construção dum Portugal novo. A nós, Forças Armadas, compete-nos permanecer vigilantes, atentos, para que o passado não volte e para que jamais alguém tenha a veleidade de novamente nos imolar em benefício de interesses políticos.
Em todos os tempos, nas horas críticas, a Pátria sempre se encontrou naqueles que o povo elegeu como sendo os melhores - os homens de carácter, os valentes, os bravos. Estamos presentemente, empregando todos os nossos esforços para que a paz volte ao Ultramar. Mas estes anos de guerra tiveram um mérito: revelar de entre todos os melhores, sempre tão necessários nos momentos difíceis da vida das pátrias.
Era isto que aqui vos queria dizer, nesta hora confusa, nesta hora mista em que a tradição campeia com o autêntico patriotismo. Nesta hora histórica, hora em que se abrem amplos horizontes a uma vida melhor para a nossa Pátria, mas em que é preciso falar bem claro para que não sejam traídos os legítimos anseios do bom povo português, em que se inspirou o Movimento das Forças Armadas ao longo de treze anos de luta no Ultramar. Longo período em que mais do que a retaguarda, mais do que alguns daqueles que arvoram dísticos e fazem manifestações, elas foram a grande vítima.
É esta a palavra de gratidão que a Pátria deve às Forças Armadas nesta hora, e é esta palavra de gratidão que neste momento, para além do militar, do soldado, do combatente que sou, o Presidente da República aqui vos veio trazer.»