Uma noite agitada

L. A. & Cª no meio da revolução

Cap 9  UMA NOITE AGITADA 
 
 Nessa noite, depois de um jantar em que mal conseguiram disfarçar o nervosismo, a Ana e o Luís deram um beijo de boa-noite à tia Emília e fecharam-se nos quartos a fazer horas. Quando lhes pareceu que ela já devia dormir a bom dormir, deslizaram pelas escadas abaixo sem fazer barulho. Tinham combinado com os gémeos encontrarem-se à entrada do prédio. 
 Quando chegaram deram com os gémeos todos encapuçados e furiosos. 
 - Caramba, já estávamos fartos de esperar! 
 - Porque demoraram tanto? Que atados! 
 - Querias que nós viéssemos com a tia Emília atrás? 
 - Parece que os velhotes dormem menos que as outras pessoas. Nunca mais ia para a cama! 
 - Vimo-nos à rasca para nos escondermos dos vizinhos que entravam. Estamos aqui há horas! 
 - Ih! Que exagero! 
 - Bem, vamos mas é embora, que temos muito que andar - despachou o Luís. - Trouxeram as lanternas? 
 Saíram todos para a rua. Tinham muito que andar porque o Laboratório não ficava em Sacavém, mas numa localidade próxima e, mesmo indo por atalhos, mais directos do que a estrada nacional, demoravam uns bons três quartos de hora. 
 - Brrrrr! Que frio! 
 - Ainda não é a altura do calor, que é que tu querias? 
 - Aquecemos  num instante, se formos ligeiros! 
 - Já viram a Lua? Nem de propósito! 
 Com efeito, no céu, brilhava uma Lua redondíssima. Iam tão excitados pela expectativa que quase corriam. 
 - Tenham calma! - disse o Luís. - Por este andar, daqui a dez minutos, estamos tão cansados que não conseguimos chegar! 
 A Ana quase dançava à frente do grupo. 
 - Apetece-me levantar voo! - disse, à laia de justificação para os pulinhos que ia dando. 
 - Raparigas! - resmungou o Luís. - Devias mas era ter ficado em casa! 
 - Olha o parvo convencido! Sabias que as mulheres têm muito mais resistência que os homens? 
 - Ah, Ah! Deixa-me rir! 
 - É verdade, sim senhora! Pergunta ao pai, que ele diz-te!  
 E a Ana, muito excitada, continuava a ensaiar passos de dança na frente do irmão, para o irritar. 
 - Ai foi o teu pai que te disse isso? Admira-me como não foi na Enciclopédia que descobriste tal coisa, ó pulguinha  sabichona! 
 - Tens muita gracinha, meu menino! Que faziam vocês, seus espargos de lata, sem a minha sabedoria? - respondeu a Ana, furiosa. 
 - Vá, parem com isso! - apaziguou o Luís. - Estamos mas é nervosos com esta aventura ! 
 - E fazíamos melhor em combinarmos o que vamos fazer quando chegarmos! 
 - É verdade, acabamos por não decidir nada! 
 - A mim parece-me que avançar o muro não é difícil. Vim cá com o meu pai e reparei que há um sítio em que a vedação de arame foi deitada abaixo - disse o Luís. 
 - E podemos esconder-nos nos arbustos ao pé do parque de estacionamento. Ficam logo ao pé do edifício do reactor - completou a Ana. 
 - Vocês acham que eles conhecem as dependências do Laboratório? 
 -  O teu pai não disse que eles já lá tinham ido falar?! 

 

Tinham chegado junto do muro que contornava as diversas secções do Laboratório.  
 Dentro havia vários pavilhões, cada um com a sua função específica: havia o pavilhão de Física, o de Química, as Instalações Piloto, uma oficina e até um pequeno pavilhão para a Administração. Havia ainda uma casinha minúscula, na portaria, com um vigia e um guarda armado até aos dentes. Mas o edifício mais importante era sem dúvida o que albergava o reactor nuclear.
  Os quatro, durante as férias, gostavam de acompanhar o Dr. Barroso nas suas idas ao Laboratório e tinham admirado a maravilhosa luz azul que se desprendia dos blocos de urânio colocados no fundo do tanque cheio de água e os gabinetes, com paredes de vidro. O Dr. Barroso trabalhava aí, num magnífico computador que ocupava uma parede inteira, cheio de botões, tomadas e luzinhas faiscantes. 
 - Vamos a isto! - sussurrou o Luís. 
 - É melhor apagarmos as lanternas, à cautela - disse um dos gémeos. 
 Tinham contornado o muro na direcção do tal buraco na vedação. Foi-lhes fácil, pondo um pé aqui, outro ali, subir o muro e deixarem-se escorregar para o lado de dentro. Os gémeos ainda tentaram ajudar a  Ana, mas ela, ofendidíssima, recusou qualquer tipo de ajuda. Era ágil como um gatinho pequeno, e o treino adquirido nas aulas de Ginástica vinha mesmo a calhar para aquela situação. 
 Deslizaram os quatro, com o coração aos saltos, até ao edifício do reactor. Ao pé havia uma zona de arbustos muito densos onde podiam esconder-se com segurança. 
 - Ficamos aqui! 
 - Ok.! Parece-me que aqui estamos bem! 
 - Que calor! 
 - Estou a transpirar de nervoso! 
 - Que chatos! Não façam barulho! 
 - E se o soldado resolve vir passear? 
 - Alguém consegue ver as horas? 
 Mas era difícil, mesmo com a Lua Cheia, ver fosse o que fosse, porque a vegetação tapava tudo.  
 Não tiveram que esperar muito. De repente, ouviram à entrada da cerca, o ruído de um motor que abrandava e voltava logo a acelerar na direcção deles. O coração ameaçava saltar-lhes do peito.

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